Avançar para o conteúdo principal

Ausência

O antes, na antevisão do que sabemos inevitável, é sempre um momento de preparação que nunca nos prepara verdadeiramente.

Sabemos que as pessoas morrem, que os momentos não se repetem, que nunca mais vamos ter aquela idade ou voltar a viver aquele dia e por isso, no momento de reflexão sobre o presente, queremos absorver todas as sensações ao máximo e gozar a vida e a presença dos outros com entusiasmo. Na realidade não sabemos como é não tê-los, eles estão ali, palpáveis, fazem parte de nós e da nossa história. Só quando a ausência que as saudades bem marcam, se começa a sentir é que entendemos o exercício que fizemos no antes, e valorizamos o esforço que foi feito para gravar todas as sensações do instante.

Antes, conscientes da importância não sabíamos o seu significado. Podemos imaginar como magnífico é o mar por fotografia ou na televisão, só vamos entender a dimensão da sua beleza quando estivermos frente a frente com ele.

Somos humanos.
Precisamos viver para entender. Precisamos da experiência para valorizar.

Eu sei que vou ter saudades a vida toda dos meus avós, dos gatos, do cão, dos sítios e até de determinados cheiros, mas também sei que por isso mesmo dou valor a hoje. Por saber o que sei, sinto-me grata por ter conseguido ter tido esta clarividência a tempo de guardar memórias incríveis para mim.

Vou continuar a ter saudades da minha avó, como tenho todos os dias, mas sei que a aproveitei bem, como quem se lambuza na colher de bater o bolo de chocolate até ficar bem limpinha...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não devemos voltar a onde já fomos felizes

Hoje acordei com esta expressão na minha cabeça: “não devemos voltar a onde já fomos felizes”. Sempre que penso nisto, e cada vez mais me convenço, que está completamente errada. Na prática, acho que a expressão tem a ver com pessoas e não com lugares. Não voltarmos a onde já fomos felizes, ou seja, não voltar para determinada pessoa. O local acaba por vir por acréscimo, já que as memórias não ficam dissociadas de situações, locais ou pessoas. Mas é sempre por aquela pessoa específica, que não devemos voltar atrás e não pelos  momentos felizes que se viveram naquela praia ou no sopé daquela montanha. É o requentado que não funciona… ou não costuma funcionar. Acredito que para algumas pessoas dê resultado, mas de uma forma geral, estar sempre a tentar recompor uma situação que não tem concerto, não tem mesmo solução! Mesmo quando existe muito boa vontade e uma boa dose de amor. Voltando aos locais, que é isso que me importa. A história reescreve-se as vezes que forem pre

Nirvana no dramático de Cascais

Apropriado para esta semana, em que fui ver o documentário sobre a vida do Kurt Cobain.  Fiquei a entender porque se apresentou em Cascais completamento apático. O concerto aconteceu a 6 de Fevereiro 1994 e o Kurt cometeu suicídio a 5 de Abril do mesmo ano. Não devia estar no auge do contentamento... No palco esteve apenas para fazer o que lhe competia com nenhuma interacção com o público. Apenas cantou e tocou, sem dirigir uma única palavra ao público presente. Na altura achei aquilo demais, e fez-me gostar menos de todo o concerto. Só que eram os Nirvana e a eles tudo se perdoa. Recordo do meu pai me dizer: "olha aquele tipo que foste ver no outro dia, morreu. Estava a dar nas noticias." Acho que nem fiquei surpreendida, talvez suspeitasse que seria o desfecho lógico.  Sempre achei que o Kurt Cobain era um homem denso, profundo e melancólico e comprovou-se com o documentário.  Não iria dar para viver mais do que foi. A vida não foi fácil para o Kurt, um tipo se

Guns N Roses - Alvalade 2 Julho 1992

O concerto que não aconteceu porque eu não fui. É de todos os que não fui, aquele que mais me marcou, por uma série de acontecimentos. Queria mesmo ter ido! Foi o apogeu do Axl Rose, como se comprovou mais tarde… nunca mais voltou a ser o mesmo, aliás os Guns tornaram-se uma bandalheira que ficou presa naquele tempo. Não conseguiram cimentar o percurso musical para além daquele período histórico. Adiante… 1992 foi o ano do cão para toda a nossa família, começou com o desfecho tenebroso em 1991 com os AVC’s do meu avô e com o morte dele em Março. Depois disso piorou com a crise de apêndice da minha irmã, que era supostamente uma coisa simples para uma operação de meia hora e demorou 3h! Ainda por cima a minha irmã estava a começar a época de exames de acesso à universidade, o último ano da PGA. Digamos que 1992, foi o ano dos anos… O concerto só seria em Julho, a minha irmã já estaria boa e íamos com a minha prima e outra amiga. Como filha mais nova, não poderia ir sozi