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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2018

De pernas para o ar

Que estamos a fazer ao mundo? No Japão, a população idosa, acima dos 65 anos, maioritariamente mulheres cometem pequenos delitos para irem para a prisão. Fazem-nos de forma consciente, roubam coisas no supermercado para serem presas, e porquê? Ao serem presas, vão para a cadeia onde terão comida, companhia, não terão de se preocupar em pagar contas, não terão despesas e não estarão sozinhas. No fundo, a cadeia passa de estabelecimento prisional, para um centro de acolhimento. Pouco importa se é uma prisão, a base de segurança e conforto supera qualquer estigma. São pessoas que trabalharam toda uma vida e que dispõem de baixos rendimentos, que vivem numa sociedade egoísta onde o conceito de família tem perdido o papel fundamental de apoio aos seus integrantes. Assim, a cadeia apresenta-se como a opção viável para viver. É uma forma inteligente de resolver um problema, do meu ponto de vista, pouco digna mas operacional. Confesso que quando li esta noticia, as lágrimas

Antes e depois

Antes e depois de ti. Existe sempre um antes e um depois, seja do que for. A vida anterior ao tempo zero de um acontecimento ou de um encontro. Para o bem ou para o mal, as coisas nunca mais serão as mesmas. O antes que pela lógica é um depois de outra coisa qualquer, uma forma diferente do original. Tudo o que antes nos faz, é uma metamorfose, por livre e espontânea vontade ou pela lei da força.  O depois é também um processo de reorganização do corpo e da alma. São transformações complementares que ocorrem em espaços temporais divergentes e com efeitos distintos.  O meu eu antes de te conhecer, estava estruturado e orientado de acordo com um plano firme, traçado com base em experiências passadas. As ocorrências vividas encarregaram-se de me moldar, as chamadas técnicas de sobrevivência. Cada um encontra as suas. No entanto, tudo se reajusta quando aparentemente vale a pena. Vale o esforço para o meu eu, que isto aconteça quase sempre, invariavelmente. No momento e

O Manifesto

Ia ser fofinho. Não foi possivel, fica para a próxima. Basta de promessas falsas e da má utilização das palavras. O peditório da boa vontade chegou ao fim, isto não é nenhuma acção humanitária. É preciso expulsar todos os desmazelados sentimentais que arrastam boas almas para o purgatório. Não queremos mais disto. Queremos pessoas que se responsabilizam por aquilo que dizem e que fazem, e por aquilo que não dizem e por aquilo que não fazem. Dizemos não, a montes de retalhos e as vitimas de estilhaços de guerra conjugal. Somos pelas pessoas que não têm medo de dar o corpo às balas ou de se atirar para fora de pé. Não queremos mais mortos vivos ou outras formas de vida paralela. Também somos peremptoriamente contra todos os que fingem ser uma coisa de depois são outra. Decretamos o fim a ladainhas gastas e promessas sem sentido, cuspidas da boca para fora. Morte ao falso, aos plásticos e às falsificações baratas, mesmo que de boa qualidade! Pelo fim dos invert

Loyalty and Orgasms

Que combinação tão improvável! Será um manifesto ou um pedido? É um dois em um. Ora vejamos. A lealdade quase que parece uma qualidade em desuso. Temo inclusive, que se tenha perdido totalmente a noção do que é. Nos dias de hoje parece um conceito abstrato, fala-se dele, algures alguém pensa que é bom, outros escrevem sobre o tema mas poucos o sentem materializado, e todos nós sabemos, que tudo o que o Homem não vê é como se não existisse! Se falta o exemplo pratico de lealdade, é como ir à lua: sabemos que existe, até a vemos, mas nunca lá fomos… e diz-se que uns quantos andaram por lá, mas também não temos garantias que aquilo tenha acontecido. No limite achamos que somos leais, mas lá está, como não sabemos o que é ou como é de facto ser-se leal, somos outra coisa qualquer ou uma lealdade de interpretação livre. Uma lealdade personalizada, que dota o proprietário de um conceito que lhe enche o peito, mas vazio de conteúdo. Aplica-se essencialmente a pessoas que se apre

