Avançar para o conteúdo principal

Homens pendentes


Gostam de passear entre comboios. Fazer várias linhas. Querem parar numa estação. 
Agrada-lhes a ideia de sair e fazer umas visita. Arriscar a descobrir e explorar uma zona nova.  Dar-se ao luxo do passeio e das surpresas que possam advir. 

Mas assim que o comboio se aproxima da estação ficam imóveis, não se levantam, e o comboio volta a arrancar. A viagem não cessa mas não há maneira de esbaterem a inércia que os impede de saltar entre portas e correr em direcção ao risco. Gostam do suave embalar do pêndulo, ora mais ritmado e desafiante, ora mais espaçado e sem grande exigência. Mas mantém-se em andamento. Não abandonam os carris. Ouve-se o barulho a atravessar as cidades. Mas de quem lá vai dentro,  nem um fragmento de visibilidade.

E chega o dia em que o comboio é encostado – renovaram-se as composições. Faz-se o balanço positivo e bem sucedido de todas as viagens que chegaram a bom porto, e o conforto de todas as pessoas que por lá passaram uma, duas vezes, a vida inteira…e não ficaram. Nunca ficam, são apenas passageiros, estão todos de passagem. Mesmo quando se deseja muito que fiquem, o ideal é continuar, porque parar é morrer. No dia em que se pára para sempre, resta o quê? As memórias? Bons momentos? Montanhas de nomes e caras que não se recordam? E um vazio do caraças…

Senão há entrega não há retorno. Os milagres estão escassos e não costumam acontecer para quem não acredita. E é tão divertida a exploração porta a porta, e de cama em cama… não nos obriga a nada, não nos vincula a nada, deixa-nos com…nada. E o amor, fica onde? Fica na gare. Se passamos a vida a fugir dele, ele não virá, ou pior…corremos o risco que ele chegue efetivamente, mas como estamos tão concentrados em fugir, perdemo-lo por desleixe e medo. Só nos vamos aperceber disso quando estivemos encostados à box a pensar em tudo o que deixarmos escapar. E ai, é tarde. 


Texto escrito a duas mãos: Mónica Pinheiro & Sofia Cortez

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não devemos voltar a onde já fomos felizes

Hoje acordei com esta expressão na minha cabeça: “não devemos voltar a onde já fomos felizes”. Sempre que penso nisto, e cada vez mais me convenço, que está completamente errada. Na prática, acho que a expressão tem a ver com pessoas e não com lugares. Não voltarmos a onde já fomos felizes, ou seja, não voltar para determinada pessoa. O local acaba por vir por acréscimo, já que as memórias não ficam dissociadas de situações, locais ou pessoas. Mas é sempre por aquela pessoa específica, que não devemos voltar atrás e não pelos  momentos felizes que se viveram naquela praia ou no sopé daquela montanha. É o requentado que não funciona… ou não costuma funcionar. Acredito que para algumas pessoas dê resultado, mas de uma forma geral, estar sempre a tentar recompor uma situação que não tem concerto, não tem mesmo solução! Mesmo quando existe muito boa vontade e uma boa dose de amor. Voltando aos locais, que é isso que me importa. A história reescreve-se as vezes que forem...

Família com F maiúsculo

Quis o destino ou as coincidências, para os mais céticos, que os meus pais fizessem anos em dias seguidos. O meu pai a 18 de Dezembro e a minha mãe a 19 de Dezembro, no fim do Outono em anos diferentes. O mesmo mês, a mesma altura do ano, quase os mesmos dias, o mesmo signo. Tantas conjugações o que os torna diferentes mas ao mesmo tempo muito parecidos. São como o próprio Sagitário, fogo do fogo em dobro, muito em tudo e muito pouco em quase nada o que faz com que sejam ambos personalidades marcantes e pessoas inesquecíveis. Não digo isso porque são os meus pais (mesmo que não seja isenta), as pessoas que os conhecem podem atestar. Cada um com as suas singularidades, com as suas características, únicos em si e por si mesmos como equipa. Foram dois que passaram a quatro e que agora já são seis, cresceram a multiplicaram-se. Como estamos em época natalícia e em comemoração dos respetivos aniversários e os parabéns e felicidades estão sempre subjacentes, quis que hoje a minha fe...

Guns N Roses - Alvalade 2 Julho 1992

O concerto que não aconteceu porque eu não fui. É de todos os que não fui, aquele que mais me marcou, por uma série de acontecimentos. Queria mesmo ter ido! Foi o apogeu do Axl Rose, como se comprovou mais tarde… nunca mais voltou a ser o mesmo, aliás os Guns tornaram-se uma bandalheira que ficou presa naquele tempo. Não conseguiram cimentar o percurso musical para além daquele período histórico. Adiante… 1992 foi o ano do cão para toda a nossa família, começou com o desfecho tenebroso em 1991 com os AVC’s do meu avô e com o morte dele em Março. Depois disso piorou com a crise de apêndice da minha irmã, que era supostamente uma coisa simples para uma operação de meia hora e demorou 3h! Ainda por cima a minha irmã estava a começar a época de exames de acesso à universidade, o último ano da PGA. Digamos que 1992, foi o ano dos anos… O concerto só seria em Julho, a minha irmã já estaria boa e íamos com a minha prima e outra amiga. Como filha mais nova, não poderia ir sozi...