Nunca nos devemos apaixonar no inverno. Não te apaixones no
inverno, não permitas que isso aconteça.
De todos os males a evitar durante o inverno, este será um
deles. Uma gripe evita-se com a medicação certa, agora quando se deixa o amor
entrar na estação mais fria e escura do ano, não podemos esperar o melhor. São
as probabilidades, a natureza não engana. Os animais hibernam, as árvores não
têm folhas nem fruto, nada cresce no frio, na neve e sobretudo nada cresce na
escuridão. Mesmo as criaturas que vivem nas profundezas dos oceanos, não sobem
até à superfície para perto da luz, vivem confinadas na escuridão, crescem e
desenvolvem-se nesse ambiente, como as doenças que se propagam no corpo. As
pessoas que nascem no inverno são demasiado frias.
Que amor poderá ser este que se estabelece no inverno?
Devia existir um filtro bem espesso que evitasse que isto
acontecesse. O inverno é necessário para a regeneração da natureza, o ciclo que
se completa onde tudo morre, para renascer com a primavera, a estação que
encerra o ano, que deita por terra o que já não serve. Logo, se já não serve
vamos alimentá-lo com o amor? Vamos permitir que o amor germine no meio da
terra morta e seca? No meio do frio e do gelo? No meio do nada e da escuridão?
No fim do tempo? Não nos devemos apaixonar no inverno. Não devia ser possível,
até. Deveria existir um botão de “on hold” que não permitisse.
Não nos devemos apaixonar no verão. Não te apaixones no
verão, não permitas que isso aconteça.
O verão engana-nos com a loucura, com as noites longas, com
os corpos bronzeados e com os cheiros que encantam. A fome imensa que o verão
nos trás, para alimentar um ano inteiro, tudo é físico e apenas físico. Intenso
mas imperfeito, marcante mas passageiro. No verão tudo passa depressa e com
muita intensidade. O calor cria a ilusão de uma demência permanente, mas que se
dissipa aos os primeiros ventos frios e com a mudança da hora.
Quando nos deixamos enganar por este amor insano, temos de
saber à priori que, toda a febre passa quando identificada a infecção que a provoca.
É um amor doentio de curta duração e que extingue com o regresso à realidade e
que a rotina mata logo no primeiro confronto. Ninguém se compromete
verdadeiramente no verão. As pessoas que nascem no verão são demasiado
intensas.
É o amor nas estações mais vincadas que devemos evitar. Não
se deixem contaminar nem pelo frio nem pelo calor. Esse amor não é real, esse
amor não é para ser. O amor que fica é aquele que respeita os ciclos da natureza,
exterior e interior. Não existe uma estação certa, mas existem pessoas que as
tornam mais certas.
Quando o amor é verdadeiro, que importa a altura do ano em
que acontece? Saber que é real e reciproco, é tudo o que basta.
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