Evidências

Sabes aqueles dias chatos, em que tudo parece correr mal? Quando adormeces e não consegues chegar a horas. Quando pões uma nódoa na roupa, partes um salto ou deixas cair tudo no chão? Quando trocas a data de uma consulta ou te atrasas num pagamento? É hoje. E apareces tu, do nada numa mensagem ou num telefonema e salvas o meu dia. Consigo sorrir no meio do caos e da confusão. Depois dou por mim a pensar, sabe-se lá porque te amo, mas amo. Talvez por estes nadas, que são tudo, tão clichés. E as coisas triviais tornam-se irrelevantes. Na verdade, tu desarrumas mais a minha vida que os percalços do dia-a-dia. Tu apareces-te para desarranjar a minha vida, para quebrares a minha ordem natural das coisas. Contigo aprendi a ceder, e ceder faz parte de me dar. Sabe-se lá porque te amo. Sei que a vontade cresce, dia a pós dia. Somos tão iguais nos melhores pontos de interceção. Descubro coisas novas, todos os dias contigo. Partilhamo-nos, ensinamo-nos e estamo

Densidade

A própria palavra transmite substância, peso e complexidade. Qualquer coisa que se denomine denso é detentora de volumetria, de um corpo preenchido. Não é simples, não é fácil e não é seguramente leve. Por ser assim, parece também difícil de tocar e de compreender.  A densidade tem um estatuto próprio, é uma barreira maciça quase intransponível. O denso nevoeiro, não permite ver o que está para lá ou quando se vê, não se consegue ter a certeza do que se avista, envolve o olhar em mistério. É também por isso que as pessoas densas são tão atraentes, carregam em si todo um mistério. Guardam segredos que só eles sabem, experiências e conhecimento que só eles têm. São detentores de um património único, que os torna singulares. Os incompreendidos, impenetráveis que falam outra linguagem. Não se encaixam em lado nenhum, não se enquadram em nenhum contexto. Pensam e expressam-se de formas indecifráveis, não se defendem nem são vulnerais, são diferentes. Pagam o preço da incompree

Escrever o que não se diz

Escrever pelo melhor e pelo pior que se pode dizer. Quando não se consegue verbalizar diretamente o quer que seja, escrever aparece como a alternativa viável. A linguagem verbal é mais imediata e directa, mas perde alguma informação. Com a rapidez do momento, não conseguimos partilhar tudo ou partilhamos da forma incorrecta ou pouco eficaz. Não que ache que tenha de existir alguma preparação prévia, mas quase sempre existe. Pensamos com alguma antecedência o que queremos dizer, não queremos perder a oportunidade. Mesmo sem grande preparação para uma conversa importante, esquematizamos mentalmente o que vamos dizer ou o que queremos dizer. Não se podem desperdiçar palavras. Quando se escreve podemos acrescentar e tirar informação na mensagem, podemos escolher palavras e a forma mais correcta de dizer o que queremos. Podemos pensar e repensar, conteúdos e formas. Podemos dispor tudo ao nosso gosto. Enviamos a mensagem quando e como queremos. Ao falarmos estamos a ouvir-n

Aqui e Agora

Hoje é assim. Vivemos projectados num futuro qualquer, que definimos. Achamos que se nos projectarmos ali, vamos conseguir contornar todos os obstáculos e dominar o nosso destino. É bom conseguirmos antever ou tentar, o que pretendemos, é como ver a cenoura na meta... se fossemos um coelho. Dá-nos um estímulo para fazer mais e melhor, para trabalhar com afinco, para lutarmos, para darmos o corpo às balas, para mexermos o rabo da cadeira, isso tudo. É bom termos alvos definidos ou pré-definidos, precisamos saber para onde vamos (às vezes) desde que isso não comprometa o presente. O presente é onde vivemos, é o aqui e agora. E a reforma? A doença? E daqui a um ano? E se morrer amanhã? Não vivi hoje. Não sou pessoa para achar que devemos andar à deriva, não me sinto confortável com essa ideia. Mas também aprendi que nem tudo está ao meu alcance ou que nem tudo é passível de controlo, de intervenção ou é para coordenarmos. A vida vive-se, precisamos deixar algum espaço para a