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Mensagens

A mostrar mensagens de 2017

2018

O que pedir para o novo ano? Talvez que não seja tão mau como os últimos quatro, que passaram! E acreditem que pedir isto não é pouco… Por outro lado, se as coisas não tivessem acontecido como aconteceram, também não teria tido a possibilidade de limar algumas arestas que estava mesmo a precisar de ser aparadas. Existem sempre dilemas nestas coisas, o mau que serve para desvendar segredos, doenças, problemas e porcarias para limpar. Provavelmente na natureza humana tenha mesmo de acontecer assim, na euforia da felicidade esquecemos que existe o lado das sombras e que um, não vive sem o outro, porque como tudo na vida, são complementares. Não se excluem, integram-se. Cada um com as suas particularidades. Na adrenalina da felicidade, nem nos lembramos que existe o inverso e tentamos prolongar a alegria por tempo indeterminado. Tanto a felicidade como a tristeza, têm prazos, mais curtos ou mais longos mas não são para sempre. Podia pedir para passar pelas pingas da chuva se

Feliz Natal

Posso ter saudades do que já vivi, posso ter saudades do que já passou mas tenho seguramente sempre muitas saudades dos meus avós. Fazem-me falta, todos os natais. De tudo, é no natal que sinto mais falta deles.Também tenho saudades de ser criança e de sentir a excitação típica desta época, o pai natal, a magia, os cheiros, os doces, a casa cheia, os meus primos, as maratonas de desenhos animados e a lareira acesa bem quente a deixar-nos a bochechas a escaldar.  Tudo muda, a família transforma-se, uns ficam e outros vão mas o essencial nunca se perde, não por ser natal, mas também por isso juntamo-nos para celebrar, para nos relembrarmos de onde viemos e porque estamos aqui. Somos destas pessoas e estamos aqui para elas. É mais o que nos une, do que todas as demais contrariedades.  Por isso, por ser natal agora e na prática quando se quiser, não devemos perder a oportunidade de abraçar quem amamos ou de dizer gosto de ti ou um simples adoro-te.  Se no resto do ano, o

Dar a mão

Um gesto simples, mesmo quando é simbólico, e tão cheio de significado!   A questão aqui, não é obviamente o gesto em si, mas a dificuldade que existe, actualmente em DAR. O dar sem esperar nada em troca, o fazer só por fazer, pelo bem que isso nos faz e pelo bem que fará a outra pessoa.  Pequenos gestos, quase banais que aos poucos moldam e mudam o mundo. E não digo isto, porque é natal e nesta época toda a gente se lembra que deve dar e ajudar de alguma maneira, falo da verdadeira solidariedade dos restantes 360 dias do ano...  Nem é preciso pertencer a alguma associação ou fazer voluntariado, basta estarmos lá para os que nos são próximos. É aqui que começa o nosso verdadeiro papel solidário, dentro de casa com a nossa família, com os nossos vizinhos, amigos e colegas... É ali, num primeiro momento que temos de estender a mão, ceder ajuda, estar lá... A nossa entrega tem de ser mais fácil e mais voluntariosa no nosso habitat natural, no nosso contexto, na nossa h

Jim Morrison

Estava aqui a pensar na forma de abordar, novamente este tema, é um tema recorrente… Quem lê o blog e quem me conhece, sabe que, pelo menos em duas datas especificas volto a falar sobre os Doors ou sobre o Jim Morrison. Os argumentos não se esgotam, nem nunca se esgotarão! O Jim Morrison é um personagem universal, um ídolo por estatuto próprio. Teria sido sempre um personagem marcante, na história dos EUA ou do mundo, disso não tenho dúvidas. Mas é pela música e pela poesia que o conhecemos melhor. A música e o seu poder universal, transpõe barreiras geográficas, físicas ou metafisicas, a verdadeira linguagem una do mundo. O Jim Morrison para além de ser um homem lindo e sexy, era um homem extremamente inteligente, uma característica que se manifestou muito cedo na vida, um leitor voraz e um homem muito culto. Estas características são por si só, pelo menos para mim, fascinantes: bonito, inteligente e sexy. Provavelmente um homem fabuloso para se conversar e aprender. Um

