Os inconformados

Não se pode negar que existe um fascínio que ultrapassa a compreensão nos inconformados e no inconformismo de um modo geral.

O não aceitar as coisas como são, só pelo facto de serem como são. É querer mais do que aquilo que se vê e do que aquilo que está percetível a todos.

O querer aqui, não é um querer de ter como quem acumula coisas de que não precisa, é um pensar estruturado e estruturante sobre questões fundamentais da vida porque não são claras ou deixam margem para muitos pontos de interrogação. É um pensar denso que procura descortinar todos os meandros das questões, que não se fica pela rama ou pelo óbvio que mergulha em profundidades que nem sempre conseguimos compreender. Os porquês que precisam de uma causa e de um efeito, tudo tem uma explicação só se precisa descobrir qual. As origens têm princípios que precisam ser compreendidos, o todo é muito mais do que um emaranhado de pontas soltas.

São as pessoas que se perdem por pensamentos que podem mudar o curso da humanidade, que esperam mais de si próprias e do mundo que as rodeia. Que não se limitam a existir por existir, que de algum modo pretendem fazer a diferença num mundo cada vez mais amorfo. São pessoas complexas e intensas, daquelas que me agradam profundamente. Não são superficiais mesmo quando são excessivamente complexas, têm um encanto muito próprio. Talvez precisem apenas que as oiçam, que as compreendam e não as critiquem. Talvez precisem apenas que as deixem voar sem as amarrar a ideias ou situações, que as castrem. Os inconformados são criaturas livres e isso por vezes torna-os solitários e incompreendidos, mesmo que involuntariamente. É muito difícil falar uma língua diferente do resto do mundo, sentir-se desajustado e desenquadrado, saber-se parte de um sitio e espaço mas não se identificar com ele, não é fácil. Deambulam por um vazio.

As pessoas que nascem para fazer a diferença e que sentem a diferença como uma parte de si próprias. Que dão o corpo às balas e que se expõem como o Michael Hutchence, na foto. Como ele, outros tantos dos mais variados meios e partes do mundo. Os que procuram que o inconformismo e a diferença não os engula como um monstro gigante, mas que infelizmente muitas das vezes acaba por fazê-lo. Há sempre um momento qualquer na nossa vida que nos sentimos assim. E há pessoas que vivem deste modo sempre. 

Sem eles não existiria progresso, modernidade ou futuro. São o impulso dos impulsos, lamento que não o saibam fazer no presente e estejam em constante desespero e desejo pela mudança que há-de vir e não pela mudança que estão a executar aqui e agora. Viver no presente é um desafio que o inconformismo e os inconformados não conhecem, mas que deveriam aos poucos tentar implementar em si. O mundo precisa deles, eu preciso deles, mas sem que isso lhes custe a vida. 

(Michael Hutchence - vocalista dos INXS, um dos fascinantes.)

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