Uma sexta-feira destas resolvi andar, que é uma coisa que
gosto imenso de fazer… ajuda-me a pensar e a libertar o espirito de todos os
stresses. É o meu momento de catarse.
Então fiz-me à estrada do Saldanha até ao Rossio, que é um
passeio fantástico e que se faz lindamente. Lisboa é uma cidade fabulosa, com
um enquadramento único merecedora de todos os elogios que lhe possamos fazer.
E lá fui eu, Fontes Pereira de Melo a baixo… Marquês de
Pombal e Avenida da Liberdade a diante… com frio, mas um fim de dia fabuloso,
uma caminhada inspiradora.
Quando começo a chegar aos restauradores e já antes… vêem-se
cartões amontoados nas entradas e recantados dos prédios na avenida, mantas,
sacos, lixo e pessoas… na Avenida cruzamo-nos com várias pessoas, maioritariamente
homens, que deambulam pela rua, sujos, desorientados, a falar sozinhos,
desnorteados com a vida, com o tempo, com as circunstâncias… senti-me triste. E
a tristeza foi aumentando à medida que me fui aproximando dos restauradores…
cada vez mais pessoas assim…
Uma cidade premiada, turística, em reconstrução que não olha
para si própria…
Ao chegar ao Eden o cenário piorou substancialmente, camas
improvisadas, pertences, pessoas, mantas e mais caixotes em acampamentos
nocturnos que reconfortam os sem abrigo desta cidade. Sem abrigo que são cada
vez mais na zona nobre da cidade… que pernoitam em edifícios de interesse nacional,
também eles abandonados.
Senti vergonha por me estar a indignar com os sem abrigo a
dormir na entrada do Eden, o EDEN… um edifício histórico e importante. E as
pessoas são o quê? Como podia pensar assim… quanta falta de humanidade em
relação a estas pessoas! Senti vergonha do que pensei.
Senti-me envergonhada da minha falta de humanidade com estas pessoas… o que
importa o Eden quando estas pessoas não têm casa?! não têm carinho estão sozinhas
e muitas delas tão desorientadas que já não se importam com o passar dos dias.
Lisboa deixou-me triste. Uma cidade trendy não pode ser isto…
tão despreocupada, tão pouco solidária,
tão pouco humana com os seus.
Estamos mesmo a viver tempos desconexos, em que as
prioridades estão todas trocadas. Antes se salvam bancos que pessoas… que se
lixem os que perderam o rumo, que se lixem as pessoas que não conhecemos nem
queremos conhecer, que não são nossos pais, irmãos, amigos… enquanto forem
apenas desconhecidos é como se não existissem, não existem para nós, não
existem para o estado, não existem para ninguém…
Olá Sofia.
ResponderEliminarPost a colocar o dedo não numa "ferida", mas numa autêntica "chaga".
Por mais voltas que se dê acabamos sempre por ter este "exército" de "inexistentes" seres que acho que li ao Paul Auster, seriam "transparentes" porque realmente ninguém os quer ver.
É uma história tão antiga como a própria história. Na teoria com pouco podemos poder mudar tudo, na prática todos os projetos nesta àrea acabam sempre por ser apenas remendos e panaceias para a tal "chaga" que não chega a infetar mas é crónica e eterna.
Peço desculpa a quem ler e achar que ao referir "chaga" estarei a depreciar a existência das pessoas nesta situação, a intenção não é essa. A palavra serve apenas para dar enfâse a um mal que apesar de ser enorme perdura. E não conseguimos (pelo menos eu não consigo) ver soluções nem imediatas, nem soluções que por fases façam tudo isto minguar.
Totalmente de acordo quanto à inversão de valores, se continuarmos a "salvar" bancos e banqueiros, estaremos todos a caminhar para um estado geral de autismo ou esquizofrenia, o mundo termina aonde o nosso corpo termina, é uma visão extrema mas é assim que andamos a viver e a caminhar por estes dias...
Beijinhos
É verdade, não sei ao certo qual a solução para o problema. Faltam apoios sociais, locais onde estas pessoas possam viver e reconstruir as suas vidas...digo eu. Mas sinceramente tambémv não sei. Que é um cenário triste e desumano, é! Os principios estão todos trocados...
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