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Escolhas

Um exercício.

Imaginem que têm três escolhas possíveis para um desfecho idêntico, uma meta. Se preferirem (para tornar o exercício mais visual) estão num cruzamento e pela frente têm três caminhos possíveis, a única coisa que sabem é que a distância em todos é igual (o caminho a percorrer até ao fim), mas não sabem como é cada percurso e quais a dificuldades que irão encontrar. Importante frisar que o irão fazer a pé, sem ajudas ou apoios de outros meios de locomoção e farão o caminho sozinhos. Como estamos no início do processo, todas as possibilidades estão em aberto e em pé de igualdade. São reais, são palpáveis e todas se podem concretizar em qualquer um dos caminhos. Nesta fase o primeiro desafio é deixar de lado qualquer juízo de valor, preconceito, ideia pré-concebida e tentar voltar à estaca zero – tábua rasa – para ficarmos o mais limpos possíveis que conseguirmos.

Assim analisamos as possibilidades, como elas parecem ser, cada uma delas. No ponto de partida recebemos um guião, onde nos apresentam cada um dos trilhos que temos à nossa frente. Só depois de devidamente analisados passaremos a escolher o melhor caminho ou aquele que achamos mais certo para nós. Devemos escolher o caminho por aquilo que nos faz sentir e não por aquilo que achamos que podemos alcançar com ele, esse é o grande desafio. Dissociar a razão do coração.

1.   O primeiro caminho é um percurso de dificuldade moderada e está situado à tua esquerda. É preciso alguma preparação física e psicológica para enfrentá-lo, em alguns momentos vai parecer linear e estável no entanto alguma da sua inclinação não se percebe, só quando se começa a andar é que se percebe o grau de dificuldade. A paisagem em quase todo o percurso é idêntica, grandes planícies, muitas retas de grande dimensão sem bermas. O tempo vai mudando de abertas para aguaceiros leves mas persistentes. O vento traz música e facilita em algumas fases do caminho. Os picos são inconsistentes e por vezes penosos tanto nas subidas como nas descidas mas podem reservar surpresas em cada um deles.

2.     O segundo caminho está mesmo de frente para ti é também um percurso de dificuldade moderada. Na verdade não sabemos grande coisa sobre ele, apenas que se multiplica por vários trilhos que são apenas desvios para o vislumbre da paisagem, não são caminhos alternativos. A paisagem vai-se modificando ao longo de todo o percurso de planícies para planaltos, planaltos para montanhas e de zonas verdes para zonas secas. O percurso é linear e sem grandes percalços. O tempo acompanha cada local e todas as transições, ajustando-se à paisagem. Os sons são os da natureza em estado puro. Nem sempre se sabe o que se vai encontrar mais adiante, só se sabe que irá ser diferente.

3.   O terceiro caminho está à tua direita. Este é o percurso mais difícil onde todo o tipo de dificuldades irão aparecer. Vais encontrar percursos em pedra, terra batida e alcatrão. Subidas bem ingremes, florestas densas, desertos secos, rios que atravessam o caminho, chuvadas fortes, trovoadas, furacões e dias de sol e calor magníficos. Tudo neste caminho é imprevisível, não sabes onde irás encontrar as oscilações do tempo ou do terreno. Uma parte do caminho irás fazê-lo de noite, sem luz e sem lua. Vais ouvir todo o tipo de sons: os animais da floresta, as arvores, o vento, os passarinhos a cantar, as leves brisas do verão e música dos mais variados estilos. Se escolheres este caminho tens de estar consciente dos perigos: podem aparecer animais selvagens e buracos fundos ou praias de sonhos e paisagem idílicas, só não saberás quando ou em que momento do percurso.

Que caminho escolheriam?
Que vos diz o vosso coração?


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