A própria palavra transmite substância, peso e complexidade.
Qualquer coisa que se denomine denso é detentora de volumetria, de um corpo
preenchido. Não é simples, não é fácil e não é seguramente leve. Por ser assim,
parece também difícil de tocar e de compreender.
A densidade tem um estatuto próprio, é uma barreira maciça quase intransponível.
A densidade tem um estatuto próprio, é uma barreira maciça quase intransponível.
O denso nevoeiro, não permite ver o que está para lá ou
quando se vê, não se consegue ter a certeza do que se avista, envolve o olhar
em mistério.
É também por isso que as pessoas densas são tão atraentes,
carregam em si todo um mistério. Guardam segredos que só eles sabem,
experiências e conhecimento que só eles têm. São detentores de um património
único, que os torna singulares. Os incompreendidos, impenetráveis que falam
outra linguagem. Não se encaixam em lado nenhum, não se enquadram em nenhum
contexto. Pensam e expressam-se de formas indecifráveis, não se defendem nem
são vulnerais, são diferentes.
Pagam o preço da incompreensão, as pessoas densas que sentem
mais do que todos e absorvem sem medida, tudo.
Sabem usar as palavras, dizer o certo e o errado nos
momentos precisos, falam com poesia e com inteligência, conhecem muito e sabem
muito, devoram livros, fixam cenários e enquadramentos cinematográficos, sabem
que tom de voz usar, leem as pessoas, são languidos e sensuais, parecem suaves
e previsíveis, mas são enigmáticas. Quase nunca fazem o que se espera, e fogem
de tudo o que lhes mexa no âmago. Não sabem reconhecer a felicidade, por não se
sentirem merecedores.
Vivem histórias inacabadas, repetem os mesmos erros vezes
sem conta, sofrem como ninguém. Deixam o amor fugir facilmente, são românticos
inaptos, ainda assim, adoráveis.
Não sabem ser de outra forma. Não sabem viver de outra
forma, a densidade adensa-lhes tudo.
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