Os 41 anos são o inverso numérico dos 14 anos e mais uma
vez, nada acontece por acaso. Desculpem-me os mais céticos nestas coisas, eu já
tenho provas suficientes para acreditar. Aos 41 anos assentou toda a poeira que andava pelos meu céu!
Toda a poeira que ficou particularmente confusa precisamente aos 14 anos.
Ao contrário do que habitualmente se diz: “era jovem e parva”
ou algo do género, era efetivamente jovem mas nunca em momento algum parva,
tola ou algo semelhante. Tinha 14 anos e por isso, o que era naquela altura não
é o que sou hoje ainda que exista em mim essa miúda de 14 anos que perdeu o avô
após um período de sofrimento longo e que por esse motivo deixou de acreditar
em Deus e em tudo o que dissesse respeito à fé. Que arrumou o encanto pela vida
e pelas coisas simples em questões pragmáticas e palpáveis. Que optou por
apagar da visão do mundo a magia para se centrar apenas e só no lado material
das coisas e em tudo o que se achou capaz de alcançar por si, e só por si.
Não houve nada errado nisto tudo, cada um resolve e supera
as suas etapas como acha certo, a miúda de 14 anos dilacerada por uma perda
importante sofreu quase de seguida outra e pouco depois mais outra… e assim
sentiu-se legitimada para continuar no caminho que traçou para si própria,
naquele longínquo mês de março.
Foi preciso chegar aos 41 para arrumar tudo de uma vez por
todas e entender como nunca, tudo o que se viveu até aqui. O que a adolescência
e a juventude a seguir não nos permitem ver ou saber, dá-nos a maturidade. O
que se aprende, o que se vive está quase a triplicar pela idade base desta
reflexão e assim atinge o fim de um ciclo. Foi longo, sim! Mas necessário, eu
acredito nesta necessidade de dar tempo ao tempo e cada um tem o seu, o meu
habitualmente é longo porque é o tempo que eu preciso para compreender e
integrar as coisas, não sou superficial nunca fui, não gosto de apressar nada,
gosto de refletir e pensar sobre tudo, preciso disso.
Entender que à luz da pessoa que era aos 14 anos fiz o
melhor que soube com o conhecimento que tinha e que de certa forma isso me
impulsionou para ser quem sou hoje. Cumpri aquela missão, entendi porque a fiz
e a tive de fazer, fui acrescentando coisas e quando chegou o momento de dizer
basta, soube reconhecê-lo da mesma forma que percebi que chegou ao fim.
Tudo tem um principio, meio e um fim, não somos iguais a
vida toda e faz parte da evolução assimilarmos o que tiver de ser e avançar
para outros desafios. Tudo acontece no tempo certo, tudo acontece quando tem de
acontecer e isso é quase sempre fora do tempo que achamos que tem de ser – o nosso
tempo.
Não mandamos em nada e quanto mais achamos que mandamos mais a vida nos
prova o contrário.
Foto tirada nas bancadas da Praça de Touros de Ronda em Espanha.
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