Então, fecha os olhos, e o que sentes?
A respiração quente, nervosa, descompensada. O coração que
bate, bate, bate acelerado.
Sentes a proximidade, não estás só. Mas não abres os olhos,
não abras! Pode não ser verdade, pode não estar a acontecer.
Enquanto estiveres no conforto da escuridão, fica tudo
guardado nesse tempo, nesse momento. Um único instante solitário, teu.
Dentro da cabeça amontoam-se memórias, lembranças, medos.
Não abras os olhos! Se fizeres de conta que não sabes que os tens de abrir, não
precisas abri-los.
A música, a banda sonora toca. Tens música para todos os
cenários. Dentro de ti toca, aquela que queres sempre ouvir, que toca só para
ti e por ti.
Com os olhos fechados não vês a água que começa a acumular e
que te vai escorrer pela cara. Deixa, não abras os olhos!
É aquela voz ao longe, as palavras sussurradas, escritas,
pensadas, não ditas, essas todas sabe-las de cor. Vivem dentro de ti, nunca as
tinhas ouvido noutra voz.
Tão irreal. Não é a tua voz, mas são as tuas palavras. Soam
a verdade, sérias e profundas. Não abras os olhos.
A pele, o toque, os cheios a memória olfativa aguçada, tudo
o que não consegues esquecer, nem com a devida distância. O coração descontrola-se, vai saltar pela boca, vai rebentar
do peito a fora. É o medo? É o medo que tudo seja mentira.
Não abras os olhos.
Faz de conta que é verdade, que tudo isto é verdade, só mais
um bocadinho. Deixa-me acreditar. Deixa-me sentir cada palavra, cada som, deixa-me acreditar,
só um bocadinho. Mais um instante.
Quero tanto acreditar sem ver. Sem pensar, só porque sim.
Porque mereces.
Coragem, vá. Abre os olhos.
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