Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2019

Mais uma década

E assim termina mais uma década. Esta foi para mim a década mais difícil mas também a mais proveitosa. Fazer uma retrospetiva sobre tudo o que me aconteceu nos últimos dez anos é um exercício brutal mas também uma tomada de consciência incrível sobre tudo o que vivi e passei. Não houve nenhuma área da minha vida que tivesse passado intacta nesta última década, nenhuma! Todas sofreram alterações e todas passaram por fases dificílimas e por momentos de paz mas nenhuma – NENHUMA - ficou igual. Digamos que pensar concretamente, com estrutura e ordem, sobre o que se viveu nos últimos dez anos me permitiu concluir que sobrevivo a qualquer coisa nesta vida. Não estou a exagerar, esta é também uma convicção que trago comigo desde o dia em que nasci, sobreviver ao impensável, ao inimaginável é um lema de vida, um superpoder que está registado no meu ADN. Por outro lado, dá-me também a capacidade e a responsabilidade de gerir a minha vida de uma forma melhor e foi isso que esta última dé

Semear para colher

Estamos no tempo de colher o que estivemos a semear ao longo do ano ou a colher as coisas que temos vindo a fazer na e com a nossa vida. No entanto, uma vez que estamos nesta época do ano, ficamos mais sensíveis para considerar este tipo de balanço. Diria que pode e deve acontecer sempre que necessário e não porque termina um ano. Mas já que existe esta tradição, nada como lhe dar bom uso. Refletir sobre comportamentos, atitudes, vontades, desafios e por ai fora é sempre um exercício que vale a pena fazer. No fundo, todos os sabemos o que é certo e errado e se o que fazemos está dentro dessas critérios que temos pré-estabelecidos. Se não fomentamos laços com nada nem com ninguém, não vamos seguramente esperar que de um momento para o outro existam. E mesmo quando existem, se não os reforçamos, se não lhes dedicamos tempos e amor não vamos colher nada daí. Podemos até ser um terreno fértil e que facilmente cria empatia com os outros, cordialidade e simpatia aparente. Podemo

Há sempre uma razão

O motivo para qualquer coisa é o um importante impulso para a concretização. Existe uma razão, que em si nos leva a determinada ação. Um gato é só um gato, mas pode ser muito mais do que isso. Uma gata que sozinha encheu uma casa, um coração e uma vida. Sem convite entrou instalou-se e ficou, para sempre. Tudo de acordo com o consentimento de ambas as partes. Porque haveria uma de ficar perdida na rua e outra sozinha numa casa, se podiam ficar as duas juntas? Um motivo como outro qualquer ou muito mais do que isso. Um gato ou um cão são muito mais do que motivos, são a afirmação de um compromisso tão sério como aqueles que assinamos nos contratos e nas entrelinhas das repartições de finanças. Um animal pequeno que ocupa o espaço todo, físico e emocional. E porque é tão maior que o tamanho do corpo que tem, não só muda uma vida como define tudo o que se segue. O seu temperamento e a necessidade de companhia obrigaram a trazer-lhe uma amiga. No início por ser pequena e care

Novo ano - renovação

Estes são os meus votos para esta quadra e para o novo ano que se avizinha. Não são exclusivos deste momento, porque na prática, acho que temos o dever de procurar mudar de página ou seguir os nossos sonhos em qualquer altura. É um crédito que nos dão com a longevidade, enquanto estivermos vivos podemos e devemos sempre tentar. Preocupamo-nos em excesso com coisas que não valem o esforço, coisas estas que podem ser também pessoas. Permitimos com facilidade que outros descarreguem sobre nós o azedume e frustrações e que com isso nos suguem o brilho e a energia. Permitimos que a inveja de outros nos condicione a vida e que nos afete, tentamos ser bonzinhos para os outros numa versão melhor de nós próprios como uma dádiva e na primeira hipótese que têm falam mal nas nossas costas ou desejam-nos o pior que ser humano pode desejar um ao outro. Na realidade não podemos fazer nada em relação a isto, porque pessoas más, invejosas e mesquinhas irão sempre existir e mais cedo ou

