Hoje é assim.
Vivemos projectados num futuro qualquer, que definimos.
Achamos que se nos projectarmos ali, vamos conseguir contornar todos os
obstáculos e dominar o nosso destino. É bom conseguirmos antever ou tentar, o
que pretendemos, é como ver a cenoura na meta... se fossemos um coelho.
Dá-nos um estímulo para fazer mais e melhor, para trabalhar
com afinco, para lutarmos, para darmos o corpo às balas, para mexermos o rabo
da cadeira, isso tudo. É bom termos alvos definidos ou pré-definidos,
precisamos saber para onde vamos (às vezes) desde que isso não comprometa o
presente. O presente é onde vivemos, é o aqui e agora. E a reforma? A doença? E
daqui a um ano? E se morrer amanhã? Não vivi hoje.
Não sou pessoa para achar que devemos andar à deriva, não me
sinto confortável com essa ideia. Mas também aprendi que nem tudo está ao meu
alcance ou que nem tudo é passível de controlo, de intervenção ou é para
coordenarmos. A vida vive-se, precisamos deixar algum espaço para a magia
acontecer, para os milagres, os acasos ou imprevistos. Precisamos deixar que a
vida nos surpreenda também. E ela surpreende-nos sempre, assim que soltamos as
amarras, é garantido.
Já testei, é verdade. Tenho provas. Todas as vezes que
solto, que deixo que aconteça, que não me projecto lá ou que não tento conduzir
os acontecimentos num sentido que me parece o mais certo, a vida surpreende-me.
Mesmo quando é mau, surpreende-me e é sempre uma lição importante. Merecia
aprender assim, todas as vezes que tentei manipular a minha vida, o meu caminho
de alguma maneira ou levei com uma enxurrada encima ou simplesmente recebi o
que pedi, para perceber no segundo a seguir que afinal estava enganada.
Paciência…agora é o que tens.
E todas as vezes que foi bom, foi realmente bom e
inesperado.
No fim do dia, o que importa não é como vai ser amanhã, o
que importa é que tivemos hoje e fizemos o melhor possível com este dia irrepetível
que recebemos. Tentamos hoje, como vamos tentar amanhã, mas hoje é que conta.
Coisas simples como: dizer a alguém que sentimos saudades, que gostamos de
qualquer coisa, que nos sentimos bem, que conseguimos sentir a nossa pele e que
estamos felizes com o corpo que temos. O brilho do sol, os cheiros do quente, a
água que limpa as mãos ou ouvir música, pequenas delicadezas que podem
transformar um dia simples num dia simplesmente divinal.
Passamos o tempo a correr a trás do futuro, sem apreciar o
presente. Achamos que o futuro vai ser melhor que aquilo que vivemos aqui e
agora, e quem é que garante isso? Hoje é bom, hoje é óptimo, hoje é fantástico,
isso é seguro. Quem nos garante que amanhã será assim? Pode até ser melhor mas
pode ser pior, pode apenas ser apenas mais um dia.
Pode ser mais um dia para um reencontro que se espera
eminente, pode ser um dia sem chuva, pode ser o dia em que se perde a carteira
ou que se perde um avião, que se parte um copo ou que se escolhe a roupa errada
para vestir, ou quem sabe, que se ganha o euromilhões. Seja o que for que
chegue amanhã, hoje tem de bastar.
Amanhã logo se verá.
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