Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2018

Ceder

No complexo organismo que é o corpo humano, tudo parece funcionar na perfeição, quase sempre. Quando temos fome, sabemos que temos de comer, quando estamos irritados o corpo fica tenso e mais quente, quando começamos a ficar doentes o corpo dá sinal, para nos avisar e para podermos evitar um mal maior. Quando estamos tristes, choramos, quando estamos felizes rimos a adrenalina sobe e mesmo quando estamos amorfos e indiferentes parece que podemos passar a mão pelo fogo sem nos queimar. Depois do quase "básico", temos questões mais complexas como o desejo, não o de comer um donut às duas da manhã, mas aquele que está contemplado nos sete pecados mortais: a luxuria. Pode envolver o desejo em si, puro e carnal, pode significar uma necessidade fisiológica ou estarmos a desenvolver mais do que um formigueiro na pele, mas um formigueiro na alma. Este é um pormenor ainda mais complexo do corpo humano, estes "formigueiros da alma", não se aprendem, não se s

Desinteresse

Estou farta de fevereiro, não gosto de março e provavelmente terei de ter paciência para esperar por abril. Dito assim parece que o tempo passa devagar, mas não, o tempo anda supersónico. Assim sendo, vou piscar os olhos e quando os abrir estarei em abril. Não! Também não funciona assim, felizmente. Eu reclamo e barafusto com o tempo, os dias pequenos e o inverno de um modo geral mas não me importaria que os dias, as horas e os anos passassem um bocadinho mais devagar. Não se consegue aproveitar os dias, como deve ser. Nem os momentos…e alguns momentos deviam duras dias e dias, de tão bons que são. A juntar a isto tudo, o desinteresse desinteressa-me profundamente. A forma como as pessoas lidam umas com as outras, os filhos que abandonam pais, amigos que só aparecem quando precisam de alguma coisa, o vizinho do lado que só nos fala para pedir para tomarmos conta do cão, a desconsideração no cuidado com os outros, os pequenos gestos falham sempre. Não são precisas festas ou p

Banda sonora do blog

Se o meu blog tiver uma banda sonora, pode ser esta!  O álbum SERENDIPITY da Isaura.  No link encontram o álbum de estreia da Isaura. https://meocloud.pt/link/333c47e8-8dff-4b10-9073-844e2d6cffd4/Isaura_Serendipity.zip/ Tudo em bom. Enjoy.

Na escuridão

“You know the day destroys the night Night divides the day…” (The Doors/ Break On Through) A luz mostra tudo, tudo o que esconde a escuridão. Tudo o que não queremos ver, mostra-nos.  É nas trevas que guardamos todos os segredos, é lá que asseguramos que fiquem. Mesmo quando o sol sobe sobre o horizonte fechamo-los no fundo da alma, para que não saiam, para que não se mostrem com a claridade. São só nossos. Tudo o que não se vê não existe. É como fechar os olhos e reviver tudo o que se viveu. No escuro do nosso olhar, vive-se outra vida, revive-se o mesmo momento vezes sem conta. O que não muda imagina-se de forma diferente, acrescentam-se pormenores, palavras que se deveria ter dito, gestos que se deveriam ter feito. Resguarda-se o instante num detalhe do tempo, que o corpo retém. No inverno as noites são longas e escuras, perpetuam o isolamento entre as pessoas. Encafuamo-nos em buracos sombrios, húmidos sem graça.  Vemos a vida passar, lá fora. Sentimos arrepio

Defeitos

Quantos defeitos pode ter uma pessoa? Infinitos vezes mil, como dizem as crianças... E ainda assim, parecem-me poucos, pelo menos no que me diz respeito. No quadro da perfeição, não que me queira encaixar lá (já me deixei disso à algum tempo), não existe um caraças de um requisito que consiga cumprir com jeito. Deve ser o meu grau de exigência que é grande, comigo entenda-se, os demais mortais hão-de ter os seus próprios critérios. E quanto a esses parâmetros, estou-me a borrifar. É na análise da vida real, do que se faz e do que não se faz. De confiar na intuição, e muitas vezes ignorá-la. É bem feita, começa ai o primeiro defeito, na extensa lista. Ouvir o que não se ouve, entender o que não se vê. Não tem nada a ver com índices de loucura, daquela que os médicos diagnosticam, nada disso, é saber antes de acontecer. É saber sem conhecer, histórias de vida, segredos que os outros guardam, coisas que vejo sem precisar de olhar. Saber, mas fingir que não sei. Que fazer com ist

Loucura

Coisas da loucura. Quando já não se suporta o tempo normal dos dias, quando fica intolerável o peso da roupa no corpo, quando o frio não cessa o calor, só pode ser loucura.  O saber que se quer muito, e não saber o que fazer. O desejo acumulado que rebenta por todos poros. As noites de sono perdido, horas lentas contabilizadas a conta gotas. Dias que parecem meses. O perder o norte e todos os restantes sentidos.  Estado febril de alma, dormência, demência, ausência e muita urgência. Doença diagnosticada que se alastra lentamente pelo corpo, percorre a pele e todas as entranhas. Células de ADN reprogramadas. Cegueira momentânea ou permanente, que acompanha a propagação da loucura. Como a água que transborda de uma albufeira, alastra-se por toda a extensão de terreno, infiltra-se e faz-se absorver pela terra, sem que esta tenha opção de escolha. É a necessidade, a seca que tem de ser combatida, o restabelecer da ordem natural das coisas, a natureza sabe o que faz. Os pen

Abre os olhos

Então, fecha os olhos, e o que sentes? A respiração quente, nervosa, descompensada. O coração que bate, bate, bate acelerado. Sentes a proximidade, não estás só. Mas não abres os olhos, não abras! Pode não ser verdade, pode não estar a acontecer. Enquanto estiveres no conforto da escuridão, fica tudo guardado nesse tempo, nesse momento. Um único instante solitário, teu. Dentro da cabeça amontoam-se memórias, lembranças, medos. Não abras os olhos! Se fizeres de conta que não sabes que os tens de abrir, não precisas abri-los. A música, a banda sonora toca. Tens música para todos os cenários. Dentro de ti toca, aquela que queres sempre ouvir, que toca só para ti e por ti. Com os olhos fechados não vês a água que começa a acumular e que te vai escorrer pela cara. Deixa, não abras os olhos! É aquela voz ao longe, as palavras sussurradas, escritas, pensadas, não ditas, essas todas sabe-las de cor. Vivem dentro de ti, nunca as tinhas ouvido noutra voz. Tão irreal. Não