No complexo organismo que é o corpo humano, tudo parece
funcionar na perfeição, quase sempre.
Quando temos fome, sabemos que temos de comer, quando
estamos irritados o corpo fica tenso e mais quente, quando começamos a ficar
doentes o corpo dá sinal, para nos avisar e para podermos evitar um mal maior.
Quando estamos tristes, choramos, quando estamos felizes
rimos a adrenalina sobe e mesmo quando estamos amorfos e indiferentes parece
que podemos passar a mão pelo fogo sem nos queimar.
Depois do quase "básico", temos questões mais
complexas como o desejo, não o de comer um donut às duas da manhã, mas aquele
que está contemplado nos sete pecados mortais: a luxuria. Pode envolver o
desejo em si, puro e carnal, pode significar uma necessidade fisiológica ou
estarmos a desenvolver mais do que um formigueiro na pele, mas um formigueiro
na alma.
Este é um pormenor ainda mais complexo do corpo humano,
estes "formigueiros da alma", não se aprendem, não se sabe ao certo
se eles irão chegar ou quando, são quase tão imprevisíveis como a meteorologia.
Quando acontecem, nunca acontecem da mesma maneira, pelo
menos para mim, o que torna difícil padronizar a coisa. Se cada caso é um caso,
como saber se: deve permitir que o formigueiro se instale? Existem regras?
A ideia que tenho, dentro do imprevisível e quando acaba é
que, nunca mais vai voltar, e porquê?
Porque separo tudo: o desejo, o amor, a amizade, a
admiração, o gostar, o querer bem etc etc etc, está cada um em seu
compartimento, funcionam em separado, só passam a funcionar em conjunto quando
a tal sensação de formigueiro volta. E nessa fase, já o meu esquema mental de
gavetas arrumadas (por data e ordem alfabética) está uma desgraça!
Dentro da imprevisibilidade, os sinais de alerta estão lá,
mais ou menos subtis, estão lá. Começam a notar-se quando se mudam padrões de
comportamento, quando se começam a quebrar regras "sólidas" criadas a
par do muro de Berlim, para suposta proteção.
É aí, quando se partilham segredos, abrem-se portas,
solta-se a alma, desarrumam-se os lençóis, o cabelo e a roupa, se memorizam
cheiros, palavras e tons de voz...
Esqueçam, já não existe encadeamento organizado que possa
combater, a desordem que se vai instalar a seguir! O relembrar de uma sensação,
que se julgava esquecida, tanto pior... Uma sensação que se achava impossível
voltar a sentir e ficar tão vulnerável como um caracol na beira da estrada.
Fraquejar, a rotina começa a pesar, os silêncios ficam
insuportáveis, as distâncias impossíveis, tudo e nada faz confusão. De um
momento para o outro não existe equilibro, porque não existe discernimento nem
razão ou inteligência que valha. O cérebro fica infectado por um gás - suponho
que venenoso - que o adormece para deixar o coração fazer o que lhe compete.
Não é de todo um processo fisiológico, mas acaba como tal, mistura tudo:
alegria, raiva, euforia, desejo, lágrimas e gargalhadas.
É ceder à tentação.
O brilho no olhar, um sorriso na cara e um abraço apertado.
Se acontecer um beijo, então é melhor entregar logo os pontos todos.
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