Fora da caixa

Quando ideias semi desconexas começam a ganhar forma e vida própria, que se faz com elas? É daquelas situações típicas: “nunca pensei bem nisso” e de um dia para o outro começas a pensar e dar forma às coisas. Primeiro só na cabeça, a congeminar o como concretizar a coisa, mesmo que parece não fazer sentido. Depois mesmo não fazendo sentido listas mentalmente os prós e contras e o nunca transforma-se em: “e porque não?”.  Assim como quem não quer a coisa começas a idealizar cenários e de certa forma a “manipular” as circunstancias a teu favor. Dás por ti em situações que nem parecem reais: “perguntei mesmo isto?” ou “fiz mesmo isto?”. Não sei como funciona com as outras pessoas, mas comigo funciona assim: a ideia entra, ganha forma, materializa-se e instala-se o caos! Como dar forma a uma ideia? Como é que chego lá? E sempre que surge uma pergunta, saltam um montão de respostas a seguir, medos e outras coisas tudo à mistura. Mas continuo na mesma, agora que já assimilei qu

Critérios pessoais

As pessoas têm a importância que lhes quisermos dar. Por mais consciência que se tenha disto, parece quase inevitável elevar algumas em detrimento de outras, com base em pressupostos intuitivos devidamente fundamentados, pela observação empírica, pelo convívio assíduo mais ou menos regular, e por uma série de outras razões, pessoais e aceitáveis de acordo com os critérios de cada um.  É uma espécie de fé estranha ou crença no outro, como quiserem chamar, que por vezes se simplifica em ver mais do que existe ou do que o outro efectivamente tem. Basicamente é da responsabilidade de cada um, o outro nisto, pouco ou nada tem a dizer ou a opinar, aquilo que eu vejo nele, é do meu olhar e exclusivamente da minha responsabilidade, portanto a importância é uma proporção pessoal e única. A exclusividade que dou ao outro no meu próprio critério é um atributo meu e não dele, ele não pede nada, sou eu que dou, porque quero! Nestas coisas da consciência cada um faz o uso que bem entende d

Estados físicos da matéria

Em química aprendemos que existem três estados físicos da matéria: sólido, liquido e gasoso. Para isto se dar é porque qualquer coisa acontece e faz com que as substâncias ao nível molecular alterem o seu estado físico. A minha matéria diz que está saturada. Muitas ocorrências têm processado oscilações no meu estado físico, oscilações que estão a ocorrer com alguma cadência e não só saturam como aborrecem imenso. E fazer o quê? Combate-se com afinco, sempre. No entretanto, vai descompondo o sistema molecular, por vezes para arrumá-las e por outras para simplesmente baralhar tudo e criar confusão. Idealmente, até nem deveria ser mau isto acontecer, quase como uma espécie de oxigenação celular, como acontece com a respiração e alguns exercícios que se fazem ou quando se bebe água, natural e saudável. O problema é quando se prolonga no tempo, cansa. É muito extenuante. E que tipo de coisas é que podem causar isto tudo? A convivência com pessoas negativas ou pessimistas, s

Somos o quê?

Estou baralhada com tantas terminologias, podemos ser heterossexuais, homossexuais, metrossexuais, intersexuais, bissexuais, transexuais, … e sei lá mais o quê. Desculpem-me as pessoas que passam por estes dramas, desconfio que não sejam nada fáceis de gerir.  Lê-se tanta coisa e todos os dias aparecem termos novos e situações de vida em que as pessoas não sabem o que são. Não se enquadram em grupo nenhum ou em nada do que a realidade pressupõe como normal, mas são normais obviamente, a diferença é uma características que nos compõe. Somos únicos, acima de tudo. As minhas células, são minhas e de mais ninguém. Partilho património genético com outras pessoas da minha família mas aquilo que tenho em mim é exclusivamente meu. Tudo o resto que acontece no mundo, está a confundir-me. Já nem parece bem não se ter nenhum desvio para se criar alguma terminologia mais personalizada. Volto a reforçar, isto não é uma critica, de um modo geral não preciso de enfiar as pessoas em rót

Morremos de pé.

