Um dia percebes que conheceste a pessoa certa, no tempo
errado. E não é um tempo errado qualquer, é viverem separados por dois anos: um
em 2004 e outro em 2006. Ou viverem no mesmo tempo separados por quilómetros e
a dez anos de distância, também acontece, mas não na história do filme que vou
falar.
No filme “A Casa do Lagoa” é isso que acontece. A Kate e o
Alex viveram na mesma casa em tempos diferentes e partilham correspondência,
segredos, confidências a acabam por se apaixonar.
O que o filme mostra é que para haver amor, tem de haver
profundidade e tempo para se descobrir e conhecer o outro. A diferença
temporal, faz com que eles cedam com o conforto da distância a expor-se. São
mais sinceros, mais verdadeiros, perdem o receio de falar sobre eles, do que
gostam e das coisas que os atormentam. Claro que à medida que vão descobrindo
que se estão a apaixonar, torna-se cada vez mais difícil gerir a distância e
aprender a lidar com os sentimentos e com o desejo. A realidade não é assim tão
diferente do filme, e o filme é lindo.
Quantas vezes acontece conhecermos a pessoa certa no momento
errado? Ou acharmos que é o momento certo e não é? Ou a pessoa não ser a pessoa
que gostaríamos que fosse?
Os obstáculos parecem quase uma inevitabilidade, porque não
nos damos. Não abrimos mão do nosso espaço, do nosso tempo, do nosso coração,
da nossa alma, de nada. Queremos tudo do outro e que o outro cumpra todos os
requisitos que imaginamos para ele, mas nós podemos ser só quem somos, isso e só
isso basta. Ser quem somos já é o bom, o melhor de tudo. O outro terá de se
desdobrar em personagens e papeis para corresponder às nossas expectativas. Que
relação é esta em que não podemos ser quem somos? Mas temos de ser uma ideia fabricada pelo
outro?
Voltando ao filme, a Kate e o Alex tentam contornar o tempo.
Imaginem a aflição que será, uma pessoa se aperceber que ama profundamente
outra pessoa que vive dois anos à nossa frente ou a trás! Deve ser quase tão
aflitivo como saber que a pessoa que amamos está perto e não podemos estar com
ela, seja lá porque motivo for. Sufoca, é angustiante.
Sejam quais forem os constrangimentos, estes dois
personagens estão dispostos a superá-los. Quando se quer muito, deve ser isso
que significa, faz-se o possível e o impossível.
Também deve significar que o amor quando é intenso,
reciproco, inteiro e sentido com a alma vale a pena lutar por ele. Se escrevem
e fazem filmes sobre estas coisas, é porque existe algures. Acredito que sim.
Um amor que nos devolve a fé, a esperança de acreditar no
outro e em nós, que nos preenche, um amor onde queremos estar, onde sabemos
pertencer que nos transcende. Um amor como o do Alex e da Kate.
Quando é para dar certo, nem o tempo nem a distância
comprometem as coisas.
Dizem isto… mas ainda não sei se será assim.
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