Desde que tenho memória que é assim. As decisões e opções de
escolha são factores inerentes à vida, não só na minha mas de todos.
Era confortável quando os pais e os avós escolhiam o que
tínhamos de comer e o que iríamos vestir. Deixava-me mais tempo
para brincar e fazer o que quisesse sem ter de me preocupar com pormenores
secundários. Que se lixasse se iria esfregar o vestido novo no cão ou no pó do
quintal, coisas da vida! Quiçá destruir roupa nova a subir a uma árvore. Danos
colaterais. Como estas coisas todas me chegavam às mãos ou à boca,
sinceramente pouco me importava. Nas horas marcadas e quando era necessário
havia sempre de tudo, o que era necessário: família, comida, roupa,
dinheiro, saúde, férias, amigos, animais, bicicletas, roupa lavada, banho,
calor e amor… nunca me preocupei com as proporções destas coisas. O que tive,
sempre me chegou. Provavelmente não precisava de mais ou diferente. Na
realidade só tinha de ser o que era, criança. Não esperavam que fosse de outra
forma e isso é essencial para quem está a crescer. Aceitar as etapas e não
esperar mais do que é natural.
Depois crescemos, e que treta que isto é! Dizem-nos que
ficamos livres. Livres de quê? Livres para optar e escolher? Mãe por favor,
escolhe-me a roupa e o almoço por mim! Que canseira… não só temos de decidir o
que queremos da vida, como o queremos, porque o queremos, ainda temos de entender…
fora isto tudo, temos de carregar tarefas profissionais, domésticas, sociais e
sei lá mais o quê! Temos de cumprir horários, compromisso e fazer o que esperam
de nós. O correcto. (seja lá isso o que for)
Uma canseira! Não podemos saltar etapas?!
Temos idades com
requisitos, estatutos sociais para preencher, carreiras para atender, atitudes
esperadas para tomar. Somos livres para quê? Podem dizer-me? É que nem para
amar somos livres. Para além de todos os entraves naturais e complicados dos
relacionamentos, ainda temos de ter alguém ao nosso lado que os nossos pais e
amigos gostem, que corresponda ao nosso “estatuto”, que cumpra os requisitos
básicos de uma pessoa decente e sei lá mais o quê… e claro, que nos ame
incondicionalmente, de preferência como vem nos livros ou como aparece no
cinema.
Olhem, isto tudo cansa. Se não escolhermos, a vida escolhe
por nós ou manda o que entender que nos dar alternativas. Sei lá, matamos a
magia com estas coisas todas. O lado peixes que tenho em mim, entristece-se com
isto… e recusa-se a aceitar. A única coisa que vale a pena é o amor… e mesmo
ele, tem de ficar balizado no meio destas tretas todas. Não tem… nós é que o
metemos lá! Que desatino...
Olá Sofia
ResponderEliminarRealmente isto, do livre arbítrio, da autodeterminação, etc e tal, por vezes é um fruto bem amargo, pq é como dizes nem sempre apetece decidir, e mesmo decidindo temos depois de aturar o escrutínio alheio.
Enfim é acreditar no ideal da coisa, e não a agitar muito, nem olhar para os grilhões que nos prendem de verdade nem somar a estes outros possíveis grilhões...
Banda Sonora: Sequin - Flamingo ( https://www.youtube.com/watch?v=N4qdRldNYKY )