Estou em falta com a minha avó Maria, e não queria terminar
janeiro sem falar sobre ela. Ainda me estou a habituar a esta condição de órfã
de avós...
Vou escrever sobre as mulheres da minha vida, onde
obviamente está também a minha avó Maria, com o seu papel imprescindível.
Muito se diz sobre a forma como as mulheres se lixam umas às
outras e como podem ser venenosas entre elas e por aí fora, como se os homens
entre eles não fizessem o mesmo. O que não se diz, é que as mulheres têm uma
noção de grupo e de clã formidável! Por sermos mulheres temos em nós um
dispositivo interno que nos faz automaticamente ajudar as outras mulheres e
homens (é claro), mas sobretudo entre nós. Funcionamos como um todo.
Como os lobos da alcateia, não deixamos as nossas para trás.
Ajudamo-nos, tomamos conta umas das outras, ouvimos, damos a mão, amparamos os
filhos, fortalecemo-nos e criamos laços profundos. Toda a mulher que tenha uma
boa amiga, tem apoio garantido, nunca vai estar sozinha. Nunca vamos ter de
enfrentar os dias maus no desespero da solidão, mesmo que a amiga ou as amigas
não estejam presentes, estão garantidamente de prevenção, a aguardar um
telefonema para se porem ao caminho.
É uma coisa nossa, das mulheres, da nossa génese. Temos esta
necessidade de cuidar e de estar presente para as pessoas que são importantes.
Não cedemos, não vacilamos, não abandonamos, estamos e somos a presença segura
e constante que outra mulher pode ter. No fundo, somos todas mães ou como mães.
Estamos lá, nos bons e nos maus momentos. Tenho uma rede de suporte no feminino
absolutamente incrível, a começar pela minha mãe e irmã.
São daquelas coisas que são tão naturais, que quase nem se
pensa sobre elas. Estão e são, contam-se com elas e pronto. Eu tenho isto tudo,
em todas as variantes: em casa, na escola, na faculdade, no trabalho, nos grupos, nas amigas das amigas…
uma vasta lista. Tinha também isso com as minhas avós, cada uma no seu estilo único
e perfeitamente ciente a qual me dirigir consoante a necessidade ou o assunto. Tenho muitas
saudades delas, mas também tenho o coração cheio de tudo o que vivemos juntas, isso reconforta-me.
Antes de ir embora, dei-lhe um beijinho como sempre e
fiz-lhe uma festinha na cara. Sabia que iria ser a última vez.
Já não era aquela mulher vivaça e divertida que azucrinávamos
todas as férias de Verão, a que dizia: “eu gostava de saber o que é que vocês
fazem na rua até tão tarde!?” ou “ai se eu tivesse a vossa idade, ninguém me
apanhava!”. E ninguém te apanhou a avó, divertimo-nos muito todas. Foi o máximo
e só foi possível porque tu eras assim. Sinto falta dos bolos de iogurte
quentinhos na madrugada, e de ti.
Janeiro caminha a passos largo para se tornar o pior mês do
ano, está a conseguir destronar Março.
Ou "Estava aqui deitada a ouvir-vos do outro lado do rio, no muro da padararia e só pensava...que vergonha, estas miudas a esta hora na rua. O que é que as pessoas hão-de pensar?!!? Que Moinantes...Mas que tanto vocês têm para falar?" ;)
ResponderEliminarTinhamos muito que falar! ahahahah sabe Deus!
Eliminar"é cedo, não é? Voltem de onde vieram! ahahahaha