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Frustração

É como limpar o lixo para baixo do tapete, não é por não o vermos que ele não está lá! Se não o limparmos (eventualmente um qualquer dia…), não haverá espaço para mais lixo por baixo do tapete. Uma parte fica escondida e outra completamente de fora, a transbordar por todos os lados, a gozar com a nossa cara para nos lembrar o que quisemos tanto esquecer. Desde de tenra idade que nos ensinam que não devemos tornar visível a nossa frustração e em particular a tristeza. Não devemos demonstrar “fraqueza” nem vulnerabilidade. Devemos engolir os sapos, limpar as lágrimas encher o peito e continuar, continuar, continuar… como se nada fosse. E como é possível fazer isto, sem nos danificarmos? Tudo o que fica acumulado acaba por vir ao de cima, mais cedo ou mais tarde. Mesmo as questões que julgamos bem resolvidas ou achamos nós que já sabemos lidar com elas. Seja para nos avivar a memória, seja para as resolvermos de uma vez por todas. Independente do motivo, acabam por se manifestar.  
Mensagens recentes

O dia da memória - a neta da Dona Rosa

Sofrer é sempre opcional mesmo quando se trata de saudades.  Faz-se o que todas as recomendações aconselham: lembrar as memórias felizes e os momentos especiais. Assim estarei sempre a celebrar e a honrar a vida da minha avó, pelas recordações contributivas que temos em comum. É uma forma de lidar com esta ausência. O tempo devia ajudar. Tem dias que parece que sim e outros que parece que não. Assusta-me que o tempo apague memórias, vivências, a estrutura das mãos dela, a cor do cabelo, as rugas da cara ou os cheiros. Já que os espaços físicos vão mudando, uns perderam-se para sempre e os objetos nem sempre conseguem ajudar na reconstrução de alguns puzzles da memória, o tempo poderia ser mais clemente! Fazer o quê? Não me incomodam os cemitérios, apenas as campas abandonadas. Isso sim, o fim do fim, as pessoas partiram todas e as memórias com elas. Ficam as campas a pairar num abandono compreensível, mas mesmo assim, triste de se ver.  Ontem, como em 2017 esteve sol com frio. Ontem co

Ser Cortez

É mais ou menos universal que as saudades não se medem pelo tempo. Não sei quem inventou esta medida mas nem sempre é fácil contabilizar se temos mais saudades hoje que tínhamos ontem. As saudades são saudades, vivem por si, sem métricas ou medidas. Mais do que uma medida são um estado. A nostalgia dos dias é imensa, sempre que relembro das minhas avós. Achava eu, que os meus avôs já tinham um bom barómetro para as saudades que uma pessoas pode sentir de quem se muito quer mas na verdade, a minha história é maior com elas. Foram elas que ocuparam um grande espaço do tempo da minha vida, estiveram lá: foram avós! Temos muita história juntas em momentos da minha vida que soube apreciar em pleno estas memórias. Hoje, porque a minha avó Maria faria 99 anos não posso deixar de sentir saudades. Tenho saudades de tudo o que vivemos e ao mesmo tempo tento relativizar os últimos anos, que foram duros. Não é fácil assistirmos ao declínio de ninguém, muito menos de quem amamos com o coração

GRANDEZA*

Um amigo do meu pai, um senhor já com os seus 80 anos avançados, confidencio-me num passeio e almoço (organizado e proposto pelo próprio) que muitas das pessoas que ali se encontravam, só estavam presentes porque ele as informava do convívio e organizava tudo. E que ele fazia questão de telefonar regularmente a grande parte delas mesmo sabendo que muitos não iriam retribuir a gentiliza com a mesma regularidade com que o fazia. Perguntei-lhe : “Então porque faz isso? As pessoas também têm de ser gentis consigo e telefonar para saber de si.” Ao que ele me respondeu: “É verdade. Mas senão for eu mais ninguém o fará, na verdade tenho gosto de fazer isto e mostrar que me preocupo mesmo que não retribuam. É importante para mim, mesmo que ninguém agradeça ou corresponda, só por esse motivo já vale a pena. Sei que ao fazer o que faço mantenho as pessoas ligadas umas às outras.” Eu que tantas vezes fiz o mesmo, fiquei a pensar na conversa que oportunamente surgiu naquele momento em que tinh

Dia dos Irmãos

No dia 31 de maio comemora-se o dia dos irmãos. Nada mais apropriado para encerrar o mês de maio – o mês da família e o meu mês – que esta comemoração. De todas as bênçãos que a vida me deu, ter um irmão é das melhores de todas. Mesmo não sabendo, porque nasci depois, ter uma irmã foi o melhor presente que os meus pais me poderiam ter dado em conjunto com o universo ou o que queiram chamar. Ninguém mais entenderá melhor com um olhar de relance o que traduz o meu sorriso, silêncio ou uma careta. Para além do Calvin & Hobbes, só a minha irmã sabe que vivem crocodilos de baixo das nossas camas e que a distancia que separa as nossas camas é um desfiladeiro mais perigoso que o Grand Canyon! Conhecer bem outra pessoa e deixar que a minha irmã me conheça bem, faz com que ela tenha acesso a viver em mim e dentro da minha cabeça. Pode ser assustador, é verdade… mas só ela saberá o que vou dizer mesmo antes de verbalizar, só ela vai rir de parvoíces que mais ninguém acha graça, só ela

Posso ligar?

Lá no céu atendem o telefone? Espero que sim. Os teus números continuam aqui, guardados para alguma emergência. Faltou-me a coragem para os apagar, nesta altura já outra pessoa utiliza o teu número telemóvel e o teu telefone de casa já nem deve fazer sentido existir, cada um agarra-se ao que pode mesmo que desprovido de sentido. A minha avó era do tipo de pessoa que cobrava as chamadas, tinha por hábito dizer: “Estava a ver que esta semana não me ligavas pariga* !” ao que respondia – “Tu também podias ter ligado!”. No fundo sabia que era eu que tinha de tomar a iniciativa apesar dela também me ligar regularmente. Era um despique saudável que alimentávamos em quase todas as chamadas. Sempre soube que iria ter saudades desta interação. O facto da minha avó nos últimos anos se ter perdido no passado e as coisas rotineiras se terem esfumado, fez com que este costume se tivesse quebrado mesmo antes da sua morte. Faz hoje 5 anos que uma parte da tua luz se apagou, uma mão cheia. Talvez

Joaninha, Janiquinha, Isniqui

Algumas vezes na vida temos uma sorte incrível! São pessoas ou coisas que nos acontecem sem estarmos à espera e que nos deixam marcas para sempre. Este mês de janeiro acabou da pior forma, perdi a minha companheira de vida. Por muita preparação que tivesse e por tudo o que vivemos nas últimas semanas, sabia que o fim estava próximo para ela, quis que tivéssemos direito a um milagre, daqueles que acontecem a algumas pessoas e que ficam registados na história da humanidade como: feitos extraordinários! Por que não haveríamos de ter essa sorte? Não tivemos direito a um milagre, ainda assim, consegui cumprir a minha vontade. Não quis que ela ficasse no hospital e que ali sozinha se deixasse ir, partiu rodeada de amor na casa que sempre foi mais dela que minha. Pode parecer exagero tudo o que irei partilhar a seguir, irá parecer exagero para quem não tem afinidade com os animais e nunca se conseguiu perder com a pureza dos olhinhos de um gato ou cão… ou até de qualquer outro animal de e