Alguns pessoas têm a capacidade de despertar a nossa
atenção, por uma série de fatores.
Não sei bem explicar onde aparece o Henry
Miller, não vi o filme: Henry & June, mas fixei os livros Trópico de Câncer e
Trópico de Capricórnio. Talvez por ler em todo o lado que o Henry Miller é um
escritor polémico, e tudo o que sai fora da lei tem um encanto
especial! Existe um fascínio nas pessoas que quebram regras ou se estão a
borrifar para elas, que dizem o que pensam e escrevem o
que bem entendem, mesmo que isso lhes custe alguma simpatia e compreensão
social.
Então onde aparece o Henry Miller?
No Trópico de Capricórnio lido na idade errada e no momento
errado. Quando se lê um livro no momento errado, sim porque isso acontece,
compromete-se tudo! O que lá está escrito, a compreensão do autor, a
compreensão do leitor e toda a relação que se deveria formar a partir dai. O
Miller é um autor autobiográfico, não compreender de inicio o que ele escreve
ou a forma como o faz, compromete a forma como o devemos assimilar. Acho que
não me identificar com o tempo dele, também contribuiu para isso. O exercício de
ter de imaginar Nova York em 1936 não é tarefa fácil, numa viagem ao passado por
um tempo que não se consegue materializar. Provavelmente deveria ter começado
pelo Trópico de Câncer, começar pelo principio e não pelo fim, mas às vezes acontece.
Resolvi antes de me aventurar por outro livro, saber mais
sobre o homem. Um homem complexo e profundo, que resolveu viver a vida à sua
maneira e ao mesmo tempo, viu-se obrigado a refletir sobre a civilização e o
tempo em que vive, por se sentir deslocado. Sente-se alguma nostalgia na forma
como escreve e nas palavras que usa, nostalgia num ideal perdido, numa forma de
viver que se perdeu, numa vontade de regressar a um estado mais primitivo e
mais puro de estar. Sem tabus, dogmas religiosos e preconceitos mas difíceis de
alcançar na época.
Por isso tudo, a ideia que fica de Henry Miller é a de um
homem obcecado com sexo, bebedeiras e deambulações filosóficas, que precisa de arranjar dinheiro para sobreviver e
pela sua incansável persistência de escrever e publicar. O sexo aparece quase com
uma “bandeira” como um princípio particular de moralidade e de libertação, a
sua.
Depois cresce-se e percebe-se que alguns autores, são
adultos e para adultos. Só quando se chega a determinado ponto na vida é que
conseguimos entender. O Henry Miller exige maturidade, antes disso não o iremos
compreender e até o julgamos por menos com algum ridículo associado. É sempre
assim, quando não compreendemos e julgamos os outros pela nossa bitola. Algumas
pessoas não cabem nesse espaço, estão fora do seu tempo e da nossa capacidade
compreensão, estão muito mais além.
Acho que posso terminar com esta citação, do livro Sexus: “Nenhum homem ou mulher se pode gabar de ter dado uma boa
foda a não ser que ele, ou ela, seja bem fodido também.”
Contra factos não há argumentos. Como não gostar do Henry
Miller?
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