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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2016

Vazio

Perdi a noção do tempo. Não sei o que fiz hoje, ontem e esta semana.  Não sei quando te vi pela última vez. Não me lembro quando andei pela última vez de bicicleta. Não me recordo dos teus contornos ou cheiro.  Vivo os dias fora do tempo. Estou sempre um passo à frente. Desfasada da realidade e dos dias presentes. Não vivo no mesmo espaço temporal do resto da humanidade. O meu calendário segue um ritmo próprio. Alguns dias não se perdem irremediavelmente, repetem-se até funcionarem.  Dentro disto tudo, dão-se r eencontros com espaçamentos de vários anos que parecem que foram ontem. Vozes que nunca se esquecem. Viagens e momentos que se revivem vezes sem conta, não por saudosismo mas pela alegria contagiosa de felicidade. Sentimentos que não se esgotam. Ainda assim somam-se vazios. Perdem-se lembranças. Relativizam-se importâncias. Instauram-se buscas aos desaparecidos, mortos e vivos. Já ninguém sabe como é simples querer bem. Os espaços ficam ocos, vazios.

Nota

As coisas que ficam por dizer. Treinam-se vezes sem conta, para que nada falhe, quando chegar hora H. Acho que passei a ideia errada, por defesa ou incapacidade minha. Acho que passo sempre essa ideia. No fundo quero sempre mais do que demonstro e ninguém tem de ter uma bola de cristal para adivinhar o que quero, se não disser. Falha minha, eu sei. Não sou desapegada ou desligada das pessoas, especialmente das pessoas de quem gosto. Se percebo que não tenho retorno, guardo isso tudo para mim e mantenho o distanciamento, para camuflar o apego que sinto. Também sei que posso disfarçar tudo isto muito bem, ao ponto de acreditar que é verdade, que sou fria e distante, o que não é verdade. Sou tímida e mais sensível do que demonstro, desapegada e distante não, apenas disfarço para tentar não me lixar toda. É uma espécie de armadura. Para que conste, apeteceu-me beijar-te. Apetece-me sempre, mas não tive coragem. Uma vontade imensa. Achei tinha de ser assim para manter o que est

Complexo de inferioridade

Inevitavelmente, mesmo sem procurar um dia chega. Ou porque estamos mais vulneráveis, ou porque a vida nos corre mal, ou porque achamos que existe uma cabala contra nós (de todo o universo ou de algumas pessoas em particular), ou porque nos fazem sentir assim, ou porque não acertamos, ou porque estamos tristes, ou porque ficamos doentes, ou porque achamos que a vida dos outros é mais fácil que a nossa, ou porque não confiamos em nós próprios…e por ai fora. Há uma sensação de incompetência latente, de fracasso que se resume nisto: somos um fiasco. Não nos destacamos em nada, não reconhecemos valor em nada do que fazemos ou no que sabemos. É reduzir a existência a uma sombra, que não deixa marca e que quase não se vê. No momento em que nos tornamos invisíveis deixamos de existir. E é assim que o resto do mundo nos vai ver, porque é assim que nos sentimos: desvalorizados e depreciados. Os estados que incorporamos na vida, são todos sem exceção provisórios. Vamos ter o dia em

Voar

Enquanto uns dormem, outros partem à aventura... Não sabem para onde vão ou o que vão fazer, só sabem que vão! Sozinhos ou acompanhados, partem com a convicção da conquista eminente. Na bagagem levam aprendizagens, espaço em branco para novas lições e uma vontade enorme de crescer cada vez mais. Imparáveis heróis dos tempos modernos, aqueles que ainda acreditam que o amor salva tudo! Podes querer muito que o outro veja o amor como ele é, mas não o podes fazer ver com o teu olhar.  De mil e uma maneiras, inversões, invenções, ideias, estratégias, tudo…faz-se de tudo para que pareça natural o que devia fluir por si só. Sem que fosse preciso fazer o pino, arranjar um tema, um objetivo, uma suposição… acontecer só porque é natural.  O que acontece entre duas pessoas que se descobrem ou que se encontram sem se procurar, deve ser inato. Não deve obedecer a rotinas, calendários, agendas ou disponibilidade. É sentir, só isso. Deixar acontecer. Somos os nossos principais inimig

