Critérios pessoais

As pessoas têm a importância que lhes quisermos dar. Por mais consciência que se tenha disto, parece quase inevitável elevar algumas em detrimento de outras, com base em pressupostos intuitivos devidamente fundamentados, pela observação empírica, pelo convívio assíduo mais ou menos regular, e por uma série de outras razões, pessoais e aceitáveis de acordo com os critérios de cada um. 

É uma espécie de fé estranha ou crença no outro, como quiserem chamar, que por vezes se simplifica em ver mais do que existe ou do que o outro efectivamente tem. Basicamente é da responsabilidade de cada um, o outro nisto, pouco ou nada tem a dizer ou a opinar, aquilo que eu vejo nele, é do meu olhar e exclusivamente da minha responsabilidade, portanto a importância é uma proporção pessoal e única. A exclusividade que dou ao outro no meu próprio critério é um atributo meu e não dele, ele não pede nada, sou eu que dou, porque quero! Nestas coisas da consciência cada um faz o uso que bem entende da sua. 

Assim sendo, quando a decepção se abate, a falha não é do outro, mas da lista de atributos que lhe associamos e que ele não tem. Ora, se não tem, se não disse que tinha, se não vendeu essa ideia, se não mentiu, a personagem construída é um produto da nossa imaginação, e consequentemente o que nos decepciona é a ideia errada que criamos e que alimentamos, com base na nossa imaginação. 

Vamos ter sempre pessoas importantes na nossa vida, inerentes às circunstâncias óbvias dos laços de sangue e de amizade que se criam, genuinamente e pessoas que nos conquistam. Estas serão sempre pessoas importantes com estatuto diferente, porque vivem connosco mesmo quando estão ausentes. 

Depois existem aqueles que vamos encontrando e que damos hipótese de colocá-los no tal estatuto especial... E abrimos o flanco para enquadra-los na nossa vida e nos tais critérios que achamos que vemos neles. Umas vezes temos sorte, outras nem tanto...

São processos que temos de passar, no decorrer da nossa vida. As relações entre as pessoas nunca são fáceis, seja por excesso seja por escassez parece que falta sempre alguma coisa, parece que os outros não nos bastam, ou nós não nos bastamos ou nós não bastamos ao outro, nunca nada nem ninguém é suficiente para qualquer coisa.  

O segredo talvez passe por seremos mais criteriosos, a quem damos importância, sem que isso nos limite ou cause algum tipo de bloqueio em relação às pessoas, de um modo geral. Ninguém é perfeito, e não dar sequer hipótese para que a outra pessoa se dê a conhecer é violento, é também estarmos a valorizar-nos em comparação com o outro. 

Assumo a responsabilidade, dou importância a algumas pessoas sim, porque acredito nelas, no potencial que têm, sinto a ligação que temos e valorizo. Quero acreditar que é uma relação de reciprocidade. Eu faço a minha parte, nos meus moldes e aceito que o outro faça a sua, de acordo com o seu próprio juízo. Pode até ser desproporcional na forma, mas no fim a importância existe e está subjacente de ambas as partes. O fundamental é isso mesmo.

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