E se as coisas tivessem
acontecido de forma diferente?
(para o meu avô Fernandes)
Fica sempre a dúvida no ar,
como uma incerteza que se alimenta pelo vazio deixado. Podia ter sido
diferente? Poderia ter sido diferente, se para a morte existisse algum tipo de
retorno ou emenda. Mas não existe e foi assim que aconteceu e não se pode
mudar.
Ainda assim, sabendo e
aceitando que teve de ser como foi, não muda a curiosidade que ficou por
preencher nem a vontade de conhecer melhor alguém que nos quis tão bem. Sabe-se
o que os outros contam e relembram-se partes do que se viveu. De lá para cá já
passou uma vida, 27 anos de uma ausência que nunca se ocupa.
Daquele ano horrível, tenho de
ti duas memórias que me marcaram.
A primeira, a felicidade de fazeres 70 anos como se tivesses chegado ao topo da tua montanha! Sem saberes, estavas lá pronto para embarcares para outra aventura, genuinamente feliz por teres reunido a tua família para comemorar o teu aniversário. Sempre gostei de fazer anos e depois desse dia, em que te vi tão feliz e sorridente, tive a certeza – fazer anos é uma coisa maravilhosa! Quando nos despedimos entre beijos e abraços, foi felicidade o que senti. Estavas feliz por ti e por estarmos todos ali para ti.
A primeira, a felicidade de fazeres 70 anos como se tivesses chegado ao topo da tua montanha! Sem saberes, estavas lá pronto para embarcares para outra aventura, genuinamente feliz por teres reunido a tua família para comemorar o teu aniversário. Sempre gostei de fazer anos e depois desse dia, em que te vi tão feliz e sorridente, tive a certeza – fazer anos é uma coisa maravilhosa! Quando nos despedimos entre beijos e abraços, foi felicidade o que senti. Estavas feliz por ti e por estarmos todos ali para ti.
A segunda memória que tenho
desse tempo foi a forma como assumiste a responsabilidade por seres o meu único
avô disponível, eras só tu, o único representante. Como nós, sentiste
profundamente a partida do teu compadre e quiseste dizer-nos que apesar disso,
e por isso, estavas ali como o representante dos avôs. Durante os poucos meses
que separam as vossas passagens para o outro lado do véu, foste o meu único
avô. Houve um cuidado especial durante esse período, uma atenção, uma presença
que não se impos mas que se assumiu como presente. Estavas lá, eras o nosso
avô. O avô.
Hoje vinte e sete anos depois,
sente-se a saudade de quem se quis bem. Não houve tempo para mais, sabe sempre
a pouco. Foi apenas aquele tempo, o nosso, breve. Tão mais curto que esta
distancia toda que me fez crescer sem que visses. Onde quer que estejas, espero
que sintas orgulho das pessoas que por aqui deixaste e que vão perpetuando a
tua memória.
(para o meu avô Fernandes)
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