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O Silêncio

Falo mas não sei o que digo.

Não sei ao certo o que estou a dizer, saem palavras e gestos desarticulados. A cabeça pensa coisas diferentes do que diz a boca, os ouvidos ouvem tudo menos o que se está a dizer e o que se pensa, e nem por sombras se consegue ouvir o que fala a outra pessoa ao nosso lado. 

Os olhos olham mas não veem, focam tudo o que está à volta sem acompanharem o movimento do corpo que se move de forma automática. Os olhos não refletem o que se sente.

Fiquei assim desde daquele dia em que o silêncio tomou conta de nós. Como uma luz que se apaga sem aviso.

Nunca me incomodaram os silêncios, compreendo-os como ninguém, aceito-os quase sempre sem questionar. São necessários. Eu preciso deles quase tanto como preciso de ti.

Acontece muitas vezes este estado de estar tudo ligado e nada coordenado entre si. Especialmente quando se é mulher.

Hoje incomoda-me o silêncio do desconhecimento. O que não sei, não posso sentir mas não é verdade. Eu não te conhecia e já sabia que era de ti que precisava. Nunca ninguém nos prepara para o arrepiar da pele, quando a verdade nos atinge.

Ouve só o bater do coração, as batidas cadenciadas. Aceleram sempre que quebras o nosso silêncio. Aquele silêncio que ficou nosso, sem que tenha percebido.

Podemos continuar em silêncio, porque na verdade nem precisamos falar.

Só queria que me visses como eu te vejo. 


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