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O dia da memória - a neta da Dona Rosa

Sofrer é sempre opcional mesmo quando se trata de saudades. 

Faz-se o que todas as recomendações aconselham: lembrar as memórias felizes e os momentos especiais. Assim estarei sempre a celebrar e a honrar a vida da minha avó, pelas recordações contributivas que temos em comum. É uma forma de lidar com esta ausência.

O tempo devia ajudar. Tem dias que parece que sim e outros que parece que não. Assusta-me que o tempo apague memórias, vivências, a estrutura das mãos dela, a cor do cabelo, as rugas da cara ou os cheiros. Já que os espaços físicos vão mudando, uns perderam-se para sempre e os objetos nem sempre conseguem ajudar na reconstrução de alguns puzzles da memória, o tempo poderia ser mais clemente!

Fazer o quê?

Não me incomodam os cemitérios, apenas as campas abandonadas. Isso sim, o fim do fim, as pessoas partiram todas e as memórias com elas. Ficam as campas a pairar num abandono compreensível, mas mesmo assim, triste de se ver. 

Ontem, como em 2017 esteve sol com frio. Ontem como em 2017, senti saudades infinitas da minha avó. 

Eu com 4 anos (ou menos que isso) de mão dada com a minha avó na paragem, na rua Casal Ribeiro, à espera que o autocarro nos levasse para casa. Onde as rosas santa teresinha esperavam por nós, junto ao portão, com um intenso perfume, que ainda hoje é o que mais gosto. O cheiro das rosas santa teresinha que lhe deixei ontem, levaram-me até lá. 



Foto de Elizabeth Villalta na Unsplash

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