Quando existe sintonia e as coisas se encaminham para o
sitio certo, acontecem coisas inesperadas.
Alberto Giacometti by Gordon Parks, 1951
E assim, do nada ontem estava a pensar no impacto que teve
em mim encontrar as “revistas da vida mundial” que o meu pai guardou, datadas
dos anos 60. Folhear páginas que contam a história de pessoas importantes
daquele tempo, no presente. Naqueles instantes em que se leem as reportagens,
parece que estamos todos vivos e a respirar o mesmo ar, a partilhar o mesmo momento.
Na realidade não estamos e grande parte dos personagens que ali vivem, nem
sequer estavam vivos quando nasci.
E o Giacometti aparece numa foto no atelier, onde se veem as
lindas esculturas esguias que fazia, marca inconfundível do seu trabalho. Parecia
muito mais velho que era e pelo apelido achei que era italiano, até ter descoberto
que era suiço. O que me marcou no trabalho dele, é olhar para as esculturas e
ver-lhes vida, parece que se sente por toda a estrutura as impressões digitais
do Giacometti, como se lhe passasse alma a cada toque.
Além do trabalho do artista, estas pessoas são fascinantes
pelo facto de terem vivido e partilhado o mesmo espaço com outras pessoas que
alimentam o meu imaginário como: Picasso, Jean-Paul Sartre, Juan Miró, Modigliani,
Chagal, Almada Negreiros… quando me fixo num tempo e num movimento artístico,
acabo invariavelmente por ir parar ao existencialismo, impressionismo,
expressionismo. Os meus olhos fixam os quadros do Monet, de tão maravilhosos
que são, emocionam-me, ou as esculturas do Rodin, que dão vontade de tocar, sentir e abraçar.
De volta ao Giacometti, vai estrear esta semana o filme “O
último retrato” sobre um episódio da vida deste artista. Qual seria a
probabilidade de pensar no Giacometti e descobrir que vai estar no cinema um
filme sobre ele? E relembrar-me deste episódio neste momento, deve ser
sintonia.
Tão improvável como, se poder descobrir e acabar por escolher um curso superior entre
cafés e uma conversa com um desconhecido, numa mesa da Brasileira. Acasos… ou não.
Alberto Giacometti by Gordon Parks, 1951
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