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Paragens Obrigatórias

O silêncio nunca fez mal a ninguém. As pessoas morrem de medo dos silêncios prolongados e da solidão forçada.

O estado normal de viver é estar em alerta constante, sem nunca desligar a ficha em momento algum. Com a necessidade de ter de falar ou dar-se com as pessoas, de ter de deixar uma marca ou assinalar uma passagem. Parece que temos de andar em estados permanentes de acompanhamento e com ruídos de fundo. Nunca se está satisfeito com o que se tem, nem com as coisas, nem com as pessoas, nem com as circunstâncias…

A solidão fica no topo! Entre o silêncio ou a solidão, referenciada sempre como o pior que pode existir, a solidão fica injustamente associada a abandono. Quem está só não tem de ser um solitário ou sentir-se só. Mas reconheço que possa ser pesado e tenho-me apercebido com o passar do tempo que a maioria das pessoas vive em pânico só de pensar que pode cair nas malhas da solidão, mesmo quando já lá estão. 

Existe uma ideia pré concebida, que precisamos estar rodeados de pessoas para não nos sentirmos sós e não existe pior que a solidão de uma sala cheia. Acredito que não estamos sós nunca, mesmo quando não temos ninguém à nossa volta, quando nos conhecemos bem somos a nossa melhor companhia. Se não soubermos apreciar a nossa própria companhia nunca vamos estar bem ao lado ou perto de quem quer que seja. E podemos ter conversas deliciosas, de mim para mim sem pensar em pôr paninhos quentes para não ferir ou magoar quem quer que seja, é uma sensação de liberdade avassaladora.

O silêncio é constrangedor para quem se sente mal com ele, o que na pratica quer dizer que a pessoa é incapaz de se escutar, de respeitar as vozes que internamente falam, ficar em silêncio pressupõe quase obrigatoriamente termos de ouvi-las, e isso nem sempre é fácil. Ouvir o que temos para nos dizer, sem espinhas ou palavreado bonito é vital! Não dá para contornar, até nos podemos esforçar para fingir que não ouvimos, mas aquela vozinha de fundo continua a matutar na nossa cabeça. É bem pior ignorá-la que conversar com ela, porque ela não vai desistir de nos dizer todas as verdades que recusamos assimilar. E reparem, começa sempre de forma branda e conciliadora, como uma mãe que nos diz com carinho: não faças isso que te vais magoar! Começa sempre com voz suave e melosa, progressivamente no seguimento das nossas orelhas mocas, começa a subir o tom, até que quase a gritar nos diz: Pára com isso, sai dai! Não estás a ver que te vais partir todo!! Não volto a avisar!

E só depois do ralhete ou depois de nos termos efetivamente partidos todos é que pensamos sobre o que nos foi dito. Na verdade, a escolha é nossa… podemos escolher ouvir ou fazer ouvidos de mercador, mas seja como for, mais cedo ou mais tarde vamos ter de nos confrontar com o que nos foi dito.


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