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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2017

Os homens são uma embalagem

Uma linda peça de louça Vista Alegre que apetece ter em casa. De valor. Mas em algum momento, por sorte rápido, o efeito máquina de lavar dá-se. O prato está cheio de rachas. Tem pouco brilho. É defeituoso, p'loamordossantinhos. Assim são eles. Aparentemente seguros, decididos, em controlo da onda, ponderados, com abraço protector, um sorriso meigo, uma narrativa extraordinária. O mito urbano. Não passam disso. Uma fachada. Trazem não só bagagem, mas toda uma autocaravana emocional, assente em fragilidade, imaturidade, falta de discernimento, e medos vários. Trazem esta encomenda toda com promoção 2 em 1 com todas demais vicissitudes da vida (exs, pais, filhos, carreiras, crises de meia idade – ou crises de uma idade qualquer que lhes assente bem) com as quais não têm capacidade alguma de lidar. Sempre em fuga. E arrogam-se a ser Vista Alegre edição limitada. Imprescindíveis ao sexo feminino que lhes cai aos pés que nem tordos incapazes de resistir a tamanho encanto.

Homens pendentes

Gostam de passear entre comboios. Fazer várias linhas. Querem parar numa estação.  Agrada-lhes a ideia de sair e fazer umas visita. Arriscar a descobrir e explorar uma zona nova.  Dar-se ao luxo do passeio e das surpresas que possam advir.  Mas assim que o comboio se aproxima da estação ficam imóveis, não se levantam, e o comboio volta a arrancar. A viagem não cessa mas não há maneira de esbaterem a inércia que os impede de saltar entre portas e correr em direcção ao risco. Gostam do suave embalar do pêndulo, ora mais ritmado e desafiante, ora mais espaçado e sem grande exigência. Mas mantém-se em andamento. Não abandonam os carris. Ouve-se o barulho a atravessar as cidades. Mas de quem lá vai dentro,  nem um fragmento de visibilidade. E chega o dia em que o comboio é encostado – renovaram-se as composições. Faz-se o balanço positivo e bem sucedido de todas as viagens que chegaram a bom porto, e o conforto de todas as pessoas que por lá passaram uma, duas vezes, a vida int

Uma casa vazia

Do lado de fora da porta, tudo igual. O mesmo tapete encostado no lancil da entrada, a porta maciça firme e sólida como sempre. Do outro lado um inexplicável vazio. Como é difícil entrar num dos espaços mais preenchidos da nossa memória, que agora se encontra vazio. São coisas, são objetos, a matéria, a pessoa que lá vivia não existe, por isso não faz sentido manter. Não nos pertence, nada do que ali está é nosso. É um ato de coragem, entrar. E entra-se. Entrei. Os espaços parecem incrivelmente mais pequenos, não devia ser o inverso? Ou é porque a alma mirrou no vazio? Ou é pelo eco das paredes? Não sei. Parece-me tudo muito mais pequeno, agora que o espaço está vazio, e antes atafulhado de tralha. Não sobrou nada, nem luz. Sobrou apenas o que não se conseguiu arrancar das paredes. Ainda se sente o cheiro da vida que ali vivemos, mas pouco. Nada daquilo faz sentido. Destemida e brava guerreira, é assim que eu acho que sou, mas não ali. Não naquelas circunstâncias. Caiu-me

Remar contra a corrente

Brincar com os sentimentos das pessoas, não é bonito e não se faz. É mais ou menos uma verdade universal, ou pelo menos, assim achei que seria. Sempre aconteceu e vá, uma vez por outra todos nós cometemos esta falha com alguém, uns sem intenção outros por puro egoísmo. Claro que sim, é normal. A imperfeição acompanha-nos como a perfeição, o que escolhemos fazer com elas é que nos distingue. Esta coisa da sociedade em que vivemos, que nos permite estar próximos e mais ligados do que nunca, parece que ao mesmo tempo nos torna descartáveis. Acabamos por estar ao mesmo nível da Telepizza (que presta um belíssimo serviço, entenda-se), onde escolhemos por catálogo: o que queremos comer, a junção perfeita de ingredientes, o contexto/ massa, o local de entrega, hora e como vamos pagar. É basicamente o que vai acontecendo com a interação humana.  Os relacionamentos de comprometimento ou empenho são coisas medievais ou mesmo jurássicas, e os dinossauros já saíram de cena há muit

38 anos, 8 meses e 5 dias.

2 de Maio nunca mais será igual. Pensei e pensei se haveria de voltar a escrever sobre este tema, agora nesta altura do ano tão importante para mim, e lá vou eu de novo. É difícil celebrar o meu aniversário e ter esta constatação de realidade, a minha avó não está cá. Não está cá, não porque está doente ou porque se ausentou mas porque morreu. A vida chegou-lhe ao fim, e isto tudo é o resumo de uma vida em conjunto, que terminou no dia 7 de Janeiro 2017. Não vai estar nos meus aniversários, não me vai telefonar, não vamos às compras, não vai estar nem na casa dela, nem na minha, nem na nossa, não vai estar nos natais, no meu casamento, em lado nenhum. Não vai estar. Chama-se a isto: aprender a viver, tudo de novo, sem ti avó. Dia após dias, nestes anos todos da minha vida, foste presença certa. É simpático o que dizem as pessoas: tiveste sorte, com uma avó tanto tempo. É verdade, bem sei que sim. Sou grata por isso e sei que foi um privilégio único e que poucos têm. Qu