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Jet-lag

 Quando eu quero, tu não queres. Quando eu posso, tu não podes.

Ás vezes queremos mas estamos em pontos opostos do mapa, ou a rotina ou os compromissos. Nem em sonhos nos encontramos, porque acordo cedo e deito-me tarde, porque dormes pouco e não se consegue nada com pouco tempo a sonhar. Porque sonho acordada e tu não. Sou demasiado racional para libertar coisas.

Mas parece que este é um problema da sociedade actual. Felizmente ou infelizmente, não é exclusivamente meu ou nosso. As pessoas deixaram de saber relacionar-se. Deixaram de acreditar em milagres, magia, amor e algum romantismo. O fim das cartas por correio assinala a morte prematura destas coisas todas.

Deixou de se saber esperar, deixou de se acreditar… do conhecer com tempo e com disponibilidade. O de estar só por estar. Saber esperar por um telefonema, por uma carta, por que nos batessem à porta. Encontros marcados com semanas de antecedência, sem hipótese de desmarcar e sem querer desmarcar. Ansiedade que muda de forma. Fica negativa, pesada, dura e mata. Não causa formigueiros ou borboletas na barriga, os que ainda acreditam nisso ou estão loucos ou com cólicas. 

Lá se vai a magia. Estamos todos em jet-lag na nossa própria vida: amorfos, cansados, saturados e desacreditados. Nunca é o tempo certo, nunca quando precisamos e muito menos quando queremos. 

E é tudo uma injustiça, porque o tempo esse sacana, corre depressa demais e não temos tempo a perder. E às vezes só nos queremos perder com aquela pessoa, sem telefones ou relógios. Não queremos tempo, queremos momentos. Entre um jet-lag e outro, vivemos e construímos histórias. Não estamos cá só para passar o tempo e ver os dias passarem. Primeiro descobrimo-nos, depois conquistamos todo o resto. 

Às vezes só precisamos deixar-nos ir. Se nos sentimos bem, se estamos bem, se é contigo que eu quero estar, para quê complicar? Afinal de contas, vivemos no mesmo fuso horário.


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