O Luto

O ser humano tem muitas dificuldades em cumprir os processos que a vida impõe, o luto é um deles.  Ninguém aceita de ânimo leve uma perda, ninguém aceita a perda como mais uma etapa.  Somos educados e ensinados a lutar contra o luto, todos passamos por ele em alguma altura da vida, mas socialmente é nos incutido que devemos passar à frente de imediato. Não é bom ficarmos tristes, chorar ou deixarmo-nos consumir pela desolação, temos de avançar para outro estado o mais rápido possível. Não é de todo mentira, temos de avançar e seguir em frente, no entanto, precisamos também sentir a perda e para isso o luto é essencial. Houve qualquer coisa importante que desapareceu, que partiu para sempre, que mudou de plano e nos deixou um vazio incomensurável. Ignorar a dor que isso nos provocou vai fazer com que essa mesma dor nos acompanhe por toda a vida, precisamos gastar os "créditos" enquanto esta sensação está presente e bem viva em nós. Caso contrário, vamos passar a im

Memórias Boas

E se as coisas tivessem acontecido de forma diferente? Fica sempre a dúvida no ar, como uma incerteza que se alimenta pelo vazio deixado. Podia ter sido diferente? Poderia ter sido diferente, se para a morte existisse algum tipo de retorno ou emenda. Mas não existe e foi assim que aconteceu e não se pode mudar. Ainda assim, sabendo e aceitando que teve de ser como foi, não muda a curiosidade que ficou por preencher nem a vontade de conhecer melhor alguém que nos quis tão bem. Sabe-se o que os outros contam e relembram-se partes do que se viveu. De lá para cá já passou uma vida, 27 anos de uma ausência que nunca se ocupa. Daquele ano horrível, tenho de ti duas memórias que me marcaram.  A primeira, a felicidade de fazeres 70 anos como se tivesses chegado ao topo da tua montanha! Sem saberes, estavas lá pronto para embarcares para outra aventura, genuinamente feliz por teres reunido a tua família para comemorar o teu aniversário. Sempre gostei de fazer anos e depois desse d

Picachu será sempre Picachu

"Aqui tem você um conselho que lhe poderá servir para a sua filosofia: não force, nunca; seja paciente pescador neste rio do existir. Não force a arte, não force a vida, nem o amor nem a morte. Deixe que tudo suceda como um fruto maduro que se abre e lança no solo as sementes fecundas. Que não haja em si, no anseio de viver, nenhum gesto que lhe perturbe a vida" . (Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo). Foi assim com a minha Picachu até hoje, o fim. Não se forçou a vida e só se forçou a morte por amor e compaixão, a vida é para se viver sem sofrimento e ela já não estava a conseguir corresponder às minhas expectativas nem da veterinária, mesmo dando tudo por tudo! Cada um tem o seu tempo e o seu espaço, é preciso saber e aprender a respeitá-lo. Vale para todas as formas de vida. E como foi maravilhoso ter na minha vida a gata mais meiga e louca da história da humanidade! Que dádiva esta que tive o privilegio de viver! Sim, perdi a minha Picachu. E tudo o q

Humanidade

Será que ciência nos tornou preguiçosos?  Hoje tudo o que é válido e correto tem de passar pelo crivo científico para ser considerado "verdade" e antes da ciência como era? As pessoas encontravam validação onde e como? Perdeu-se a capacidade de saber ver, ouvir e ler tudo o que nos rodeia e o nosso próprio corpo. Antes de existirem computadores, máquinas, matemática, física ou química com o nível de desenvolvimento que temos hoje como se fazia para validar? Os curandeiros sabiam de plantas e entendiam os sinais do corpo. As pessoas regiam-se pelo ciclo da natureza, o nascer e o pôr-do-sol, as estações, a subida e descida das marés, os ciclos reprodutivos dos animais e das plantas. Olhavam para o céu para se orientar, sabiam interpretar o vento e respeitavam a cadência natural das coisas, sem manipular ou apressar. Sabiam respeitar a ordem natural das coisas e os seus tempos. Estavam mais despertos para os ruídos e cheiros desconhecidos, sabiam definir distâncias pel

