Para o meu avô.
Quando chega o Outono a imagem que ilustra a estação são as
folhas amarelas caídas no chão. As videiras, depois das uvas apanhadas ganham
tonalidades grenás e a paisagem enche-se de tons ocre e castanho, num suave
despedir do verão. O calor liberta-se da terra para o ar e finalmente o frio
vai chegando para arrefecer as almas e preparar-nos para o inverno.
Ultimamente, quando penso no meu avô associo-lhe a imagem do
ouriço da castanha, foi o Outono que o levou talvez seja por isso. Talvez seja por
não se perceber de imediato o que está dentro do ouriço, e quando cai no chão e
bate seco na terra, a castanha salta do interior com um tesouro bem guardado. É
o meu desconhecimento sobre a alma do meu avô que me faz fantasiar sobre os
seus segredos.
Afinal de contas, quem seria este homem? Um avô é sempre um
avô, e esse estatuto parece bastar-lhe agora que já não temos hipótese de nos
descobrir. (aqui entre nós, tive de procurar outras formas de te conhecer, para
encontrar resposta a quase todas as curiosidades que tenho sobre ti).
Não era criança e ainda não era adulta quando partiste para
esse lado, mas recordo-me de ver um imenso carinho no olhar sempre que me vias.
Percebia-se que estavas atento e orgulhoso por ter conseguido superar o inicio
de vida prematuro que tanta confusão te fez. Gostava dos teus elogios e das
piadas inteligentes.
Ao pegar nos teus livros e observar a tua bonita letra
trabalhada, percebe-se que a sensibilidade era uma característica muito tua.Teríamos tido conversas tão engraçadas, estavas tão
entusiasmado por teres feito 70 anos, como se tudo estivesse para começar.
Este dia 31 de Outubro, parece um erro no calendário uma
perninha fora na linha da numeração do mês. Aquele dia pareceu-me mesmo que não era real, no meio de um Annus
horribilis.
Mas a tua folha caiu suavemente no chão, sem dor, deixou-se
ir e foste em paz.
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