Pormenores

Imperfeita, desajeita, chata e cabeça dura. Aquela que fica horas a fio numa fila sem se queixar, porque meteu na cabeça que tem de comprar aqueles bilhetes. Que espera à chuva no carro, para ajudar uma amiga numa missão arriscada. Que muda uma casa em várias viagens de carro, vezes sem conta, até que a amiga fique no sitio onde se sinta segura. Prega partidas ao telefone e tem lata para pedir coisas absurdas a desconhecidos. A que responde a pedidos de SOS de todos os géneros e feitios. A que vai sem medos e que faz o que for necessário para ajudar ou resolver um problema. A que fica a pé noites a fio se lhe delegarem a missão. O que se vê não é o que se tem, existe todo um mistério por desvendar. Tão previsível como imprevisível. Profunda, taciturna e pensativa mas incapaz de fingir. Aquela que atende uma chamada a qualquer hora. Que tenta a todo o custo não deixar mensagens por responder. Silenciosa mas cheia de vida. Capaz de amar as pessoas mais improváveis e de chorar co

Bipolaridade

Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei.... Não quero saber. Não quero entender. Não quero ser compreensiva. Não quero ser o que esperam que seja. Não quero ser suave. Não quero ser segura. Não quero servir de apoio. Não quero abrir a boca. Não quero responder ou dar justificações. Não gosto do frio. Não quero comer. Não me apetece fazer conversa de circunstância. Não quero ouvir vozes. Não quero acender as luzes. Não quero responsabilidades. Não quero silêncio. Não quero a rotina. Não quero dinheiro. Não quero relógios ou horas. Tenho raiva. Quero partir tudo. Quero que me deixem em paz. Vão bugiar! Quero que tomem conta de mim. Quero que me desejem. Que não finjam preocupação ou carinho. Quero desaparecer. Quero admiração, luzes e alegria. Quero  música em alto e bom som. Quero dançar até cair. Quero imprevistos. Quero interesse. Quero ter tempo sem limites. Quero inteligência e futuro. Quero leveza. Quero ter sorte. Quero pe

Impotência

Os limites podem ser extensos ou extensíveis. Aplicáveis a tudo ou apenas a alguns parâmetros da vida. Ter fronteiras e precipícios.  Fazer das curtas distâncias abismos. O perto separado por quilómetros. Profecias que se cumprem vezes sem conta. Déjà vu. Acreditar sem ver. Sentir sem explicar. Ter fé. Impotência. Incompreensão. Quebrar barreiras. Reescrever a história. Condicionar as células do corpo a funcionamentos pouco habituais. Transgressão. Aceitar a ausência mas odia-la.  Ser o que todos esperam que sejas, sem seres. Silêncios que matam. Conversas imaginárias que se estendem pela madrugada em água.  Dias pequenos. Pessoas pequenas.  Impotência. 

Pecado

Apagar vestígios dos maus tratos sofridos na alma, no corpo e no coração. É por isso que pecamos.  Fingimos coisas que não somos. Deitamos por terra tudo o que acreditamos. Fingimos desprendimento. Não te minto, só te omito a verdade. Minto-me todos os dias e todas as vezes que finjo ser o que não sou.  Invento coisas. Imagino situações, crio alternativas, enfio-me em buracos. As pessoas na rua falam a tua língua. Eu não, mas compreendo sem saber o quê. Finjo que quero pouco. Em cada encontro finjo. E pecamos vezes sem fim. A vida apodrece à volta. Finjo que não há amor. Cumprem-se vontades como quem pica o ponto. Obrigações. Tudo camuflado em suor. Com sexo não se promete nada. É mentira. São ideias que se compram na resposta à condição humana. Pecamos. Fingimos que o amor é mal menor. Desnecessário. E continuamos a pecar. 

Conversas imaginárias

Outro dia dei por mim a pensar em tudo o que te poderia dizer. Tanta coisa, que foi difícil estruturar o pensamento. Primeiro, saiu tudo ao monte como se tivesse de despejar uma gaveta. Nem eu percebi bem, tudo o que disse ou que teria de dizer. Se nem eu percebo, como irias perceber? Voltei a arrumar tudo, para começar por partes. É terrível, tenho sempre vontade de dizer tudo ao mesmo tempo, sem lógica, sem encadeamento, desenfreada, meia louca. Depois tive dificuldade em arrumar os temas por importância. Parece-me tudo importante, tudo urgente, tudo vital. Pensar assim acelera-me a pulsação, a respiração, altera-me a ordem das palavras. É um mix de adrenalina com ansiedade, água que ferve em ebulição. E fico a pensar. Oriento as ideias em tudo o que tenho para te dizer. São milhares e milhares de boas palavras. Queria que alguém me oferecesse este conjunto de palavras, que me fizesse sentir especial, que depositasse a esperança da humanidade em mim, como eu deposito em