O vício do sofrimento

Viver é uma coisa que dá muito trabalho. Não existem propriamente momentos calmos ou mortos, estamos em testes permanentes e desafios que se vão sucedendo. Podemos escolher ignorá-los, mas vamos acabar por ter de passar por eles, a bem ou a mal. A parte mágica disto tudo é que cada vez que superamos um desafio ou um obstáculo sentimo-nos ainda mais vivos e com uma prova maior da nossa própria capacidade de sobrevivência. Não é fácil estarmos sempre nesta incógnita do que o futuro nos reserva, o que nos deveria fazer pensar que afinal, não temos de saber ao certo o que ai virá, mas precisamos preparar-nos para o que vier, toda e qualquer preparação acontece no presente. E se não temos forma de adivinhar o futuro, temos o dever de nos concentrarmos no agora, essa é sempre a melhor solução. Independentemente dos desafios que cada um de nós terá, somos livres para escolher o tipo de vida que queremos viver. Nem vale a pena recorrer ao argumento já gasto e bem gasto, da herança gené

Não sou o Picasso

“Eu não sou nenhum Picasso”.  Foi uma justificação que usei várias vezes para legitimar não ter seguido para as Belas Artes. Não só porque efetivamente não sou o Picasso, em forma ou em talento, mas também porque infelizmente continuo com a convicção que Portugal é um pais que trata muito mal os seus artistas e quem vive da arte, como se fosse uma “profissão menor” ou pior penaliza quem por um amor maior se entrega à dança, pintura, teatro, música, escultura, literatura como se de um hobby se tratasse e como tal, não merecesse nem o reconhecimento do Estado ou da Sociedade para condições de trabalho dignas e consequente justa remuneração. Os artistas são umas parasitas, só um Picasso não seria. Estamos a anos-luz, de uma mentalidade artística que saiba valorizar quem se dedica à arte pela arte. Visitamos museus, exposições, concertos, vamos ao teatro… mas não consideramos todo o trabalho que é feito pelos artistas e por todos os outros artesãos. Se é para ter um diploma que se

A Bondade

É comum ouvirmos dizer e até dizermos: "tenho-me portado tão bem que mereço um prémio" ou "só por ter feito/pensado nisto, devias dar-me uma recompensa" são muitos os exemplos possíveis. As questões do certo e errado, do bom e do mau e das compensações que merecemos pelo bem que fazemos aos outros e a nós próprios, são ideias que nos "vendem" e que têm como principal objetivo fomentar o bom desempenho e de certa maneira estimular a competição entre todos. Os que executam boas ações recebem mais compensações, afinal de contas merecem-nas. É lógico que as boas ações e intenções, quando cumpridas com profunda entrega nos fazem sentir bem, a bondade dizem alguns estudiosos nos temas do comportamento humano é saudável e a base para um cérebro mais sadio. “Só assim poderemos reduzir o sofrimento no mundo. Acredito na gentileza, na ternura e na bondade, mas temos que nos treinar nisso.” - Richard Davidson, PhD em neuropsicologia e pesquisador na área de

Um jornal no comboio

A distribuição de jornais gratuitos nos transportes é uma ocorrência banal que acontece todos os dias. É comum ver-se as pessoas entretidas a lê-los no comboio e a depositarem-nos depois disso num banco vago, entalá-los semi disfarçadamente entre bancos ou no chão (sim, também acontece). A forma como as pessoas fazem estas coisas deixa-me perplexa, com uma agravante, não consigo disfarçar. Não consigo entender o que custa levar o jornal até ao caixote do lixo, não é o Expresso!!! É um jornal que tem pouquíssimas páginas. Hoje testemunhei uma destas cenas, uma senhora que ia uns bancos ao meu lado a ler o jornal, depois de ter acabado pega no jornal e encaixa-o entre as suas costas e as costas do assento. Sim, é verdade!! Ali bem esmagado entre a blusa da senhora e as costas do banco, uma maravilha! Como imaginam fez tudo com muita naturalidade, afinal de contas o jornal estava lido. Arrumou os óculos na caixinha ajeitou-se e ali ficou até sair umas paragens mais à frente. Quand

