Que maior contrassenso poderá haver, do que guardar os contactos dos mortos e apagar o dos vivos?
Uns partiram involuntariamente, já os outros assim o escolheram, estão no seu direito, não me interpretem mal. Da mesma forma, que decido os contactos a manter, outros farão o mesmo. Somos livres para escolher quem queremos ter por perto e quem não queremos. O mundo é feito de escolhas, mais ou menos determinantes, livres e opcionais.
Quão terapêutico pode ser um delete? Muito! Todos sabemos disso. Mas só o é, se não for apenas um delete na agenda mas na alma também. Não adianta apagar um contacto, se aquela pessoa continuar a ressoar dentro de nós. Pode ser o primeiro passo para desaparecer, só não será naquele momento.
Nem sempre é facil, ainda que necessário, apagar nomes e referências de pessoas que de algum modo fizeram parte da nossa história mas temos de ser práticos. Tal como se faz com a arrumação de um armário, se não se usa para quê guardar?
Ok, estou-me a contradizer um bocadinho, já que admiti que não consigo apagar os contactos dos mortos... só que estes ausentes deixaram uma história marcante e a existência do contacto deles na lista telefónica dá-lhes um resto de vida. Para mim continuam vivos porque os nomes e os números continuam a fazer parte da minha lista, simbolicamente é uma pequena homenagem que lhes presto, a eles e a mim.
Se sentimos que devemos reorganizar a lista do telefone, então temos de assumir a decisão até ao fim, não é um delete a fingir, daqueles em que se guarda o número numa nota ou printscreen, é um delete sem margem para recuperação.
Podemos ocultar ou esconder para não vermos, na verdade só estamos a adiar o inevitável e mentir para nós próprios. As pessoas não são só um número de telefone no telemóvel, estão lá porque existe uma ligação e num momento ou outro o contacto é estabelecido. Se isso não acontece ou deixa de acontecer então porquê guardá-lo?
A vida é muito curta para carregarmos bagagem desnecessária e listas de contactos inúteis.
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