Um certo tipo de amor

Há um certo tipo de amor que demora a florir. Há um certo tipo de pessoas onde o amor demora a florir. Qualquer uma das afirmações é verdadeira.

A primeira está comprovada, nem todos os amores são à primeira vista ou nascem espontaneamente, precisam de amadurecimento como as sementes na terra. O amor precisa de tempo, dedicação, empenho e coragem para se acreditar que vai germinar. O amor saudável, o que nos faz bem tem premissas que parecem esquecidas. Não tem regras pré-estabelecidas, contudo precisa deixar que a magia faça a sua parte, precisa que não se desista na primeira contrariedade, que não se desista só por desistir, que se deixe de lado crenças e ideias pré-concebidas que se possa ter sobre o amor. Precisa acima de tudo que se deixe de lado a bagagem que se traz. Não podemos esquecer a experiência que temos com o amor e ao mesmo tempo não podemos deixar que isso nos impeça de aguardar o imprevisível. O amor que demora a florir precisa ser original, ter uma linguagem própria e não se deixar minar pela conjetura atual do amor, tão miserável e pouco nobre. O amor que demora a florir é o amor mais simples e elementar de todos, aquele que ainda se sabe existir e do qual não se abre mão.

Depois existem as pessoas onde o amor demora a florir. Não que sejam estéreis, que não precisem ou que não consigam amar, têm apenas a dificuldade em deixar fluir a energia incontrolável do amor por saberem que se irão deixar dominar completamente por ela. São racionais e mantêm uma certa distância de segurança para se precaverem. Precisam ver-se e sentir-se de fora para conseguirem assimilar. Não fazem o que se espera que aconteça, reservam-se para a descoberta maior do amor. Observam, estudam, compreendem, registam e só depois se o amor tocar naquele ponto que só ele sabe, dão-se. Tudo o que demora a florir para estas pessoas é valioso, exige cuidado e atenção, requer dedicação extrema. Podem passar por frios e distantes, mas não se deixem enganar, são de uma profundidade sem fim.

São certos tipos de amor, nem certos nem errados são apenas uma estirpe.



Imagem do livro: “Istambul, Istambul” de Burhan Sönmez, Dom Quixote , julho 2019.

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