Rosa

Hoje é um dia importante, faria hoje 93 anos a minha avó Rosa. Como homenagem deixo o conto que escrevi semi-inspirado nela. Esta Rosa e a minha Rosa têm em comum a missão de ser avó, um papel que desempenhou com amor e dedicação. Hoje e sempre com muitas saudades dela. Parabéns avó. ---- ROSA Quando se pergunta a uma criança, o que quer ser quando for grande, habitualmente respondem: professor, bailarina, médico, piloto de avião, chef de cozinha e por ai fora, mas não a Rosa, quando crescesse a Rosa queria ser: avó. Talvez por isso, tenha tido toda a vida, um ar mais velho do que seria suposto. Quando nasceu não parecia uma bebé acabado de nascer, parecia uma velhinha enrugada no colo da mãe. Antes dos dez anos, tinha já compridas melenas de cabelo branco e os traços do rosto sempre muito vincados a delinear-lhe a expressão. Naturalmente interessou-se sempre por hobbies muito pouco infantis como aprender a fazer crochet, depenar galinhas, cozer botões, passar a ferro e

Parabéns Rio de Mouro_Rinchoa

Eu sou de Lisboa, nasci em Lisboa e sou efetivamente de Lisboa apesar de nunca ter vivido em Lisboa.  Sou também dos sítios das minhas origens um pouco mais da Pampilhosa da Serra, um pouco menos do Redondo, de Sintra e muito da Rinchoa. Quando se fala de Rio de Mouro ou da Rinchoa, nunca é pelos melhores motivos, é quase sempre para relatar um acontecimento grave como um assalto, um acidente, violência ou algo do género. Estes fenómenos não são exclusivos de Rio de Mouro ou da Rinchoa e são difíceis de dissipar dos estereótipos das pessoas, grudam-se com cola de cimento à minha terra e por muito que se tente dizer que são acontecimentos pontuais que acontecem em qualquer sítio, o rótulo permanece e tem sido difícil desvincular-se dele. Como se no dia em que pomos uma nódoa na camisa nos vinculasse em permanência com o rótulo: “é sujo” ou “sempre que come põe uma nódoa na roupa”. A comunicação social tem muita culpa desta imagem errada que alimenta com base em pouca ou quase n

Escolhas

Um exercício. Imaginem que têm três escolhas possíveis para um desfecho idêntico, uma meta. Se preferirem (para tornar o exercício mais visual) estão num cruzamento e pela frente têm três caminhos possíveis, a única coisa que sabem é que a distância em todos é igual (o caminho a percorrer até ao fim), mas não sabem como é cada percurso e quais a dificuldades que irão encontrar. Importante frisar que o irão fazer a pé, sem ajudas ou apoios de outros meios de locomoção e farão o caminho sozinhos. Como estamos no início do processo, todas as possibilidades estão em aberto e em pé de igualdade. São reais, são palpáveis e todas se podem concretizar em qualquer um dos caminhos. Nesta fase o primeiro desafio é deixar de lado qualquer juízo de valor, preconceito, ideia pré-concebida e tentar voltar à estaca zero – tábua rasa – para ficarmos o mais limpos possíveis que conseguirmos. Assim analisamos as possibilidades, como elas parecem ser, cada uma delas. No ponto de partida recebe

O mundo está confuso

O mundo está confuso no que diz respeito à forma como as pessoas se relacionam. A sensação que tenho é que a maioria das pessoas não sabe o que quer e quando acham que sabem, duvidam. Somos provavelmente a geração mais baralhada de sempre, neste campo. O que antes era claro, nos moldes da realidade vivida, parece-nos hoje estranho! E é estranho! Não estamos a viver na mesma a realidade que as gerações anteriores nem no mesmo tempo, as coisas modificaram-se. Digamos que “evoluímos” e evoluímos na forma como nos relacionamos, sofremos muitas modificações em pouco tempo como: a velocidade a que corre o tempo, o acesso à informação e tudo o que temos disponível para fazer e aprender atualmente. Contudo, apesar disso não mudou o sentido em que nos relacionamos, fazemo-lo porque faz parte da nossa natureza precisar de amor: querer ter e dá-lo. Perdemos a simplicidade de sentirmos as coisas desta forma, de deixarmos o tempo fluir e correr como deve de ser. Passámos a viver em urgênci

