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Cinzas

Somos do sítio onde nascemos e de todos os outros que se entranham na alma. 

Somos do sítio das origens dos nossos antepassados, somos de muitos trilhos e caminhos que definem a nossa génese. Somos do mundo, de Portugal e de algum pedaço de terra perdido no mapa. 

Uma parte de mim vem também do pinhal que agora ardeu (e de todos os outros que arderam anteriormente) das montanhas e vales de Pedrogão Grande, das serras vizinhas, da cordilheira central, das curvas e caminhos de pó, da floresta densa e de todo um conjunto de cheiros que só a natureza daquele sítio tem. 

Há coisas que só se sentem naquelas serras. Há coisas que só se vivem ali. Há um tempo fora do tempo, que pertence a esta floresta única. Cresci com os pinheiros, com os incêndios, com a chegada dos eucaliptos, com o calor de rachar no verão, com o frio de congelar no inverno, com amigos e histórias únicas vividas ali. 

Tenho um amor imenso por estas terras: pela história da minha família que ali se enraizou, pela geografia, pela paisagem, pelos cheiros, pela saudade e por senti-la minha. Por me emocionar sempre que ali volto, por saber que quando morrer irão lançar parte das minhas cinzas no vento da minha terra. 

Senti uma tristeza imensa com as imagens que vi, pelas pessoas que ali morreram, pela aflição que se sente, pela destruição impiedosa da natureza em fúria. Pelos bombeiros incansáveis e corajosos, pelas populações que defendem o que podem como quase nada. Gentes da serra que lutam para salvaguardar o que têm e ajudar no combate às chamas.

Não há consolo possível, no entanto tudo se irá regenerar a seu tempo, isso é certo. 

Tão triste, tão duro, tão injusto...


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