Morremos de pé. Onde antes o verde dominava, sobrou pó e cinzas. A cor deu lugar ao preto e branco. Onde antes fomos felizes reina agora a tristeza e a melancolia. Não sobrou nada. Não ficou nada de pé. Uma a uma, todas a sombras e árvores de frutos morreram. Ali no sitio onde nos encostávamos para ouvir as árvores e os pássaros, corre agora um vento sujo e sem música. No cantinho onde sonhávamos debaixo do vento quente e do bom sol de verão, ficaram apenas as memórias. Resto eu, de olhos fechados a sentir o cheiro do pinhal. O cheiro da floresta e do mato. Os cheiros que os meus avós trilharam, os pinheiros que o meu avô sangrou, os caminhos que percorremos a pé. Uma herança genética que nos complementa e que nos pertence. O fogo não teve clemência de nada nem de ninguém. Seguiu encosta acima sem parar, colheu tudo o que apareceu à frente. Devorou e destrui tudo. Não deixou nada intacto. Semeou o medo e a tristeza na alma das pessoas. Os de lá e os de cá. Os

Temos a vida que escolhemos

Dizem que somos nós que escolhemos o que queremos viver na vida que temos. Ou que temos de viver o que temos de superar, e quanto a isso não temos qualquer escapatória. Em todo o caso, o que temos de viver conseguimos suportar. Não nos destacam para missões que não conseguimos comportar ou tolerar, e com isto concluo, que as pessoas com vidas difíceis, têm quase um estatuto de super heróis! Não só aguentam como ainda escolheram passar pelo que têm de viver, é dose! De qualquer modo, ninguém fica a salvo. O que difere são as missões que cada um tem, os desafios que tem de enfrentar. São pessoais e intransmissíveis. O difícil nisto tudo é perceber porque escolhemos sofrer, ou porque temos de sofrer. Sim, bem sei… o sofrimento faz parte da vida como a felicidade. E não estamos sempre em sofrimento ou sempre em euforia, vivemos entre um e outro, com picos em cada um deles. Só que temos a terrível tendência de “valorizar” a dor em detrimento da alegria. Achamos sempre que a d

Paciência

As pessoas com paciência salvam o mundo. Nem pode ser de outra maneira. Não é uma conclusão de hoje, é uma perceção que tem ganho forma. Nem sequer é um mantra ou conselho, é a realidade.  No mundo consumido por ansiedade e todo o tipo fármacos, a simples prática de “paciência” parece ser um desperdício. Aliás parece estar completamente em vias de extinção. O tempo passa a correr e os medicamentos fazem efeito rápido ao fim de pouco tempo, já a paciência exige uma boa dose de calma, disponibilidade e tempo, coisa escassa hoje em dia.  A vida corre a uma velocidade alucinante, um dia somos crianças noutro já somos adultos e parece que nem passamos pelos estágios intermédios. A sofreguidão é tanta que exigimos resultados no imediato, sem esperar que as coisas ganhem forma ou alguma segurança. Se não for já, não quero, se não tiver já o emprego, o carro, o namorado, a família, o livro, a resposta que preciso, mais vale passar à frente e esquecer. Parte-se para outra mas sempr

Coragem

Quiseste que se fizesse silêncio. Um silêncio forçado. Um novo interregno de dez ou mais anos. Quem está a contar?   Eu não, seguramente. Deixei de contar o tempo há muito tempo, passei apenas a deixar-me ir, como quem bóia no mar ao sabor da corrente e da ondulação. O que tiver de ser será. Sabemos disso.  Talvez o futuro seja mais generoso que o passado e possamos reajustar o que foi com o que é. Acreditar, que as suposições de hoje serão concretizações de amanhã e que nem toda distância do mundo nos irá conter.  Vou acreditar que seremos mais corajosos no futuro e que deixaremos a cobardia de antes e de agora bem longe das nossas intenções.  Vou aceitar que iremos cumprir os nossos desígnios com a grandiosidade que merecem. Vamos finalmente aceitar o inevitável de todas as improbabilidades e fintar o destino.  Hoje ainda não, manha ou depois...

