Tenho sérias dúvidas que vá ficar tudo bem.
Não sei qual é o propósito maior disto tudo o que estamos a viver, sei apenas do ponto de vista prático, as pessoas parecem desnorteadas. E não só porque efetivamente os dias estão estranhos e tivemos de ficar em prisão domiciliária. As pessoas sentem-se mais vulneráveis com medo de ficar doentes ou de transmitirem o vírus de um lado para outro, de perder o emprego, rendimento, de não saber como as crianças irão voltar à escola e por ai fora… não obstante tudo isto, que já não é pouco, temos as duas fações que entram em choque nas redes sociais e um pouco por todo o lado: os que acham que somos todos uns totós instrumentalizados pelo estado e sabe-se lá mais o quê e que o vírus não passa de um engodo e os outros que não saem de casa sem se passar por álcool dos pés à cabeça e que esticam uma fita métrica para garantir que cumprem os dois metros até com a família. Enfim, bem sei que não é fácil e que tudo isto que estamos a viver é novo para toda a gente.
Por outro lado, não perdemos a capacidade de pensar. Podemos ter ficado mais gordos e com os ossos mais perros mas o cérebro continua operacional para raciocinar, por isso parece-me que o desafio neste momento, também passa por saber usar a cabeça. Nada de novo, existirão sempre opiniões contrárias, mentiras, fake news, meias verdades, meias mentiras, experiências pessoais, experiências universais, estudos e um infindável número de sítios onde podemos ir buscar a informação necessária para formular uma ideia ou uma opinião, essencialmente a forma sadia de se procurar informação.
As redes sociais parecem ter ocupado o espaço informativo por completo, nem tudo é bom por lá e nem tudo é mau. Seria muito melhor se as pessoas tivessem a capacidade de fazer uma triagem na informação que por lá se partilha como verdade absoluta e não as usassem para destilar veneno e um vasto rol de frustrações pessoais. Também sei que muitas pessoas têm dificuldade em interpretar o que leem e que o fazem quase sempre do seu ponto de vista, sem terem a capacidade de se pôr no lugar do outro ou ter a curiosidade de perguntar ou pensar: O que será que querem dizer? - Antes de começarem a soltar farpas por todo o lado!
O vírus veio pôr isto tudo diante dos nossos olhos. As pessoas não se tornaram mais tolerantes, estão cada vez mais centradas em si próprias sejam elas crentes na verdade ou na mentira do vírus. Ambos os lados gritam: Abram os olhos! E o que fazem eles? Fecham-se sobre a sua perspetiva e cospem fogo para cima dos que não escolhem nem um lado nem outro, estão apenas a fazer navegação à vista… porque também não estão assim tão certos que o vírus seja falso e não estão assim tão seguros que seja preciso tanto medo ou histeria.
No fundo, todos queremos o mesmo: um mundo melhor. Uns impõem-no de uma maneira e outros de outra. Ou pela força das ações ou pela força da delicadeza disfarçada. Só vai ficar tudo bem, se cada um de nós usar a cabeça para pensar e agir em conformidade. É difícil ter clareza de pensamento se nos deixarmos mergulhar no medo, ódio, rancor e também é fácil falar, e estar para aqui a “tirar postas de pescada” se não se está no limbo de perder o emprego, rendimento ou ficar sem casa… Na realidade, estamos todos no mesmo barco se pensarmos que qualquer pessoa pode apanhar isto e morrer, como aliás em qualquer outra doença. Vamos lá aprender a respeitar opiniões e o espaço dos outros antes de considerarmos que a nossa realidade é lei.
Photo by Lina Trochez on Unsplash
Banda sonora para o post: Vampire Weekend - Diane Young
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=oG6lTQNW04I
- Gostei do teu post. Respeitar os outros sim essa é que é (deveria ser) a lei.
Bem hajas Sofia.
Parece que está complicado para algumas pessoas fazer isso... ai este ano que nunca mais acaba! Espero que estejas bem :) beijinhos
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