Falta de dignidade, não obrigado!

É lamentável como o argumento “crise” faz com que as pessoas se tenham de subjugar a condições precárias de trabalho. O medo que se instaurou conduz as pessoas a uma acentuada condição de escravatura dos tempos modernos.

Ontem a ver os funcionários dos tribunais a carregar processos, cadeiras, e tudo mais… dá que pensar. Se o ministério acha que tem de instalar os funcionários noutros locais, contrata empresas de mudanças que carregam as coisas de um lado para o outro e não obriga as pessoas a vestirem a roupa da faxina e responsabilizarem-se por processos que voam no caminho e documentação confidencial que fica à solta no meio da rua! Algumas coisas não devem acontecer… esta é uma delas.

Não me interpretem mal, não é uma ofensa limpar ou arrumar coisas (quando é uma questão de brio), mas se vou mudar de casa não vou estar à espera que os senhores da mudança cheguem e me vão arrumar a roupa numa malinha ou as loiças, chegam e transportam tudo o que já está devidamente arrumado e identificado, ponto final. Ali a lógica deveria ser a mesma…com a agravante são documentos confidenciais, não deviam andar à solta de um lado para o outro.

Se era para fazer isto, deviam ter avisado as pessoas, para primeiro arrumarem os processos como deve de ser, com o rigor e cuidado que necessitam. Sairiam selados de um lado para o outro, protegendo assim a informação.

Ainda esperam que pessoas que estão agora a trabalhar a quilómetros de distancia do ponto de origem, se concentrem em condições no rigoroso trabalho que têm de fazer. Acabaram de ficar com a vida familiar virada do avesso, com despesas que não estavam a contar e com condições de trabalho precárias…

Depois temos o lado B da crise: quem tem dinheiro ou gere grande negócios, enriquece ainda mais com o argumento que não consegue pagar mais, que é preciso reduzir salários, valores de produção e assim encaixam ainda mais nos seus cofres. É uma questão de justiça, um salário tem de ter um valor justo e não ridicularizar a função, a formação e a dignidade das pessoas. Assim como a produção, a qualidade tem um preço!

Dá-se uma palmadinha nas costas “agradece por teres trabalho”, “senão queres fazer assim há quem faça”…e por ai fora. Argumentos lamentáveis, ultrajantes, humilhantes… não importa a história da pessoa, o seu empenho, a sua formação e todo o resto que faz um bom colaborador. O que importa é mantê-lo ali, de rédea curta, com medo de deixar os filhos sem comida na mesa ou as contas do banco por pagar. Já estão a fazer um favor “humanitário” em dar-te emprego, por isso não sejas ingrato!

Que sociedade esta que estamos a criar!!! Que se espera do futuro assim?

Sacrifícios são sempre necessários, em más e boas condições mas não à custa da dignidade humana! Não aceito isso, e não compreendo.

Ninguém faz favor a ninguém dando emprego, se isso acontece é porque existe uma necessidade de ambas as partes, favores é ir buscar o pão à vizinha e não dar emprego!!! As pessoas não são moedas de troca como as sacas de batatas! Não são mercadoria.

Os princípios estão todos trocados. Num país onde é mais importante condenar a anos infinitos um banqueiro (e não digo que não mereça, mas que nunca irá acontecer) do que um homicida ou um violador… ai se vê, a importância das pessoas. O dinheiro sempre acima da vida. Quando é que isto se irá inverter?