Escrever pelo melhor e pelo pior que se pode dizer.
Quando não se consegue verbalizar diretamente o quer que
seja, escrever aparece como a alternativa viável.
A linguagem verbal é mais imediata e directa, mas perde
alguma informação. Com a rapidez do momento, não conseguimos partilhar tudo ou
partilhamos da forma incorrecta ou pouco eficaz. Não que ache que tenha de
existir alguma preparação prévia, mas quase sempre existe. Pensamos com alguma
antecedência o que queremos dizer, não queremos perder a oportunidade. Mesmo
sem grande preparação para uma conversa importante, esquematizamos mentalmente
o que vamos dizer ou o que queremos dizer. Não se podem desperdiçar palavras.
Quando se escreve podemos acrescentar e tirar informação na
mensagem, podemos escolher palavras e a forma mais correcta de dizer o que
queremos. Podemos pensar e repensar, conteúdos e formas. Podemos dispor tudo ao
nosso gosto. Enviamos a mensagem quando e como queremos.
Ao falarmos estamos a ouvir-nos no imediato, o impacto é
brutal. Temos noção no preciso momento como são digeridas as palavras que
soltamos, percebemos as reacções do outro e as nossas. Quando as palavras seguem
pelo ar, já não as conseguimos converter noutras, são o que são. O bom e o mau
que se tem na espontaneidade de uma conversa. Ainda assim, corremos o risco de
nos atrapalharmos com tudo o que queremos dizer.
Quando se escreve, somos mais profundos. Depositamos nas
palavras um peso que não conseguimos na linguagem verbal. Somos nós, o papel, a
caneta e um ambiente silencioso. Ganhamos coragem e escrevemos, escrevemos,
escrevemos com entrega. Escrevemos com a alma, confiamos nas palavras um pouco
ou tudo de nós. Queremos dizer tudo na forma certa e com a intensidade necessária.
Escrevem-se as palavras pensadas em quem as irá ler, no impacto que isso terá,
na forma, no conteúdo, no sentido e no significado. Depois deixa-se que sejam
compreendidas no sentido certo, espera-se que sejam sentidas na sua real forma.
Ditas ou escritas, são entregues a quem as recebe. Podem ser
ouvidas, lidas ou ignoradas, podem ser tudo ou nada, podem marcar a diferença,
desencadear uma guerra, uma bonita história de amor ou cair no vazio. Podem ser
muitas coisas, muitas vezes são palavras que se escrevem por não se ter coragem
de dizê-las, por não se saber quando ou como dizê-las. Pelo receio do ridículo.
Quando se sente mais do que se consegue expressar, escreve-se.
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