Reflexões pós-férias

A todas as pessoas que prometem que fazem ou que vão fazer e no fim, nada concretizam, desejo-vos: um bom regresso ao vosso destino. Aqueles que vos lambuzam de elogios, que passam o tempo a enaltecer as vossas qualidades, que vos fazem sonhar de olhos abertos e que depois, do nada e sem aviso prévio desaparecem, desejo-vos: um bom regresso ao vosso destino. Aos que aguardam sempre pelos vossos conselhos, que não se conseguem decidir numa compra ou num caminho sem vos consultar, que esperam sempre pelas vossas palavras de apoio ou incentivo e que quando lhes calha a vez, ignoram-vos ou fingem ignorar, desejo-vos: um bom regresso ao vosso destino. Aos que sempre justificam más atitudes com comportamentos habituais: sempre fui assim ou sempre fiz assim, lembrem-se que antes de aprenderem a andar, também não sabiam fazê-lo. Aos traumatizados pelo amor e pelas mulheres sem escrúpulos que os deixaram estropiados, se continuarem nesse registo irão continuar amputados do melh

Perder a fé

E o que será isto? Perder a fé em nós? No mundo? Nas pessoas? Vamos por partes… Diz a etimologia que a palavra fé, tem origem no Grego "pistia" que indica a noção de acreditar e no Latim "fides" que remete para uma atitude de fidelidade. Vou ignorar a versão religiosa de fé em qualquer religião que seja, são demasiado assustadoras e castradoras. “A Fé é uma palavra que significa "confiança", "crença", "credibilidade". A fé é um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da proposição em causa. Ter fé implica uma atitude contrária à dúvida e está intimamente ligada à confiança. Em algumas situações, como problemas emocionais ou físicos, ter fé significa ter esperança de algo vai mudar de forma positiva, para melhor.” Ter esperança no melhor que há-de vir, parece-me perfeito. Logo tenho fé. Já a crença e credibilidade fazem com que a minha fé, que é gran

Sonho de uma noite de Verão e outras noites...

Na sequência de diálogos imaginários sucedem-se também os monólogos. A imaginação liga-se à corrente e solta-se sem rei nem roque, pelo mundo a fora. Suposições, conversas, confissões, actos de rebeldia, momentos originais. No fundo todos queremos ser especiais e que nos façam sentir especiais. Que nos apareçam à frente inusitadamente e sem aviso com um ramo de flores ou só com o desejo a sair pelos poros. Em qualquer uma das circunstâncias, que seja inesperado. E neste cenário, posso imaginar o que quiser e dizer o que me vier à cabeça, com nexo e sem ele, com linguagem aceitável ou sem qualquer sentido.  Posso imaginar cheiros e texturas ou como me irás aparecer à frente. Escolher-te a roupa ou esperar que venhas sem ela. E rio-me sozinha. E o enredo parece que se constrói por si só, na velocidade do meu pensamento, sem esforço. Situações do dia a dia, declarações, praia, luares, perco-me no cenário mesmo quando o importante é o conteúdo e não o contexto. Demoro-me

Ver com o coração

Espero na escuridão que chegues. Aguardo que me procures. Que sintas falta da minha presença no meio de todas as tuas ausências. Que queiras ouvir a minha voz. Que  a meio da madrugada me ligues só porque sim, porque não consegues dormir e queres falar comigo. Ou porque estavas a sonhar comigo e precisaste tornar o sonho real. Ou mesmo sem motivo, do nada só pelo desejo em fazê-lo.  E espero na escuridão, que os sons da noite se preencham com a tua voz ou com a tua presença. Aguardo em silêncio que a clarividência da verdade te chegue. Anseio pelo dia em que sintas o que tanto racionalizas, que te libertes de todos os medos e constrangimentos e concretizes. Calma e pacientemente aguardo que, despertes para o que tens em frente aos teus olhos e que deixes de ansiar por tudo aquilo que não sabes e que deixes de ignorar o óbvio.  O que fizeres hoje poderá trazer um amanhã melhor, sem precisares mudar de país, cidade ou planeta. Tudo está no sítio certo no momento exacto e nada

Já podemos fechar o ano?

Este ano, está a tornar-se muito estranho. Ainda não consegui encontrar o nome ou definição para as pessoas que estão, são ou ficam órfãs de avós. Só me resta uma avó, que lá se vai mantendo viva a esforço. Não se pode exigir muito mais quando se chega aos 93 anos numa situação débil. Mas ela é rija, feita de fibra das serras da beira baixa, com ela a máxima é: “antes morrer que torcer” e lá se vai mantendo. O problema é que eu tive a sorte de ter nascido e ter comigo os meus 4 avós. Sempre tive imensa pena das pessoas que me diziam: não conheci os meus avós ou só tenho uma avó ou um avô. Coitados, que infelicidade! As pessoas não sabem, como é normal… se nunca tiveram, como vão saber? Podem imaginar ou ouvir com entusiasmo as histórias dos que têm, mas não sentem como seu. Agora sinto que está a chegar o fim do fim…e é um misto de sensações entre: tristeza e gratidão. Eu fui uma privilegiada, bem sei. Primeiro morreu o pai da minha mãe, depois o pai do meu pai, este a

