Acreditamos convictamente que à
medida que vamos vivendo, a experiência nos trará segurança e maiores certezas,
especialmente sobre as outras pessoas. Com o passar do tempo ficamos mais imunes a decepções.
Vamos estar mais preparados para
reconhecer a boa ou má índole do outro, as boas ou mais intenções e distinguir
uma verdade de uma mentira.
Por isso marchamos com confiança
pela vida fora, mais aptos para nos defendermos e mais capazes para
identificarmos os vampiros. A experiência dá-nos tudo isto, mas tira-nos a
ingenuidade e boa fé de acreditar no outro só pelo facto de o amarmos. E assim,
colocamos de parte as lendas e histórias, as fantasias fantásticas que ouvimos
tantas vezes, e que assumimos como falsas, ignorando a metáfora da mensagem.
Deixamo-nos ir pelo canto das
sereias, pela envolvência, pelo contexto, por acreditarmos em milagres, por
acharmos que merecemos e temos o melhor do outro. Cedemos acreditar no
encantamento, afinal de contas não se pode passar a vida inteira de pé a trás
ou achar que toda gente é má ou mal intencionada. Deixa-se de lado a história
pessoal, as desilusões, os enganos e recomeça-se com a crença que o outro está
como nós, genuinamente a deixar-se conhecer e a permitir que o passado não mine
o presente e essencialmente, não destrua o futuro.
Apesar de crescer na
desconfiança, começamos a deixar que as palavras entrem como um bálsamo.
Mudamos de perspectiva e postura, tentamos fórmulas diferentes, aceitamos o
desafio com coragem. Ser e fazer diferente. Não funciona sempre, nem com todas
as pessoas, o outro tem de ter o dom para transformar o medo em esperança.
Acontece, um dia acontece, baixa-se
a guarda, acredita-se e tenta-se dar um salto de fé! Quebram-se regras, faz-se
o impossível, diz-se o impensável, deixa-se tudo a nu. O momento zero em que
nos tornamos completamente vulneráveis e exposto ao outro. Quase nunca
acontece, até que acontece mais uma vez, como um acto isolado que se repete com
vidas e vidas de distância.
Aceitamos que somos frágeis e
queremos sê-lo.
A experiência que tantas vezes
nos protegeu de mal entendidos e mal intencionados, fica de lado. Queremos só sentir
sem nos melindramos com as feridas, estão saradas e devidamente curadas, agora
é tudo diferente. Mas não é.
E voltamos a ficar de pé a trás,
com tudo e todos. Acreditamos, amamos, quebramos regras, fomos diferente,
fizemos diferente, quisemos muito, aceitamos o desafio, entregámos tudo. Para
quê? Para nada. Para voltamos onde já tinha estamos. A questionarmos o nosso
valor e a lamentarmos termo-nos exposto. Nunca mais irá acontecer.
Sofremos com uma angustia incompreensível, choramos sem entender muito bem porquê. Qual será a fórmula certa? Dar menos? Ser menos? Querer menos? Não ser quem somos? Não esperar nada em troca. Não acreditar em nada nem ninguém. Desconfiar sempre das boas palavras, ditas com maior profundidade que o normal? Não acreditar nunca! Desconfiar sempre. Não existe nem sinceridade nem entrega. São todos falsos e maus. Causam sofrimento de forma gratuita, são egoístas. Não se entendo, eu não entendo e desisto de entender.
É tão cansativo, que forma tão estranha de aprender com a vida! Para quê? Aprendemos mais com o sofrimento? Não vejo nada de produtivo nisto...digam o que disserem.
E volta a acontecer, depois de mais umas feridas saradas, e com um grau de protecção maior, volta
tudo a acontecer, assim se espera. Só é preciso voltar a acreditar, quem sabe um dia, não hoje.
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