Avançar para o conteúdo principal

De pernas para o ar

Que estamos a fazer ao mundo?

No Japão, a população idosa, acima dos 65 anos, maioritariamente mulheres cometem pequenos delitos para irem para a prisão. Fazem-nos de forma consciente, roubam coisas no supermercado para serem presas, e porquê?

Ao serem presas, vão para a cadeia onde terão comida, companhia, não terão de se preocupar em pagar contas, não terão despesas e não estarão sozinhas. No fundo, a cadeia passa de estabelecimento prisional, para um centro de acolhimento. Pouco importa se é uma prisão, a base de segurança e conforto supera qualquer estigma. São pessoas que trabalharam toda uma vida e que dispõem de baixos rendimentos, que vivem numa sociedade egoísta onde o conceito de família tem perdido o papel fundamental de apoio aos seus integrantes. Assim, a cadeia apresenta-se como a opção viável para viver.

É uma forma inteligente de resolver um problema, do meu ponto de vista, pouco digna mas operacional.

Confesso que quando li esta noticia, as lágrimas correram pela cara, chorei. Chorei ao ponto de deixar de conseguir distinguir as letras. Senti-me imensamente impotente e profundamente triste, como é possível que isto aconteça? Que isto aconteça num pais altamente esclarecido e culturalmente desenvolvido? Que estamos nós a fazer ao mundo? Que sociedades são estas? Que pessoas somos nós? É este o mundo que queremos deixar para os nosso filhos?

Não conheço a história do Japão, mas as noticias que vão surgindo de lá, são assustadoras. O envelhecimento, as mulheres e homens que abdicam de ter família ou filhos para poderem comprar produtos de luxo.

Uma elevada taxa de suicido que só diminuiu com o acidente nuclear de 2011. Dizem os especialistas que as pessoas sentem-se desenraizadas e pouco solidárias, e como não se sentem uteis de forma alguma matam-se. O que aconteceu após este incidente, foi que as pessoas descobriram a forma de se sentirem uteis, de ajudarem e de se mobilizarem por uma causa maior. Esta ocorrência destruidora, teve influencia direta na diminuição de suicídios no Japão. As pessoas dispuseram-se para ajudar os que perderam tudo, para dar e recolher alimentos, para salvar os animais que ficaram no meio da destruição, ajudaram e recolheram pessoas, reconstruiram e limparam a destruição, encontraram um motivo para viver! A taxa de suicídio diminuiu significativamente.

No Japão existem poucas crianças. A maioria da população é idosa, os jovens não querem ter filhos, não querem ter encargos, limitações orçamentais ou algo que os impeça de viajar pelo mundo ou de simplesmente gastarem o dinheiro em marcas caras e produtos de luxo. O crescimento do produtos de luxo no Japão tem sido exponencial. E pelos vistos também não é suficiente, porque apesar de viverem e gastarem como querem, o suicídio em alguns casos continua a ser a alternativa a uma existência penosa. Novos e velhos que vivem sós, aparentemente na apologia de uma sociedade moderna, mas que no fundo os torna simplesmente descontextualizados, desintegrados e apresenta-lhes o suicídio como a única alternativa viável.

Em que parte é que nos perdemos?



Comentários

  1. Olá Sofia, estava com saudades de um post assim no teu blog. Muito bom post, bem na linha daquilo que eu penso sobre este tempo que vivemos. Muito sinceramente a única coisa que conta nos dias de hoje são os $$$. E não há volta a dar. Por mais que tente pensar numa saída numa forma de converter e reciclar a visão geral das coisas, acabo por falhar. Recentrar o pensamento na humanidade, nos valores, princípios e ideais parece algo que só seres alienígenas conseguem fazer. :) Sorriso apesar de tudo...

    Banda sonora: Warhaus - Mad World ( https://www.youtube.com/watch?v=beyshXdfNUI )

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Bruno! Já tinha saudades dos teus comentários :) é verdade o Japão, é um caso singular no mundo... pelo menos para mim. Tem tudo para ser uma sociedade saudável e recomendável...e depois, acontecem estas coisas... são muito fortes: suicidio, baixa natalidade, consumo excessivo de marcas, viver para aparências e para o imediato, o abandono dos idosos, solidão, isolamento... enfim, aos poucos é para isto que caminhamos. Mas ainda vamos a tempo de inverter a tendência, pelo menos acredito nisso.

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Não devemos voltar a onde já fomos felizes

Hoje acordei com esta expressão na minha cabeça: “não devemos voltar a onde já fomos felizes”. Sempre que penso nisto, e cada vez mais me convenço, que está completamente errada. Na prática, acho que a expressão tem a ver com pessoas e não com lugares. Não voltarmos a onde já fomos felizes, ou seja, não voltar para determinada pessoa. O local acaba por vir por acréscimo, já que as memórias não ficam dissociadas de situações, locais ou pessoas. Mas é sempre por aquela pessoa específica, que não devemos voltar atrás e não pelos  momentos felizes que se viveram naquela praia ou no sopé daquela montanha. É o requentado que não funciona… ou não costuma funcionar. Acredito que para algumas pessoas dê resultado, mas de uma forma geral, estar sempre a tentar recompor uma situação que não tem concerto, não tem mesmo solução! Mesmo quando existe muito boa vontade e uma boa dose de amor. Voltando aos locais, que é isso que me importa. A história reescreve-se as vezes que forem pre

Nirvana no dramático de Cascais

Apropriado para esta semana, em que fui ver o documentário sobre a vida do Kurt Cobain.  Fiquei a entender porque se apresentou em Cascais completamento apático. O concerto aconteceu a 6 de Fevereiro 1994 e o Kurt cometeu suicídio a 5 de Abril do mesmo ano. Não devia estar no auge do contentamento... No palco esteve apenas para fazer o que lhe competia com nenhuma interacção com o público. Apenas cantou e tocou, sem dirigir uma única palavra ao público presente. Na altura achei aquilo demais, e fez-me gostar menos de todo o concerto. Só que eram os Nirvana e a eles tudo se perdoa. Recordo do meu pai me dizer: "olha aquele tipo que foste ver no outro dia, morreu. Estava a dar nas noticias." Acho que nem fiquei surpreendida, talvez suspeitasse que seria o desfecho lógico.  Sempre achei que o Kurt Cobain era um homem denso, profundo e melancólico e comprovou-se com o documentário.  Não iria dar para viver mais do que foi. A vida não foi fácil para o Kurt, um tipo se

Guns N Roses - Alvalade 2 Julho 1992

O concerto que não aconteceu porque eu não fui. É de todos os que não fui, aquele que mais me marcou, por uma série de acontecimentos. Queria mesmo ter ido! Foi o apogeu do Axl Rose, como se comprovou mais tarde… nunca mais voltou a ser o mesmo, aliás os Guns tornaram-se uma bandalheira que ficou presa naquele tempo. Não conseguiram cimentar o percurso musical para além daquele período histórico. Adiante… 1992 foi o ano do cão para toda a nossa família, começou com o desfecho tenebroso em 1991 com os AVC’s do meu avô e com o morte dele em Março. Depois disso piorou com a crise de apêndice da minha irmã, que era supostamente uma coisa simples para uma operação de meia hora e demorou 3h! Ainda por cima a minha irmã estava a começar a época de exames de acesso à universidade, o último ano da PGA. Digamos que 1992, foi o ano dos anos… O concerto só seria em Julho, a minha irmã já estaria boa e íamos com a minha prima e outra amiga. Como filha mais nova, não poderia ir sozi