Com saudades de ter saudades.
E não são saudades do que não vivi, porque não posso sentir
falta do que não sei. Não é o desconhecido que me faz sentir saudade, o que me
faz sentir saudade é tudo aquilo que reconheço, que sei que é bom, que me
marca, que mexe com a alma. O futuro trará saudades quando se tornar passado,
antes disso não. Expectativas não são saudades, são outro tipo de sentimento.
Sinto saudades do meu avô, da infância onde todos estavam
presentes, de ser criança, das costeletas com pimentão da minha avó e de brincar sem preocupações e sem tempo.
Sinto saudades das borboletas na barriga, de levitar, de me
sentir apaixonada, do amor bom!
Sinto saudades dos dias longos, quentes, meio loucos e não
planeados.
Das noites inteiras a conversar, do nascer do sol, das
chegadas ao aeroporto às 4 da manhã para partir para o desconhecido.
Dos telefonemas e mensagens e meio da noite, das gargalhadas de fazer doer a barriga, de bons filmes, das melancias gigantes na beira da estrada, da água do rio e até das calhandras!
Dos encontros casuais, de ouvir Doors no meio do nada, de
descobrir dinheiro perdido num bolso, de ficar com os dedos sujos dos desenhos
a carvão.
Os dias cinzentos servem para estas coisas, puxam a
nostalgia. Gosto muito do Verão mas também gosto muito do Outono. São as cores
quentes e as folhas secas que me encantam juntamente com os cheiros inconfundíveis
de cada uma destas estações. O Verão é o calor e o sol no seu esplendor o Outono encerra o Verão de forma delicada, folha a folha, hora a hora… encerra a luz
com gentileza e brilho.
Ou como diz a Clarice Lispector: "Saudade é um pouco
como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão
profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa
vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais
urgentes que se tem na vida."
Apetecia-me absorver a saudade toda.
Gostei que tivesses pegado neste tema da saudade.
ResponderEliminarPor vezes falando da Saudade o feedback que tenho é que é algo para não se ter, a sensação com que fico é tipo: "- É pouco higiénico sentir saudade!".
Falando por mim, mantenho os pés assentes na terra, não projeto a saudade para o futuro, mas trato realmente a Saudade como título de uma biblioteca imensa de memórias que visito sempre que me apetece. E apetece-me muitas vezes... :)
A saudade funciona um bocadinho como a velhice ou os mais velhos. Se calhar
ResponderEliminaré um exemplo um bocadinho disparatado, mas a associação para mim é simples!
Com os mais velhos aprendemos com a experiência deles, com as vivências,
com a partilha... e com isso fazemos o que bem entendermos, não temos de
seguir o mesmo a caminho, mas dá-nos uma perspectiva. Não é nada que se
possa neglicenciar ou desvalorizar, dá-nos bagagem. É um patrimonio que
adquirimos. É como a saudade, lembra-nos qq coisa, momento ou pessoa... e
isso é imutável. O futuro é o que nos aguarda é o caminho para a frente,
mas eu só posso ser melhor se perceber o que deixei para trás e o que
aprendi com isso, a saudade ajuda-nos nesse processo. Não me condiciona,
porque o passado já não se volta a viver, mas dá-nos valor. Mas isto é como eu vejo as coisas :)