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O vício do sofrimento

Viver é uma coisa que dá muito trabalho. Não existem propriamente momentos calmos ou mortos, estamos em testes permanentes e desafios que se vão sucedendo. Podemos escolher ignorá-los, mas vamos acabar por ter de passar por eles, a bem ou a mal.

A parte mágica disto tudo é que cada vez que superamos um desafio ou um obstáculo sentimo-nos ainda mais vivos e com uma prova maior da nossa própria capacidade de sobrevivência. Não é fácil estarmos sempre nesta incógnita do que o futuro nos reserva, o que nos deveria fazer pensar que afinal, não temos de saber ao certo o que ai virá, mas precisamos preparar-nos para o que vier, toda e qualquer preparação acontece no presente. E se não temos forma de adivinhar o futuro, temos o dever de nos concentrarmos no agora, essa é sempre a melhor solução.

Independentemente dos desafios que cada um de nós terá, somos livres para escolher o tipo de vida que queremos viver. Nem vale a pena recorrer ao argumento já gasto e bem gasto, da herança genética de cada um, porque até isso podemos modificar. Toda a bagagem que carregamos (nossa, do que é importante para nós, dos outros, da experiência etc etc.) pode e deve ser reajustada ao longo da nossa vida.

Guardamos coisas que não precisamos: por que razão vamos andar a guardar um par de sapatos velhos que já não vamos usar e que já nem estão em bom estado, só por gostarmos deles? Qual é a finalidade disso? Ou por que motivo vamos guardar uns que estão novos mas não usamos?

Não faz sentindo mantermos em nós “coisas” que já não usamos, ou carregarmos bagagem de outras pessoas só para lhes aliviar a carga, ou guardarmos tralhas só porque nos recordam momentos especiais mas que aconteceram no tempo em que ainda não tínhamos dentes! O desafio da reciclagem, não é apenas para os resíduos de lixo que vamos acumulando em casa, é para tudo o que já não nos serve.

Utilizando a metáfora do corpo como a nossa casa, se não mantemos o lixo em nossa casa porque ganha bichos e cheira mal, por que razão mantemos uma série de recordações, memórias, emoções e outras coisas presas dentro de nós se já não servem para nada? Servem apenas para nos vergar a coluna, danificar as entranhas e a pele e em última instancia, servem para nos adoecer o corpo e a alma.

Viver dá muito trabalho e nesse processo que nos une por este mundo, mudar e saber quando e como mudar é um dos maiores desafios que temos de enfrentar. É preciso coragem, muita coragem para conseguirmos enfrentar os demónios conhecidos e desconhecidos que albergamos. Podemos não querer saber e continuar a dar-lhes guarida e a viver bem com isso, é uma opção viável, contudo, não podemos esperar resultados diferentes na nossa vida se os tarecos continuam arrumados sempre no mesmo sítio e não lhes mexemos nem para limpar o pó!

Somos livres para escolher assim como temos de compreender que sem compromisso não existem mudanças, porque as alternativas existem sempre, mesmo quando não as vemos, e se não as vemos é porque não estamos preparados para mudar. É preciso coragem para deixar o conhecido e partir para o desconhecido. Custa muito quebrar vícios e rotinas, deixar o conforto do sofrimento para o desconforto do desconhecido…

Senão fizermos diferente nunca saberemos.



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