Alberto Giacometti

Quando existe sintonia e as coisas se encaminham para o sitio certo, acontecem coisas inesperadas.

E assim, do nada ontem estava a pensar no impacto que teve em mim encontrar as “revistas da vida mundial” que o meu pai guardou, datadas dos anos 60. Folhear páginas que contam a história de pessoas importantes daquele tempo, no presente. Naqueles instantes em que se leem as reportagens, parece que estamos todos vivos e a respirar o mesmo ar, a partilhar o mesmo momento. Na realidade não estamos e grande parte dos personagens que ali vivem, nem sequer estavam vivos quando nasci.

E o Giacometti aparece numa foto no atelier, onde se veem as lindas esculturas esguias que fazia, marca inconfundível do seu trabalho. Parecia muito mais velho que era e pelo apelido achei que era italiano, até ter descoberto que era suiço. O que me marcou no trabalho dele, é olhar para as esculturas e ver-lhes vida, parece que se sente por toda a estrutura as impressões digitais do Giacometti, como se lhe passasse alma a cada toque.

Além do trabalho do artista, estas pessoas são fascinantes pelo facto de terem vivido e partilhado o mesmo espaço com outras pessoas que alimentam o meu imaginário como: Picasso, Jean-Paul Sartre, Juan Miró, Modigliani, Chagal, Almada Negreiros… quando me fixo num tempo e num movimento artístico, acabo invariavelmente por ir parar ao existencialismo, impressionismo, expressionismo. Os meus olhos fixam os quadros do Monet, de tão maravilhosos que são, emocionam-me, ou as esculturas do Rodin, que dão vontade de tocar, sentir e abraçar.

De volta ao Giacometti, vai estrear esta semana o filme “O último retrato” sobre um episódio da vida deste artista. Qual seria a probabilidade de pensar no Giacometti e descobrir que vai estar no cinema um filme sobre ele? E relembrar-me deste episódio neste momento, deve ser sintonia.

Tão improvável como, se poder descobrir e acabar por escolher um curso superior entre cafés e uma conversa com um desconhecido, numa mesa da Brasileira. Acasos… ou não.

                                    Alberto Giacometti by Gordon Parks, 1951

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