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Vidas Fast Food

Já não nos bastava a comida na versão fast food: as sopas instantâneas, os bolos sem sabor, as fibras e os tecidos plásticos, as imitações, as lojas dos trezentos e agora as pessoas tratarem-se como fast food! Ou esperarem que tudo seja no ritmo de um hamburger no Mcdrive. Que desperdício! Que é feito do envolvimento pelo gosto da descoberta?

O tempo esse carrasco que nos consome a alma e o corpo. Hoje temos de comer depressa, chegar depressa, enfardar o número certo de calorias, dar uma rapinha, dizer coisas inteligentes e com propriedade, ir ao ginásio, aprender, dormir, correr e fazer tudo isto num só dia ou em menos horas possíveis e achar que assim é a qualidade de vida perfeita! E é assim que nos relacionamos com as pessoas também, vejamos:

Ou contas toda a tua vida nos próximos dez minutos ou podes ir embora.
6 meses são uma eternidade para esperar que alguém se encante por outra.
A agenda diz que tenho daqui a 3 meses um tempinho para ti. Se te portares bem!
Conheci-te ontem, mas hoje já não sei se quero conhecer mais.
Sonhei que fazias isto por mim. AH não és assim… que pena, ou as coisas são como eu quero ou não são.
Eu mando e tu fazes.
Dizemos não e queremos dizer sim e sim quando queremos dizer não e é suposto vivermos com um descodificador incorporado ou algo do género.
Tens problemas? Ai céus não quero amigos com problemas, comigo só gente cool e despreocupada. Problemas atraem problemas e isso não é para mim!
Lês muito. Ai que seca… não tenho tempo para isso.
Fazer o jantar quando podemos encomendar?
Passar horas a falar sem nos envolvermos sexualmente? E falamos de quê?

Os Romanos não construíram um império do dia para a noite. Alguma coisa se constrói do dia para a noite? Pelo menos alguma coisa que valha a pena? Se assim fosse uma pessoa teria filhos e mandava-os logo para o mundo com a mensagem: desenrasca-te!

Esperamos que os outros apareçam prontos a consumir, sem espinhas. Que sejam tão simples de interpretar e conhecer que não nos façam perder tempo: O quê? Conversar? Detalhar? Aprofundar? Para quê? Amanhã já não sei se me apetece.

A fast food é comida do desenrasque. Uns dias tem mesmo de ser, mas não é regra é exceção. Nada substitui um prato bem confecionado, nada! Bem partilhado, saboreado, com tempo e com gosto. Nada… e tudo o que se aprende quando nos disponibilizamos para conhecer uma pessoa com tempo, com alguma dedicação apenas pelo interesse que isso nos desperta. Sem pressões, sem medos, sem tretas e tretas que inventamos para não nos dispormos a isso. Estamos a perder o norte…

Desde quando é que conhecer uma pessoa se faz em 24h? Isto não é o big brother, lamento informar! As pessoas têm especificidades, encantos, desencantos, qualidades e defeitos que não afloram do dia para a noite, só porque não estamos abertos para mais. Temo que algumas pessoas carreguem caderninhos com nomes que vão riscando e pondo a vermelho: não serve! (inapto – com graves defeitos). Como se as pessoas servissem apenas para preencher o universo à nossa volta, como todas as tralhas que compramos.

Esta sociedade assusta-me ou não estou a conseguir adaptar-me…


Comentários

  1. Parece uma alfinetada ao pessoal do face??? :D
    Beijinhos,
    Bruno

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    Respostas
    1. Se fosse só o facebook estariamos nós bem! Eu acho que é um problema estrutural muito mais vasto, que se acentuou com o facebook é verdade. Tem muita coisa boa e muita coisa má. É uma completa alteração na forma de estar com os outros, na forma como interagimos e comportamos. É mais uma vez o mundo estar do avesso...
      Um fast food de almas! Como se as pessoas se pudessem tratar de forma descartável ou desvalorizada. Não nos damos ao trabalho de conhecer as pessoas para que o outro não se atreva a meter-se na nossa vida! E nesta lógica, tudo o que não é rápido e imediato a dar-se morre na praia. Nunca vi nada de jeito ser construído sem alicerces sólidos ou pelo menos com alguma estrutura. Mas começo a achar que sou eu que estou errada, já que anda tudo nesta espiral. Não tenho pedalada!

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    2. Tens razão hoje em dia é tudo fast qualquer-coisa, queremos tudo para ontem, e pedem-nos coisas para ontem... Para quê tanta correria?

      Parece que fazer as coisas com tempo, ou deixar que o tempo escorra por nós e pelas coisas é coisa que só os loucos de hoje fazem. :P

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    3. Dai a minha conclusão, nunca me conseguirei adaptar!

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