Perdão

Saber perdoar e pedir desculpa, é muito mais do que simplesmente pedir perdão e desculpa. Não é esperar que a ocorrência se dê para pedirmos perdão. Não é esperar sermos incorretos ou mal educados para pedirmos desculpa. Não é fazermos mal, e pedirmos perdão, na certeza que seremos desculpados. Não devemos gastar as palavras pela utilidade que têm. Devemos senti-las, cada vez que as aplicamos. Desculpa sim, com sentido, com sentimento com emoção. Com a responsabilidade de reconhecermos que errámos. Com o comprometimento de quem sabe que falhou. Não é dizê-lo da boca para fora. É um acto de coragem. É um acto de amor. É entregar, aceitar, compreender. Perdoa-me por não retribuir com a mesma entrega. Perdoa-me por não saber dar-me. Perdoa-me por silenciar o vulcão que vive dentro de mim. Perdoa-me por não saber dizer as coisas como elas são. Perdoa por não estar ai para te abraçar. Perdoa-me por não te beijar quando quero. Perdoa-me por ser bruta e in

Cinzas

Somos do sítio onde nascemos e de todos os outros que se entranham na alma.  Somos do sítio das origens dos nossos antepassados, somos de muitos trilhos e caminhos que definem a nossa génese. Somos do mundo, de Portugal e de algum pedaço de terra perdido no mapa.  Uma parte de mim vem também do pinhal que agora ardeu (e de todos os outros que arderam anteriormente) das montanhas e vales de Pedrogão Grande, das serras vizinhas, da cordilheira central, das curvas e caminhos de pó, da floresta densa e de todo um conjunto de cheiros que só a natureza daquele sítio tem.  Há coisas que só se sentem naquelas serras. Há coisas que só se vivem ali. Há um tempo fora do tempo, que pertence a esta floresta única. Cresci com os pinheiros, com os incêndios, com a chegada dos eucaliptos, com o calor de rachar no verão, com o frio de congelar no inverno, com amigos e histórias únicas vividas ali.   Tenho um amor imenso por estas terras: pela história da minha família que ali se enraiz

Exaustão

“Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.” ― Ferreira Gullar Pela falta de capacidade em gerir o cansaço físico e emocional, Pela incompatibilidade entre o que se diz e o que se sente, Pela demora a encontrar um caminho ou o caminho, Pelo desleixe dos outros, Pela falta de cuidado com o próximo, Pelas saudades insuperáveis, Pelas relações difíceis, Pelas relações sem interesse, Pelo desinteresse pelo amor, Pelas sucessivas mentiras, Pelo vento insuportável, Pela falta de brilho e interesse, Pela solidão forçada mas necessária, Pela falta de alegria, paixão e tesão, Pela rotina, Pela ausência de pessoas interessantes e com interesses, Pela ausência de beijos e abraços, Pelas mensagens com sentido, Pelo carinho apenas pelo carinho, Pelos sorrisos sinceros, Pelas chamadas pela madrugada, Pelo genuín

Caminho certo

Uma pessoa perde-se, e acha que está no caminho certo. Até que um dia, volta tudo atrás por instantes e percebe que não. Ser racional acabou com os teus sonhos? Não. Transformou-os. Foi pelo melhor, sim. Naquele contexto. E agora? Não podes continuar a fugir da verdade. Voltaste lá, não foi? Afinal esses sonhos, esse propósito maior ainda vive dentro de ti. Está ai dentro, em repouso absoluto, em anos de convalescença forçada. Tinha de ser, disseste. Tem de ser. Escolheste. Fizeste e seguiste o caminho racional. O caminho sem paixão, o caminho útil. Sem graça mas necessário. O melhor e mais certo. Para ti e para os outros. O convencional e aceitável. O seguro. Está feito. E agora? É conhecimento e experiência que não se perde. É mais um valor que tens. Mais um. E os outros valores do começo? Aqueles que vinham lá de longe? Aqueles que cresceram contigo e dentro de ti? Tiveste de ir ver e sentir o que é ter paixão por alguma coisa.  As coisas que só a arte s

