Avançar para o conteúdo principal

Terra de ninguém

Socialmente estamos integrados em grupos, comunidades, famílias, fazemos parte de alguma coisa nem que seja por afinidade. Aparentemente estamos ali e pertencemos aquele grupo. É assim que as coisas funcionam e que nos estruturamos entre nós. 

Isto faz com que muitas vezes fiquemos cingidos a um espectro de pessoas, porque são universitárias como nós ou os conhecemos desde crianças e têm um percurso semelhante ao nosso, trabalham no mesmo ramo, os filhos andam no mesmo colégio, frequentamos os mesmos restaurantes e festas e por aí fora...

E quando podemos estar em grupos e contextos diferentes, porque temos essa capacidade (de não excluir ninguém), mas na realidade não fazemos parte nem de um lado nem de outro? 

É tramado!

Não fazer parte de lado nenhum, o pertencer à terra de ninguém, é um bocadinho solitário. Entenda-se, não por vontade própria, mas por não se identificar. Juntando as parcelas pode-se ter fragmentos de todos os lados e não pertencer necessariamente a nenhum deles. Não é ficção científica, acontece. É uma sensação de vazio, que não se preenche facilmente, se é que alguma vez se consegue.

Mesmo nos cenários mais comuns, não fazemos parte, mesmo estando lá. Quando perspectivamos situações futuras, não nos conseguimos enquadrar naquele contexto. Não temos nada a ver com aquela família, com aquele grupo, com o cão, com a música, com os filhos, com a cidade, com a casa, com o carro, com o emprego, com a forma de falar, com os interesses... Mas ainda assim, tentamos. 

Compreendemos, vivemos e aceitamos o teste, mas não fazemos parte do todo. Na prática parece que as pessoas vivem à nossa frente e nós estamos sempre no papel de espectadores, porque não sabemos como nos integrar, apesar de não parecer. 

Nem sequer se trata de uma postura de superioridade, nada disso, é ter a capacidade de certa forma ver de fora sem interferir.

Mesmo quando falamos, o que dizemos parece estranho para as outras pessoas, como somos nem sempre é fácil explicar e a profundidade do que se vive e como, evita-se partilhar. Nunca iriam compreender. Os habitantes da terra de ninguém são solitários cheios de conteúdo, só precisam que os vejam como eles são, sem os cilindrarem logo à partida por parecerem distantes quando são imensos.

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não devemos voltar a onde já fomos felizes

Hoje acordei com esta expressão na minha cabeça: “não devemos voltar a onde já fomos felizes”. Sempre que penso nisto, e cada vez mais me convenço, que está completamente errada. Na prática, acho que a expressão tem a ver com pessoas e não com lugares. Não voltarmos a onde já fomos felizes, ou seja, não voltar para determinada pessoa. O local acaba por vir por acréscimo, já que as memórias não ficam dissociadas de situações, locais ou pessoas. Mas é sempre por aquela pessoa específica, que não devemos voltar atrás e não pelos  momentos felizes que se viveram naquela praia ou no sopé daquela montanha. É o requentado que não funciona… ou não costuma funcionar. Acredito que para algumas pessoas dê resultado, mas de uma forma geral, estar sempre a tentar recompor uma situação que não tem concerto, não tem mesmo solução! Mesmo quando existe muito boa vontade e uma boa dose de amor. Voltando aos locais, que é isso que me importa. A história reescreve-se as vezes que forem...

Família com F maiúsculo

Quis o destino ou as coincidências, para os mais céticos, que os meus pais fizessem anos em dias seguidos. O meu pai a 18 de Dezembro e a minha mãe a 19 de Dezembro, no fim do Outono em anos diferentes. O mesmo mês, a mesma altura do ano, quase os mesmos dias, o mesmo signo. Tantas conjugações o que os torna diferentes mas ao mesmo tempo muito parecidos. São como o próprio Sagitário, fogo do fogo em dobro, muito em tudo e muito pouco em quase nada o que faz com que sejam ambos personalidades marcantes e pessoas inesquecíveis. Não digo isso porque são os meus pais (mesmo que não seja isenta), as pessoas que os conhecem podem atestar. Cada um com as suas singularidades, com as suas características, únicos em si e por si mesmos como equipa. Foram dois que passaram a quatro e que agora já são seis, cresceram a multiplicaram-se. Como estamos em época natalícia e em comemoração dos respetivos aniversários e os parabéns e felicidades estão sempre subjacentes, quis que hoje a minha fe...

Guns N Roses - Alvalade 2 Julho 1992

O concerto que não aconteceu porque eu não fui. É de todos os que não fui, aquele que mais me marcou, por uma série de acontecimentos. Queria mesmo ter ido! Foi o apogeu do Axl Rose, como se comprovou mais tarde… nunca mais voltou a ser o mesmo, aliás os Guns tornaram-se uma bandalheira que ficou presa naquele tempo. Não conseguiram cimentar o percurso musical para além daquele período histórico. Adiante… 1992 foi o ano do cão para toda a nossa família, começou com o desfecho tenebroso em 1991 com os AVC’s do meu avô e com o morte dele em Março. Depois disso piorou com a crise de apêndice da minha irmã, que era supostamente uma coisa simples para uma operação de meia hora e demorou 3h! Ainda por cima a minha irmã estava a começar a época de exames de acesso à universidade, o último ano da PGA. Digamos que 1992, foi o ano dos anos… O concerto só seria em Julho, a minha irmã já estaria boa e íamos com a minha prima e outra amiga. Como filha mais nova, não poderia ir sozi...