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Humanidade

Será que ciência nos tornou preguiçosos? Hoje tudo o que é válido e correto tem de passar pelo crivo científico para ser considerado "verdade" e antes da ciência como era? As pessoas encontravam validação onde e como? Perdeu-se a capacidade de saber ver, ouvir e ler tudo o que nos rodeia e o nosso próprio corpo.

Antes de existirem computadores, máquinas, matemática, física ou química com o nível de desenvolvimento que temos hoje como se fazia para validar? Os curandeiros sabiam de plantas e entendiam os sinais do corpo. As pessoas regiam-se pelo ciclo da natureza, o nascer e o pôr-do-sol, as estações, a subida e descida das marés, os ciclos reprodutivos dos animais e das plantas. Olhavam para o céu para se orientar, sabiam interpretar o vento e respeitavam a cadência natural das coisas, sem manipular ou apressar.

Sabiam respeitar a ordem natural das coisas e os seus tempos. Estavam mais despertos para os ruídos e cheiros desconhecidos, sabiam definir distâncias pelo fumo ao longe, comiam os alimentos correspondentes à época do ano e sabiam usar a intuição como um trunfo poderoso na sobrevivência.

 E nós que fazemos agora?

Sabemos quando estamos doentes mas esperamos pelo diagnóstico. Quebraram-se os elos que nos ligam a nós próprios, não sabemos escutar o nosso corpo nem a nossa intuição, não vivemos integrados na natureza porque somos superiores a ela, assim achamos. Estamos neste mundo com a mesma postura dos colonizadores, não estamos aqui para respeitar o meio e tudo o que nele existe desde sempre, estamos aqui para impor a nossa vontade, a nossa verdade e nossa forma de ver e viver a vida.

A intuição é coisa que usam as bruxas ou as pessoas de inteligência limitada, uma vez que não dispõem de outros recursos, é quase uma crença instituída. Se alguém segue a intuição é somente porque não têm mais informação, está mal preparado ou é imaturo. Vivemos presos a conceitos e ideias pré-concebidas. Já não nos soltamos para nada, nem nos deixamos ir em momento algum.

Desconectamo-nos por completo do nosso próprio planeta, não vivemos o tempo dentro do tempo, desenvolvemos a ansiedade por não sabermos viver integrados no tempo das coisas e da vida, contrariando a nossa própria natureza. Não somos nem bons nem generosos connosco próprios.

Ser bom ou bondoso não é apenas na interação com o outro ou na ajuda ao próximo. Não se pode ser bom apenas com os outros e não sê-lo consigo próprio. É preciso entender que somos parte de um todo e como tal, estamos integrados, fazemos parte, somos afetados por ele e também o afetamos. Para sermos inteiros e recuperarmos a nossa humanidade precisamos reaprender a viver com coerência.


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