E assim termina mais uma
década. Esta foi para mim a década mais difícil mas também a mais proveitosa.
Fazer uma retrospetiva sobre tudo o que me aconteceu nos últimos dez anos é um exercício
brutal mas também uma tomada de consciência incrível sobre tudo o que vivi e
passei.
Não houve nenhuma área da
minha vida que tivesse passado intacta nesta última década, nenhuma! Todas
sofreram alterações e todas passaram por fases dificílimas e por momentos de
paz mas nenhuma – NENHUMA - ficou igual.
Digamos que pensar
concretamente, com estrutura e ordem, sobre o que se viveu nos últimos dez anos
me permitiu concluir que sobrevivo a qualquer coisa nesta vida. Não estou a
exagerar, esta é também uma convicção que trago comigo desde o dia em que
nasci, sobreviver ao impensável, ao inimaginável é um lema de vida, um superpoder
que está registado no meu ADN. Por outro lado, dá-me também a capacidade e a
responsabilidade de gerir a minha vida de uma forma melhor e foi isso que esta
última década me veio trazer: responsabilidade e generosidade comigo mesma.
Sempre fui a minha maior
critica, sempre fui muito dura com as minhas falhas e faltas e com tudo o que
achava ser responsável. Nem sempre somos responsáveis inteiramente por tudo o
que acontece, ainda que tenhamos uma quota-parte, mas o mundo é cíclico e nem
tudo está ao alcance do nosso entendimento ou é para contrariarmos. Não quer
isto dizer que ache que se deva acatar tudo o que o “destino” nos reserva,
muito pelo contrário, acho que algumas coisas acontecem para nos provar que nem
tudo é controlável e que devemos deixar a vida fluir, porque as coisas têm uma
lógica ainda que nos escape. Nós somos senhores do nosso destino, porque temos
sempre opção de escolha, nem sempre depende de nós e é preciso deixar o tempo,
a vida e as circunstâncias fazer a sua parte. Saber esperar e ter paciência, é
outras das lições desta década. Tudo chega para quem sabe esperar… não para quem
se encosta, mas quem semeia, rega, dá amor e aguarda que germine.
Neste percurso tive problemas
e desafios que resolvi, outros nem tanto. Aprendi a custo a fazer uma coisa que
sempre evitei, deixei ir embora quem quis ir embora, não me esforço mais para
insistir com quem não quer ficar, não me esforço mais para agradar pela
necessidade de que todas as pessoas gostem de mim. Quem gosta gosta, não é
preciso malabarismos para que isso aconteça.
Perdi pessoas muito
importantes na minha vida e ganhei outras duas maravilhosas e mais umas quantas
absolutamente incríveis, vivi situações que abanaram todas as minhas
estruturas, questionei-me, duvidei de mim, foi forte, fui fraca, chorei menos
do que devia, superei obstáculos que achei que nunca iria conseguir, suportei
dores físicas e emocionais gigantes, perdi uma gata e ganhei outra. Escolheram-me
para madrinha de duas crianças, alguma confiança devem ter nos meus dotes e
naquilo que sou para me confiarem uma missão tão importe, fiquei feliz por isso
e estarei sempre disponível para os meus meninos.
Com esta década tive de
aprender a usar técnicas de engenharia clássicas, infalíveis ou quase, reforçar
as bases dos alicerces mesmo quando ficaram desfalcados e muito tremidos para
que a estrutura não cedesse e ao mesmo tempo permitir que o edifício por cima
tivesse a flexibilidade necessária para não se desfazer no primeiro temporal ou
tremor de terra. Até agora estou-me a sair bem.
Mudei de rumo, encontrei outros
interesses, voltei a fazer coisas que me apaixonam, reorganizei-me, conquistei
coisas que achava irremediavelmente perdidas, fiz coisas que nunca tinha
ponderado fazer, conheci pessoas fabulosas, professores e mestres incríveis,
resolvi questões que demoram uma eternidade a organizar. Sou muito melhor agora
que era ontem, sou muito melhor a entrar nesta década que fui na década
anterior, mas tudo isso só é possível por tudo o que aconteceu e porque quero
crescer e sentir orgulho em tudo o que passou e na pessoa em que me tornei.
2020 cá te espero.
Fotos - https://www.facebook.com/ruteobadia.fotografia/
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