Apropriado para esta semana, em que fui ver o documentário
sobre a vida do Kurt Cobain. Fiquei a entender porque se apresentou em Cascais completamento apático. O concerto aconteceu a 6 de Fevereiro 1994 e o Kurt
cometeu suicídio a 5 de Abril do mesmo ano. Não devia estar no auge do contentamento...
No palco esteve apenas para fazer o
que lhe competia com nenhuma interacção com o público. Apenas cantou e tocou,
sem dirigir uma única palavra ao público presente. Na altura achei aquilo
demais, e fez-me gostar menos de todo o concerto. Só que eram os Nirvana e a
eles tudo se perdoa.
Recordo do meu pai me dizer: "olha aquele tipo que foste ver
no outro dia, morreu. Estava a dar nas noticias." Acho que nem fiquei surpreendida, talvez suspeitasse que seria o desfecho lógico.
Sempre achei que o Kurt Cobain era um
homem denso, profundo e melancólico e comprovou-se com o documentário. Não iria dar para viver mais do que foi. A vida não foi fácil para o Kurt, um tipo sensível e incompreendido que na realidade só queria ser feliz. Tão básico quanto isto, mas vital para ele. A ausência da felicidade ambicionada deixou marcas profundas. E justiça seja feita, a Courtney Love deu-lhe o amor e as referências (ainda que distorcidas no contexto da vida de ambos) que precisava. Ali havia amor, mesmo real. De parte a parte. Se todo o resto lhe faltou, o amor encontrou-o ali. Gostavam-se imenso. Para mim foi um
exemplo de como a realidade pode superar a imaginação, o que me faz gostar
ainda mais de biografias em comparação com a ficção.
Voltando ao concerto.
Estava frio e foi uma aventura apanhar o comboio da linha de
Cascais, sair em Cascais e fazer tempo para o início do concerto. Recordo-me de
estarmos todos em grupo sentados na praia a conversar para passar o tempo e disfarçar
a ansiedade. Queríamos muito ver os Nirvana ao vivo, acho que todos sabíamos que
íamos testemunhar um momento histórico, mesmo sem termos previsto o que o
destino reservou ao Kurt Cobain.
O In Utero foi o álbum em destaque, o segundo mais
importante na curta discografia da banda. Tocaram tudo o que lhes competia,
incendiaram o público, foi eletrizante, potente, mágico. Ficamos todos ao rubro!
Mesmo sem a interação do Kurt, o Kris fez as honras da casa. Foi memorável. Depois dos Nirvana, poucas bandas chegaram ao topo em tão
pouco tempo e lá ficaram no estatuto de Eden das bandas.
Inesquecível.
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