Eu sou de Lisboa, nasci em Lisboa
e sou efetivamente de Lisboa apesar de nunca ter vivido em Lisboa.
Sou também dos sítios das minhas origens um pouco mais da Pampilhosa da Serra, um pouco menos do Redondo, de Sintra e muito da Rinchoa.
Sou também dos sítios das minhas origens um pouco mais da Pampilhosa da Serra, um pouco menos do Redondo, de Sintra e muito da Rinchoa.
Quando se fala de Rio de Mouro ou
da Rinchoa, nunca é pelos melhores motivos, é quase sempre para relatar um
acontecimento grave como um assalto, um acidente, violência ou algo do género.
Estes fenómenos não são exclusivos de Rio de Mouro ou da Rinchoa e são difíceis
de dissipar dos estereótipos das pessoas, grudam-se com cola de cimento à minha terra e por muito que se tente dizer que são acontecimentos pontuais que
acontecem em qualquer sítio, o rótulo permanece e tem sido difícil
desvincular-se dele. Como se no dia em que pomos uma nódoa na camisa nos
vinculasse em permanência com o rótulo: “é sujo” ou “sempre que come põe uma
nódoa na roupa”.
A comunicação social tem muita
culpa desta imagem errada que alimenta com base em pouca ou quase nenhuma
informação em que se fundamenta para dar noticias. A área metropolitana de
Lisboa vive este drama, exceto Oeiras e Cascais, que como todos sabemos não têm
nem roubos, nem violência, nem pobreza nem nada de mal. Algumas coisas são
exclusivas dos concelhos de Sintra, Amadora, Almada… a bandidagem só circula
nos comboios da linha de Sintra, algures entre o Cacém e Mem-Martins…e o Passos Coelho morar em Massamá, ultrajante para um Primeiro-ministro! Cada um defende
a sua terra e em Rio de Mouro temos sido injustamente gozados, caluniados e
muito mal falados por ignorância. Os outros que me desculpem, mas só vou
defender a minha terra, quem achar como eu que tem direito a defender-se que o
faça.
As casas podem ser mais baratas,
eu diria acessíveis já que o que a especulação imobiliária faz é tornar o
direito à habitação num valor de custo pornográfico até para quem tem um bom
salário e emprego. Isso empurra as pessoas para a periferia, só ali conseguem
ter de forma razoável a casa de família que desejam e podem pagar. Ninguém
gosta do dístico de suburbano… não somos sub nada, somos urbanos e cosmopolitas
como as periferias das grandes cidades em qualquer parte do mundo. Só aqui é
que se vê este disparate.
Eu cresci na Rinchoa, sempre vivi
na Rinchoa andei em escolas privadas e públicas pela zona, sempre circulei no
comboio da linha de Sintra nos mais variados horários, sem telemóvel e com
dinheiro no bolso. Cresci com ar puro de uma mata que já não existe mas que era
densa e onde brincávamos horas a fio até o sol se pôr, com a ribeira das jardas
ali ao lado, com escolas perto de casa quase porta com porta, andávamos
livremente de bicicleta na rua, tocávamos às campainhas, atirávamos estalinhos
e íamos ao Sr. Ribeiro comprar pastilhas.
Durante anos a fio não se viu
grande evolução por aqui, a não ser a urbanística… desmedida, sem rei nem roque
que nos foi obrigando a ajustar-nos, a ter de circular no comboio apinhado de
gente, mais fluxo de carros, trânsito, falta de estacionamento, os arrumamentos
abandonados, poucos espaços verdes, sem parques ou jardins dignos desse nome
mas a crescer. As pessoas vinham para a Rinchoa como plano B, quase nunca por
se terem apaixonado pela casa ou pelo sítio. E é uma pena.
Essa falta de amor foi abrindo o
fosso que se sente hoje. A Rinchoa não é apenas um dormitório, não é plano B.
Nunca foi plano B mesmo antes de ter crescido como cresceu. Quem veio para aqui
morar, veio com vontade e amor, aqui cresceram famílias, educaram-se filhos,
criou-se o futuro. Muitos acham que reclamar do lixo, dos postes de
eletricidade desligados, da falta de parques infantis, dos cocós dos cães, dos
acessos, das escolas, da falta disto ou de aquilo é o que se deve fazer, porque
não existe amor só desdém e revolta. Problema vosso!
Eu sou daqui cresci aqui, vivo e
vivi na Rinchoa sempre posso falar do que é ter amor ao sítio, a este lugar em
particular. Do que é crescer num sítio e ser feliz, porque tive a sorte de
viver num sítio em paz, bonito e com ar puro. Cresceu como eu cresci, cresceu
comigo…
Quem chega agora ou sente que
veio para aqui por vicissitudes da vida… veja bem onde chegou, vá-se informar e
aprender sobre ele antes de começar a destilar veneno e horrores. Este sítio
tem história, muita! Nunca foi apenas um dormitório nem um sítio só de
passagem. Aqui cresceram e viveram muitas pessoas que no passado fizeram
história e hoje marcam pontos nas artes, na música, na literatura, no meio
empresarial, no meio ambiental, no teatro, na sociedade, na medicina ou nas
novas tendências do mundo…um pouco por todo o lado.
O que nos faz gostar da nossa
família é valorizar a história que ela tem e as ligações. Se escolheram esta
terra para vossa, escolheram-na também para fazer parte da vossa família, por
isso, parem de ver só os defeitos e reclamar e vejam como tudo tem progredido e
avançado nos últimos anos. Não sejam preconceituosos com a vossa casa,
encham-se de orgulho por tudo o que conseguimos fazer para chegar até aqui.
Ainda falta muito, mas já não falta tudo.
Hoje Rio de Mouro está de
parabéns! A nossa terra é uma Vila adulta que está a ficar bem bonita, todos os
dias um pouco mais.
Parabéns para nós.
NOTA: (Não cabe apenas ao Estado
de dever de cuidar dos espaços públicos, cabe a todos… por isso, é impossível a
uma junta de freguesia ou uma camara com mais de 45.000 habitantes só nesta
freguesia conseguir acudir ou corrigir tudo o que é necessário. A comunidade
também tem de fazer a sua parte…como dizia o J. F. Kennedy, na minha versão adaptada:
Não pergunte o que o seu concelho ou freguesia pode fazer por si. Pergunte o que
você pode fazer pela sua comunidade.)
Verdadeiro,bem explanado, enfim texto sábio escrito com mestria , ou não fosse autora Sophia.Bj-
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