“You know
the day destroys the night
Night
divides the day…”
(The Doors/
Break On Through)
A luz mostra tudo, tudo o que esconde a escuridão. Tudo o
que não queremos ver, mostra-nos. É nas trevas que guardamos todos os segredos, é lá que
asseguramos que fiquem.
Mesmo quando o sol sobe sobre o horizonte fechamo-los no fundo
da alma, para que não saiam, para que não se mostrem com a claridade. São só
nossos. Tudo o que não se vê não existe.
É como fechar os olhos e reviver tudo o que se viveu. No
escuro do nosso olhar, vive-se outra vida, revive-se o mesmo momento vezes sem
conta. O que não muda imagina-se de forma diferente, acrescentam-se pormenores,
palavras que se deveria ter dito, gestos que se deveriam ter feito.
Resguarda-se o instante num detalhe do tempo, que o corpo retém.
No inverno as noites são longas e escuras, perpetuam o
isolamento entre as pessoas. Encafuamo-nos em buracos sombrios, húmidos sem graça. Vemos a vida passar, lá fora. Sentimos arrepios sempre que a
chuva forte bate na janela, perdemos a esperança.
Não permitimos que ninguém entre na nossa casa, que percorra
o nosso espaço, que partilhe a nossa vida. Morremos, sem morrer de verdade.
O tempo não pára, e os dias crescem e alongam-se noite a
dentro. A luz que conquista o território das trevas, a primavera que vence o
inverno, invariavelmente. Com a mudança da estação, somam-se as improbabilidades. Quem
haveria de dizer, que o inverno poderia deixar saudades?
A vida contraria-se, invertem-se tendências. Na época da
escuridão, podem surgir pequenos focos de luz. Outros olhos que nos veem de forma diferente, que nos dizem
isso mesmo, que não hesitam, que não se escondem. Que nos resgatam e salvam do passado, que nos dão futuro.
Devolvem-nos a crença maior.
É saber que existes, algures no mesmo espaço que eu, não sei
onde, e que estás disposto a enfrentar os meus demónios. Não sei onde estás ou para onde vais, mas nem a incerteza me
desanima. Quando sabemos o que queremos ou quem, nada nos detém.
Nem a escuridão.
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