Avançar para o conteúdo principal

Remar contra a corrente

Brincar com os sentimentos das pessoas, não é bonito e não se faz.
É mais ou menos uma verdade universal, ou pelo menos, assim achei que seria.
Sempre aconteceu e vá, uma vez por outra todos nós cometemos esta falha com alguém, uns sem intenção outros por puro egoísmo.

Claro que sim, é normal. A imperfeição acompanha-nos como a perfeição, o que escolhemos fazer com elas é que nos distingue.

Esta coisa da sociedade em que vivemos, que nos permite estar próximos e mais ligados do que nunca, parece que ao mesmo tempo nos torna descartáveis. Acabamos por estar ao mesmo nível da Telepizza (que presta um belíssimo serviço, entenda-se), onde escolhemos por catálogo: o que queremos comer, a junção perfeita de ingredientes, o contexto/ massa, o local de entrega, hora e como vamos pagar. É basicamente o que vai acontecendo com a interação humana. 

Os relacionamentos de comprometimento ou empenho são coisas medievais ou mesmo jurássicas, e os dinossauros já saíram de cena há muito tempo, nós somos modernos!!! Por isso, mando vir o disponível no cardápio do facebook, Messenger, tinder, whatsapp… ou de outra qualquer app do meu telemóvel e aguarda-se pela  entrega. Depois quando terminar, deita-se fora a caixa (de preferência num contentor reciclável, não vá ser necessário repescar e porque no fundo somos todos amigos do ambiente) e começamos logo a pensar na próxima encomenda, sem remorsos ou constrangimentos. Siga. Eu sou o produto do meu tempo, vivo de acordo com a realidade que existe. Perfeito! Em Roma sê Romano, se é assim que se faz, se é assim que se vive…é assim que eu faço. Uma desgraça, para quem gosta de remar contra a corrente e evita seguir a carneirada. Está lixado…com f.

Como não nos deixamos envolver, não brincamos com os sentimentos dos outros, nem os outros com os nossos. Tão bonito. O primeiro a cair na armadilha de se deixar envolver e ousar gostar da outra pessoa ou até amá-la, está a meter-se a jeito para cair num caixote não reciclado! Que ousadia, vê-se mesmo que não sabe as regras. Amar-te, querer-te, desejar-te, ter-te perto, cuidar… mais vale ir já buscar os alhos para pôr à volta do pescoço antes que este vampiro me sugue a alma ou qualquer coisa que me faça falta. Fico uns dias em casa com as luzes apagadas e o wifi off para ver se ele se esquece que existo. 

Não só não brincamos com os sentimentos dos outros, como reprimimos os nossos. O mundo é tão mais perfeito assim, cheio de histórias mal arrumadas e pouco profundas. Deve dar seguramente menos trabalho, mas é garantidamente uma merda. 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não devemos voltar a onde já fomos felizes

Hoje acordei com esta expressão na minha cabeça: “não devemos voltar a onde já fomos felizes”. Sempre que penso nisto, e cada vez mais me convenço, que está completamente errada. Na prática, acho que a expressão tem a ver com pessoas e não com lugares. Não voltarmos a onde já fomos felizes, ou seja, não voltar para determinada pessoa. O local acaba por vir por acréscimo, já que as memórias não ficam dissociadas de situações, locais ou pessoas. Mas é sempre por aquela pessoa específica, que não devemos voltar atrás e não pelos  momentos felizes que se viveram naquela praia ou no sopé daquela montanha. É o requentado que não funciona… ou não costuma funcionar. Acredito que para algumas pessoas dê resultado, mas de uma forma geral, estar sempre a tentar recompor uma situação que não tem concerto, não tem mesmo solução! Mesmo quando existe muito boa vontade e uma boa dose de amor. Voltando aos locais, que é isso que me importa. A história reescreve-se as vezes que forem...

Família com F maiúsculo

Quis o destino ou as coincidências, para os mais céticos, que os meus pais fizessem anos em dias seguidos. O meu pai a 18 de Dezembro e a minha mãe a 19 de Dezembro, no fim do Outono em anos diferentes. O mesmo mês, a mesma altura do ano, quase os mesmos dias, o mesmo signo. Tantas conjugações o que os torna diferentes mas ao mesmo tempo muito parecidos. São como o próprio Sagitário, fogo do fogo em dobro, muito em tudo e muito pouco em quase nada o que faz com que sejam ambos personalidades marcantes e pessoas inesquecíveis. Não digo isso porque são os meus pais (mesmo que não seja isenta), as pessoas que os conhecem podem atestar. Cada um com as suas singularidades, com as suas características, únicos em si e por si mesmos como equipa. Foram dois que passaram a quatro e que agora já são seis, cresceram a multiplicaram-se. Como estamos em época natalícia e em comemoração dos respetivos aniversários e os parabéns e felicidades estão sempre subjacentes, quis que hoje a minha fe...

Guns N Roses - Alvalade 2 Julho 1992

O concerto que não aconteceu porque eu não fui. É de todos os que não fui, aquele que mais me marcou, por uma série de acontecimentos. Queria mesmo ter ido! Foi o apogeu do Axl Rose, como se comprovou mais tarde… nunca mais voltou a ser o mesmo, aliás os Guns tornaram-se uma bandalheira que ficou presa naquele tempo. Não conseguiram cimentar o percurso musical para além daquele período histórico. Adiante… 1992 foi o ano do cão para toda a nossa família, começou com o desfecho tenebroso em 1991 com os AVC’s do meu avô e com o morte dele em Março. Depois disso piorou com a crise de apêndice da minha irmã, que era supostamente uma coisa simples para uma operação de meia hora e demorou 3h! Ainda por cima a minha irmã estava a começar a época de exames de acesso à universidade, o último ano da PGA. Digamos que 1992, foi o ano dos anos… O concerto só seria em Julho, a minha irmã já estaria boa e íamos com a minha prima e outra amiga. Como filha mais nova, não poderia ir sozi...