O reconforto de um ombro, de um amparo, o estar só por estar.
Só isso.
Gestos simples. Intenções de afecto puras e raras que valem
uma vida inteira.
Conjuntos de palavras que salvam a humanidade da solidão e
da secura dos tempos: foste o melhor que
me aconteceu hoje.
Preocupações de carinho. Desapegos com amor. Gestos perdidos
na rotina do tempo e nas exigências da vida quotidiana. Desperdícios desculpabilizados por tudo e por nada. O deixar
de lado o essencial para nos concentrarmos no trivial.
Falar e não fazer. Fazer e não falar sobre isso. Intenções
em segundo plano para quando der tempo. Quando sobrar um tempo, nunca sobra! A
resposta recorrente: um dia destes. Assim que puder. Prioridades trocadas,
prioridades de natureza duvidosa que nos entopem dos dias. Verdades absolutas
que camuflam dúvidas. Pânicos e medos que minam o espirito e que aceitamos como
ossos do ofício, sinal dos tempos.
A natureza humana é complexa. A simplicidade é tudo o que se
deseja, mas só sabemos complicar. Tememos ouvir a verdade, tememos perguntar
para não saber. Não aceitamos a rejeição na mesma proporção que não aceitamos a
morte. Temos dificuldade em aceitar o que não compreendemos ou o que não vemos.
Os desafios das pessoas enigmáticas que guardam segredos
maravilhosos na alma, têm medo de ser livres e só desejam a liberdade. Têm medo
da felicidade que não reconhecem merecer. Criaturas fascinantes que escondem os
segredos do universo. Fortes e afectuosos em iguais proporções, sem saberem. Pedras
preciosas.
Contrassensos. Desencontros e caminhos que se cruzam por
bons motivos.
Como diz o Lobo Antunes: “Isto as vezes é tremendo, porque a
gente quer exprimir sentimentos em relação a pessoas, e as palavras são gastas
e poucas. E depois aquilo que a gente sente é tão mais forte que as
palavras..." – paradoxos, digo eu.
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