Avançar para o conteúdo principal

A Gratificação

E não é assim que tudo deveria ser?

Passamos a vida em busca de um qualquer ideal e esquecemos a simplicidade das coisas que aparecem sem verdadeiramente procurarmos por elas. Sempre que nos obrigamos ou esforçamos em excesso, estamos de certa maneira, a contrariar a nossa própria natureza. Umas vezes tem mesmo de ser, quando a indolência toma conta da ocorrência sem justificação aparente, e ai é vital reverter a situação para nosso bem. Fora estas situações, é verdade que sempre que procuramos em demasia ou forçamos para que alguma coisa aconteça, estamos a controlar coisas que nem sempre devemos ou que estão ao nosso alcance.

A necessidade de controlo é boa quando precisamos ter organização, planeamento e estrutura e mesmo assim temos de deixar uma margem para qualquer ocorrência inesperada, porque acontecessem quase sempre, como maior ou menor escala e não são nenhuma desgraça.

A vida deve fluir naturalmente é isso que nos deixa maravilhados quando chega a primavera. O inverno obriga a natureza a recolher-se para se regenerar e eis que chega a primavera e os animais começam a sair das tocas e as plantas recomeçam a ganhar vida, isto acontece simplesmente porque a natureza respeita o seu ciclo e os momentos. O ser humano perdeu essa capacidade, como se não fizesse parte da natureza também! Acha que define o seu próprio ritmo de vida.

Se vivermos mais cientes desta cadência natural, talvez ainda seja possível recuperar alguma pureza e emoção nas pequenas coisas. O encontrar sem procurar ou o amar sem sofregamente desejar muito ou esforçar-se para isso.

Precisamos deixar que nos encontrem e precisamos de deixar de procurar o quer que seja como se a nossa vida dependesse disso! É quase sempre no dia ou no momento em que entregamos, em que depositamos fé e esperança no que se seguirá, que desbloqueamos o que nos está reservados. Soltamos as rédeas do cavalo e ele volta ser livre, como sempre foi e em respeito absoluto pela sua natureza.

Há uns tempos vi um documentário sobre os cavalos selvagens nas pampas do Chile e que são apanhados para serem domesticas, o que não é tarefa fácil. Os cavalos são animais fabulosos e ali no seu habitat natural ainda mais. Eles correm e lutam para não serem capturados e depois disso lutam para não serem domesticados. O processo é lento e mesmo depois de aparentemente estarem domesticados, vê-se no olhar do cavalo que continua livre como sempre foi. Confesso que chorei ao ver aquelas imagens e achei muito cruel subjugar a energia possante daquele animal a uma vontade que não é a dele e para quê? Para torna-lo utilitário ou simplesmente para demonstrar que se consegue domesticá-lo? De certa maneira senti-me como o cavalo selvagem que foi capturado e domesticado, por isso, sempre que consigo evitar algum controlo na minha vida, que me é natural, faço-o. É libertador, regresso ao que sempre fui, cada vez que isto acontece.

Há que deixar a natureza e o tempo fazerem a sua magia, sem esforço ou batotas. Às vezes parece que nos deixamos entregues a uma sorte malvada qualquer, havemos sempre de sentir algum receio nesta entrega. Não estamos “programados” para deixar as coisas acontecerem, dizem-nos repetidamente que temos de fazer acontecer, e nós já estamos a fazer acontecer quando abrimos a porta para as possibilidades que não controlamos, que não manipulamos, que não construímos e que simplesmente sabemos que chegarão porque afinal de contas, sabemos que as coisas mais especiais encontramos sem procurar e amamos sem nos esforçarmos para isso.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não devemos voltar a onde já fomos felizes

Hoje acordei com esta expressão na minha cabeça: “não devemos voltar a onde já fomos felizes”. Sempre que penso nisto, e cada vez mais me convenço, que está completamente errada. Na prática, acho que a expressão tem a ver com pessoas e não com lugares. Não voltarmos a onde já fomos felizes, ou seja, não voltar para determinada pessoa. O local acaba por vir por acréscimo, já que as memórias não ficam dissociadas de situações, locais ou pessoas. Mas é sempre por aquela pessoa específica, que não devemos voltar atrás e não pelos  momentos felizes que se viveram naquela praia ou no sopé daquela montanha. É o requentado que não funciona… ou não costuma funcionar. Acredito que para algumas pessoas dê resultado, mas de uma forma geral, estar sempre a tentar recompor uma situação que não tem concerto, não tem mesmo solução! Mesmo quando existe muito boa vontade e uma boa dose de amor. Voltando aos locais, que é isso que me importa. A história reescreve-se as vezes que forem pre

Nirvana no dramático de Cascais

Apropriado para esta semana, em que fui ver o documentário sobre a vida do Kurt Cobain.  Fiquei a entender porque se apresentou em Cascais completamento apático. O concerto aconteceu a 6 de Fevereiro 1994 e o Kurt cometeu suicídio a 5 de Abril do mesmo ano. Não devia estar no auge do contentamento... No palco esteve apenas para fazer o que lhe competia com nenhuma interacção com o público. Apenas cantou e tocou, sem dirigir uma única palavra ao público presente. Na altura achei aquilo demais, e fez-me gostar menos de todo o concerto. Só que eram os Nirvana e a eles tudo se perdoa. Recordo do meu pai me dizer: "olha aquele tipo que foste ver no outro dia, morreu. Estava a dar nas noticias." Acho que nem fiquei surpreendida, talvez suspeitasse que seria o desfecho lógico.  Sempre achei que o Kurt Cobain era um homem denso, profundo e melancólico e comprovou-se com o documentário.  Não iria dar para viver mais do que foi. A vida não foi fácil para o Kurt, um tipo se

Guns N Roses - Alvalade 2 Julho 1992

O concerto que não aconteceu porque eu não fui. É de todos os que não fui, aquele que mais me marcou, por uma série de acontecimentos. Queria mesmo ter ido! Foi o apogeu do Axl Rose, como se comprovou mais tarde… nunca mais voltou a ser o mesmo, aliás os Guns tornaram-se uma bandalheira que ficou presa naquele tempo. Não conseguiram cimentar o percurso musical para além daquele período histórico. Adiante… 1992 foi o ano do cão para toda a nossa família, começou com o desfecho tenebroso em 1991 com os AVC’s do meu avô e com o morte dele em Março. Depois disso piorou com a crise de apêndice da minha irmã, que era supostamente uma coisa simples para uma operação de meia hora e demorou 3h! Ainda por cima a minha irmã estava a começar a época de exames de acesso à universidade, o último ano da PGA. Digamos que 1992, foi o ano dos anos… O concerto só seria em Julho, a minha irmã já estaria boa e íamos com a minha prima e outra amiga. Como filha mais nova, não poderia ir sozi