Os homens são uma embalagem

Uma linda peça de louça Vista Alegre que apetece ter em casa. De valor. Mas em algum momento, por sorte rápido, o efeito máquina de lavar dá-se. O prato está cheio de rachas. Tem pouco brilho. É defeituoso, p'loamordossantinhos. Assim são eles. Aparentemente seguros, decididos, em controlo da onda, ponderados, com abraço protector, um sorriso meigo, uma narrativa extraordinária. O mito urbano. Não passam disso. Uma fachada. Trazem não só bagagem, mas toda uma autocaravana emocional, assente em fragilidade, imaturidade, falta de discernimento, e medos vários. Trazem esta encomenda toda com promoção 2 em 1 com todas demais vicissitudes da vida (exs, pais, filhos, carreiras, crises de meia idade – ou crises de uma idade qualquer que lhes assente bem) com as quais não têm capacidade alguma de lidar. Sempre em fuga. E arrogam-se a ser Vista Alegre edição limitada. Imprescindíveis ao sexo feminino que lhes cai aos pés que nem tordos incapazes de resistir a tamanho encanto.

Homens pendentes

Gostam de passear entre comboios. Fazer várias linhas. Querem parar numa estação.  Agrada-lhes a ideia de sair e fazer umas visita. Arriscar a descobrir e explorar uma zona nova.  Dar-se ao luxo do passeio e das surpresas que possam advir.  Mas assim que o comboio se aproxima da estação ficam imóveis, não se levantam, e o comboio volta a arrancar. A viagem não cessa mas não há maneira de esbaterem a inércia que os impede de saltar entre portas e correr em direcção ao risco. Gostam do suave embalar do pêndulo, ora mais ritmado e desafiante, ora mais espaçado e sem grande exigência. Mas mantém-se em andamento. Não abandonam os carris. Ouve-se o barulho a atravessar as cidades. Mas de quem lá vai dentro,  nem um fragmento de visibilidade. E chega o dia em que o comboio é encostado – renovaram-se as composições. Faz-se o balanço positivo e bem sucedido de todas as viagens que chegaram a bom porto, e o conforto de todas as pessoas que por lá passaram uma, duas vezes, a vida int

Uma casa vazia

Do lado de fora da porta, tudo igual. O mesmo tapete encostado no lancil da entrada, a porta maciça firme e sólida como sempre. Do outro lado um inexplicável vazio. Como é difícil entrar num dos espaços mais preenchidos da nossa memória, que agora se encontra vazio. São coisas, são objetos, a matéria, a pessoa que lá vivia não existe, por isso não faz sentido manter. Não nos pertence, nada do que ali está é nosso. É um ato de coragem, entrar. E entra-se. Entrei. Os espaços parecem incrivelmente mais pequenos, não devia ser o inverso? Ou é porque a alma mirrou no vazio? Ou é pelo eco das paredes? Não sei. Parece-me tudo muito mais pequeno, agora que o espaço está vazio, e antes atafulhado de tralha. Não sobrou nada, nem luz. Sobrou apenas o que não se conseguiu arrancar das paredes. Ainda se sente o cheiro da vida que ali vivemos, mas pouco. Nada daquilo faz sentido. Destemida e brava guerreira, é assim que eu acho que sou, mas não ali. Não naquelas circunstâncias. Caiu-me

Remar contra a corrente

Brincar com os sentimentos das pessoas, não é bonito e não se faz. É mais ou menos uma verdade universal, ou pelo menos, assim achei que seria. Sempre aconteceu e vá, uma vez por outra todos nós cometemos esta falha com alguém, uns sem intenção outros por puro egoísmo. Claro que sim, é normal. A imperfeição acompanha-nos como a perfeição, o que escolhemos fazer com elas é que nos distingue. Esta coisa da sociedade em que vivemos, que nos permite estar próximos e mais ligados do que nunca, parece que ao mesmo tempo nos torna descartáveis. Acabamos por estar ao mesmo nível da Telepizza (que presta um belíssimo serviço, entenda-se), onde escolhemos por catálogo: o que queremos comer, a junção perfeita de ingredientes, o contexto/ massa, o local de entrega, hora e como vamos pagar. É basicamente o que vai acontecendo com a interação humana.  Os relacionamentos de comprometimento ou empenho são coisas medievais ou mesmo jurássicas, e os dinossauros já saíram de cena há muit