DELETE

Que maior contrassenso poderá haver, do que guardar os contactos dos mortos e apagar o dos vivos? Uns partiram involuntariamente, já os outros assim o escolheram, estão no seu direito, não me interpretem mal. Da mesma forma, que decido os contactos a manter, outros farão o mesmo. Somos livres para escolher quem queremos ter por perto e quem não queremos. O mundo é feito de escolhas, mais ou menos determinantes, livres e opcionais.  Quão terapêutico pode ser um delete? Muito! Todos sabemos disso. Mas só o é, se não for apenas um delete na agenda mas na alma também. Não adianta apagar um contacto, se aquela pessoa continuar a ressoar dentro de nós. Pode ser o primeiro passo para desaparecer, só não será naquele momento. Nem sempre é facil, ainda que necessário, apagar nomes e referências de pessoas que de algum modo fizeram parte da nossa história mas temos de ser práticos. Tal como se faz com a arrumação de um armário, se não se usa para quê guardar? Ok, estou-me a cont

Os inconformados

Não se pode negar que existe um fascínio que ultrapassa a compreensão nos inconformados e no inconformismo de um modo geral. O não aceitar as coisas como são, só pelo facto de serem como são. É querer mais do que aquilo que se vê e do que aquilo que está percetível a todos. O querer aqui, não é um querer de ter como quem acumula coisas de que não precisa, é um pensar estruturado e estruturante sobre questões fundamentais da vida porque não são claras ou deixam margem para muitos pontos de interrogação. É um pensar denso que procura descortinar todos os meandros das questões, que não se fica pela rama ou pelo óbvio que mergulha em profundidades que nem sempre conseguimos compreender. Os porquês que precisam de uma causa e de um efeito, tudo tem uma explicação só se precisa descobrir qual. As origens têm princípios que precisam ser compreendidos, o todo é muito mais do que um emaranhado de pontas soltas. São as pessoas que se perdem por pensamentos que podem mudar o curso da h

Pêlo de Arame

“Roubaram-me o Bobby.” É esta a nota do meu avô no calendário referente ao dia 7 de Dezembro algures nos anos 80. O Bobby era um pequeno cão pêlo de arame, bom para a caça de porte médio/pequeno com pelugem creme e com uma barbicha deliciosa. Foi para o quintal do meu avô ainda pequeno e quando desapareceu era ainda jovem, não teria mais de 2 anos (se tivesse). Os netos pequenos, trasnsformaram o Bobby na mascote, mais um elemento do grupo de brincadeiras. Ele gostava…respondia ao nosso assobio de crianças (que o meu avô não queria… para que ele obedecesse apenas ao assobio do dono) mas tanto o Bobby como nós, pouco ligávamos. O cão sabia quem era o dono. Era um excelente caçador. Sim, o meu avô era caçador e isso não lhe diminuía o amor pelos animais, muito pelo contrário. O amor que tinha pelos cães então, era expressivo. É daquelas imagens que se guardam das pessoas, o meu avô e um cão, dois ou três, foram vários ao longo da vida dele, foram vários ao longo da minha vida.

Inexistência

Def. adjetivo de 2 géneros: 1. que está em falta 2. que não existe É assim que se define a palavra inexistente: o que está em falta ou o que não existe. Algumas palavras só ganham realmente sentido quando algo está em falta ou deixa de existir, como é o caso da palavra inexistente. Tantas vezes usada e nem sempre fácil de materializar o seu sentido. A inexistência tem-me fixado os pés na terra, sempre que, sem dar conta viajo pela existência de pessoas e situações inexistentes. Deixo-me vaguear por pensamentos familiares e por memórias que ainda me parecem presentes, como se conseguisse estender o inexistente pelo presente. É tão real que parece verdadeiro. Como se ainda acenassem naquela janela, onde tantas vezes esperam por nós. Como se a rotina não tivesse mudado e as listas de compromissos não se tivessem reajustado à nova realidade. Ainda se sente tudo recente, como se não tivesse acontecido porque a presença não se ausentou na inexistência, faz parte do dia-a-dia